Um foco cada vez maior na sustentabilidade é necessário nas importações de alimentos da China, disseram os pesquisadores, porque o aumento dos padrões de vida do país levará a um aumento na demanda por produtos de origem animal
Estudo da revista Nature Sustainability afirma que a demanda da China por produtos pecuários aumentará significativamente, o que por sua vez levará ao uso de mais pastagens e, por decorrência, ao aumento das emissões de carbono.
Com a previsão de crescimento das importações de alimentos da China, grande parte desse crescimento na necessidade de pastagens ocorrerá fora do país, de modo que a sustentabilidade terá que ser o foco das políticas de importação de alimentos de Pequim, indicaram os pesquisadores.
O cenário em torno das importações de alimentos foi delineado em um artigo intitulado “A demanda futura de alimentos da China e suas implicações para o comércio e o meio ambiente”, com coautoria de Hao Zhao, pesquisador da Universidade da Academia Chinesa de Ciências.
“A distribuição dos impactos ambientais entre a China e o resto do mundo dependeria substancialmente do desenvolvimento da abertura comercial”, escreveram os pesquisadores em relação às importações de alimentos do país.
“Assim, para limitar os impactos ambientais negativos de seu crescente consumo de alimentos, além das políticas domésticas, a China precisa também assumir a responsabilidade no desenvolvimento de um comércio internacional sustentável.”
Como em muitos países que estão experimentando um rápido crescimento econômico, a China prevê um aumento na demanda por produtos de origem animal, principalmente carne e laticínios, e parte disso provavelmente será suprida pela importação de alimentos.
Espera-se que haja entre 16% e 30% de crescimento na demanda até 2050, o que aumentará a necessidade de pastagens entre três e 12 milhões de hectares na China.
Como resultado, as emissões de gases de efeito estufa agrícolas da China provavelmente aumentarão, com os pesquisadores prevendo que a variação percentual provavelmente ficará entre menos dois por cento e mais 16 por cento.
Mas o fortalecimento da demanda chinesa por produtos de origem animal será sentido principalmente, em termos de pastagens extras necessárias, fora do país, por causa do crescimento das importações de alimentos.
Para atender a essa demanda de importação de alimentos, os pesquisadores sugerem que 90 a 175 milhões de hectares adicionais de pastagens fora da China serão necessários até meados do século.
Isso, por sua vez, resultará em entre 88 e 226 toneladas métricas de dióxido de carbono equivalente por ano “virtualmente importado” para a China.
O consumo de carne e laticínios e sua relação com a produção de gases de efeito estufa tem se tornado cada vez mais importante, especialmente nos países europeus, em meio aos esforços para alcançar a neutralidade de carbono para limitar o aumento da temperatura global.
De acordo com um estudo do Boston Consulting Group, o consumo de produtos de origem animal na Europa e na América do Norte atingirá o pico em 2035.
O relatório apurou que em 2020 as vendas totais de proteínas baseadas em células animais, plantas ou microrganismos – conhecidas como proteínas alternativas, foram de cerca de 13 milhões de toneladas. Eles foram descritos como mais ecologicamente corretos do que a carne produzida tradicionalmente.
Embora o total do ano passado seja apenas cerca de um quinquagésimo da quantidade de carne vendida, as vendas devem aumentar sete vezes, para 97 milhões de toneladas em 2035.
No entanto, a taxa de crescimento será fortemente influenciada pela forma como a tecnologia se desenvolve, e as previsões recentes são de que isso está avançando rapidamente.
Em um recente fórum transmitido ao vivo em Dubai (Green ICT for Green Development), Tommy Stadlen, cofundador da Giant Ventures, uma empresa que apoia start-ups de tecnologia, disse que as alternativas de carne de origem não animal estão “cada vez mais difíceis de diferenciar da carne real”.
Ele descreveu que os esforços crescentes para cultivar carne real em laboratório são “ainda mais ambiciosos”, e observou que os custos estão caindo rapidamente e continuarão caindo.
Especificou que o custo de um hambúrguer cultivado em laboratório chegava, anos atrás, a milhares de dólares e, hoje, custa perto de US$ 11 (pouco mais de R$61,00).
“Muito em breve [a carne artificial] terá um custo competitivo com a carne produzida nas fazendas”, afirma Stadlen, acrescentando que, em última instância, isso pode tornar a carne tradicional um “deleite raro” para os consumidores.