Explanações de profissionais e pesquisadores renomados, difusão de conhecimentos e estratégias aplicáveis frente aos desafios do setor marcaram a 3ª edição do Fórum Brasil Sul de Bovinocultura de Corte, realizado na manhã desta terça-feira (5), no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes, em Chapecó (SC). O evento, promovido pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet), antecedeu o 13º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite (SBSBL).
NOVILHO PRECOCE
A primeira palestra do Fórum foi apresentada pela coordenadora estadual do Programa Novilho Precoce da CIDASC, Flávia Klein, e pelo professor associado na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Diego Cucco, que discutiram os parâmetros dos novilhos catarinenses.
Desde 1993, produtores rurais de novilhos e abatedouros frigoríficos do estado contam com o Programa Novilho Precoce, uma iniciativa pública de estímulo ao trabalho de melhoramento do rebanho bovino catarinense.
Entre os objetivos da iniciativa, Klein citou a intenção de viabilizar a pecuária por meio do aumento da produtividade, diminuir o déficit de carne bovina no estado, gerar renda ao produtor rural por meio do incentivo financeiro e melhorar a qualidade da carne através da redução da idade de abate, da tipificação das carcaças e do controle sanitário.
A coordenadora evidenciou que, em 2023, mais de 70 mil animais foram abatidos no programa, com a participação de 5.997 produtores cadastrados. No entanto, desses produtores, apenas 2.123 foram beneficiados por estarem efetivamente atendendo aos pré-requisitos do programa.
“No Oeste, cerca de 60 mil animais foram abatidos em 2023, resultando em quase 6 milhões de reais repassados aos produtores como incentivo. Essa região contribui com cerca de 30% do total do programa, um dado significativo, mas que ainda pode melhorar, considerando a sua capacidade produtiva”, avaliou, ao apresentar estatísticas regionais a fim de comparação.
Para compreender o perfil dos bovinos abatidos no programa, Cucco apresentou uma análise feita entre janeiro de 2020 e dezembro de 2022 com 514.574 animais, 3.103 UEPs (Unidades de Explorações Pecuárias) e 21 abatedouros frigoríficos. O levantamento mostrou que 41% dos animais abatidos eram novilhos superprecoces, 26% novilhos precoces e 31% não classificados. Quanto à classe sexual dos animais, nas três categorias prevaleceram os machos não castrados. “A idade média dos animais é bastante satisfatória, com destaque para a precocidade dos bovinos criados em Santa Catarina. A média de peso de abate também é superior, com tendência de aumento contínuo ao longo dos anos. No entanto, o acabamento de carcaça ainda pode ser melhorado”, expôs Diego.
Quanto à desclassificação dos animais, classificada em 30%, o professor explicou que as causas são a ausência de gordura e peso inadequado. “Embora o peso esteja melhorando, ainda é um critério significativo de desclassificação. Um dado relevante é que, em 2020, o peso era o principal motivo de desclassificação, mas a partir de 2022, a falta de gordura passou a liderar a lista”, apontou.
Com isso, a estimativa de perda de incentivo financeiro mostrou que o produtor deixou de receber aproximadamente oito milhões de reais com essa desclassificação. “Não é uma perda, mas é um incentivo que o produtor deixou de receber. Esses dados têm como objetivo mostrar a evolução e os gargalos da política pública para que continue evoluindo a fim de beneficiar a cadeia produtiva”, concluiu Cucco ao indicar que há espaço para expandir a adesão e a eficiência do programa no estado.
CONSORCIAÇÃO FORRAGEIRA
A qualidade da forragem impacta diretamente o desempenho dos animais, refletindo no ganho de peso vivo diário. Nesse sentido, a consorciação, ou combinação, de gramíneas com leguminosas é uma prática estratégica em pastagens tropicais, para proporcionar uma oferta de forragem distribuída ao longo do ano. O uso de consorciações forrageiras para alimentação de bovinos de corte foi o tema da explanação do Ph.D. em Agronomia e pesquisador da Embrapa Trigo, Renato Serena Fontaneli, na segunda palestra do Fórum.
Inicialmente, Fontaneli revelou que essa diversidade permite que espécies com diferentes picos de crescimento maximizem a produção em estações específicas. Além disso, para ele, o cultivo simultâneo de duas ou mais espécies na mesma área, na mesma safra agrícola (ou ano), podem melhorar a proteção do solo, preservar flora, fauna e biota do solo, reduzir a presença de plantas invasoras e melhorar a distribuição estacional de forragem. Além disso, a prática pode apresentar potencial para melhorar o valor nutritivo para alimentação animal, o consumo e os ganhos de produto animal comercializável.
