Demanda pela proteína bovina aumentou no mercado chinês na pandemia, o que tem dado sustentação às cotações
O preço da carne bovina subiu 6,6% no mercado chinês entre julho de 2020 e julho deste ano, desempenho que mostra que as cotações do produto e as da carne suína se “descolaram” no país. Nesse mesmo intervalo, a carne suína desvalorizou-se 54% no atacado.
Segundo Chenjun Pan, analista sênior de proteína animal do Rabobank na China, os preços da carne bovina ficaram mais “independentes” na pandemia da covid-19. O consumo do produto nos lares aumentou, o que ampliou suas vendas no varejo, afirma a analista no relatório “A New Era in China’s Beef Market”.
Até o início da crise sanitária, de 65% a 75% do consumo de carne bovina no mercado chinês ocorria em estabelecimentos comerciais ou hotéis, mas essa proporção vem diminuindo, diz a analista. Uma evidência, argumenta, é o fato de que os volumes comercializados no atacado não voltaram aos níveis pré-pandemia, mesmo com a China já tendo superado o pior momento da pandemia.
“Com o rápido avanço do e-commerce – devido, em parte, às restrições adotadas para conter a disseminação da doença -, os consumidores começaram a tentar cozinhar em casa. Isso resultou em um declínio nas vendas no atacado em 2020”, afirma ela. “Estimamos que, entre os modernos canais de varejo, o e-commerce já é mais importante que as vendas de carne bovina em supermercados”.
Wagner Yanaguizawa, analista de proteína animal do Rabobank Brasil, diz que o aumento da demanda por carne bovina nos últimos anos é um reflexo, também, da ascensão das classes A e B na China – o país respondeu por 25% do comércio global da proteína no ano passado. Esse fenômeno elevou o consumo de cortes e produtos premium.
“Hoje, a carne bovina representa 8,5% do consumo de proteínas animais no país, e a expectativa é que a fatia chegue a 9,7% até 2025, o que representa um incremento de 800 mil toneladas”, diz. Segundo Yanaguizawa, restrições ligadas à sustentabilidade impedem que China amplie sua produção em ritmo que seja suficiente para atender essa demanda adicional.
Para ele, o cenário é bastante positivo para Brasil, Argentina e Uruguai, países que produzem, juntos, 74% de toda a carne bovina que a China compra. Yanaguizawa acredita que, além de manterem o mercado que já têm, os produtores brasileiros podem avançar em segmentos premium. Para isso, o país precisa trabalhar para reduzir o tempo médio de abate de bovinos, que está acima do desejado pelos chineses.
Outro suporte aos preços da carne bovina na China, segundo o analista, é a menor “triangulação por Hong Kong”. As vendas ao mercado chinês ocorrem tanto de maneira direta quanto indireta, passando antes pelo território autônomo e, depois, ingressando na China por via terrestre. “Com a peste suína africana e a covid-19, a China aumentou o rigor na fiscalização. Isso desestimulou a triangulação e fortaleceu a demanda pelos canais oficiais”, diz.