O pesquisador evidenciou que a temperatura, a disponibilidade de água, a fertilidade do solo e a quantidade de radiação solar são os fatores mais importantes para determinar a quantidade e o valor nutritivo da forragem produzida. “As espécies diferem quanto à reação à temperatura durante as estações do ano. Forrageiras de estação fria têm o pico de produção no inverno e na primavera, enquanto forrageiras de estação quente apresentam maior produtividade durante os meses mais quentes. Em resumo, combinando espécies podemos ter pasto o ano todo”.
Fontaneli reforçou que o uso extensivo de espécies de estação fria é uma estratégia para melhorar a lucratividade da agropecuária e garantir a sustentabilidade agroecológica. “Essas forrageiras, complementares às espécies de verão, produzem uma forragem de alta qualidade e se integram ao ecossistema natural do sul do Brasil, onde predominam campos nativos”, explicou.
Nesse sentido, citou que, nos últimos 30 anos, práticas como a inclusão do trigo para pastagem se consolidaram, diversificando os usos desse cereal. Também apontou o potencial produtivo de Capins, como o Capim elefante e o Capiaçu, para silagem.
Enfatizou, por fim, os princípios gerais na elaboração de misturas ou consorciações. “Primeiro, toda mistura deve conter pelo menos uma espécie de gramínea e uma de leguminosa, mas no máximo quatro espécies. Segundo, a mistura deve ser adaptada à utilização pretendida e ao ciclo”, finalizou o pesquisador.
GESTÃO NUTRICIONAL E EFICIÊNCIA
O encerramento do 3º Fórum Brasil Sul de Bovinocultura de Corte ocorreu com a palestra “Gestão nutricional para maior eficiência produtiva de vacas de corte”, com o pós-doutor em Zootecnia e coordenador do Núcleo de Estudos em Pecuária de Corte da UFLA, Mateus Pies Gionbelli.
Ele enfatizou que a Universidade Federal de Lavras, em colaboração com outras instituições de pesquisa, empresas e fazendas do setor pecuário, tem estudado a fundo a fisiologia e o metabolismo de vacas de corte, com o objetivo de entender como elas reagem ao ambiente e como isso reflete no sistema de produção. “Nosso objetivo é compreender tanto o funcionamento da vaca quanto o desenvolvimento dos bezerros que ela produz, avaliando como esses bezerros expressarão seu potencial genético e o quão produtivos serão ao longo de suas vidas”, explicou.
A partir dessas pesquisas, Gionbelli explicou que compreenderam mais sobre a fisiologia e o metabolismo dos animais, que variam significativamente ao longo do ciclo produtivo, seja durante a gestação, a lactação ou em diferentes estágios de ambas. “Essas variações impactam a demanda por nutrientes e a capacidade de absorção, o que nos levou ao conceito de gestão nutricional, que integra o conhecimento fisiológico com dados de campo para que seja possível planejar e organizar melhor o sistema de produção, visando maior eficiência”, sublinhou o pesquisador.
Argumentou que cenários fisiológicos e metabólicos são diferentes entre as diversas fases do ciclo produtivo de uma vaca de corte. No terço médio da gestação, citou como características a alta capacidade de consumo, a baixa exigência nutricional e a alta sensibilidade à programação fetal. Já no terço final da gestação, o consumo é ~44% menor do que no terço médio, a exigência é alta e há mobilização do músculo da carcaça. Na lactação, Gionbelli relatou uma alta capacidade de consumo, uma alta exigência nutricional, e que 60% a 85% da energia usada pela glândula mamária vem de AGV e gordura (dieta ou mobilizada).
Abordou ainda o período após a desmama, fundamental do ciclo de produção para vacas que geram um bezerro por ano. “Nesta fase, que ocorre em grande parte dos sistemas de gado de corte, enfrentamos uma época de escassez e baixa qualidade de alimentos, ao mesmo tempo em que a vaca apresenta menor exigência nutricional. O pós-desmama oferece a melhor oportunidade para recuperar o escore corporal das vacas, pois elas apresentam maior potencial de captação de nutrientes, embora o pasto, geralmente, seja de baixa qualidade. Esse cenário reforça a necessidade de uma gestão nutricional planejada, garantindo que recursos alimentares estejam disponíveis para explorar o potencial fisiológico das vacas neste momento crucial do ciclo”, finalizou.