Ainda que aumento da oferta abra espaço para queda de preços no país, perspectiva de mesa farta esbarra em renda baixa e desemprego alto
Um dos desdobramentos do embargo chinês à carne bovina brasileira poderá ser a redução dos preços da proteína no mercado interno justamente nas festas de fim de ano, quando o consumo tende a aumentar. Mas, se por um lado a queda poderia ser considerada um “presente de Natal” aos consumidores brasileiros, por outro, ela não significa, necessariamente, mesa mais farta em dezembro, já que, afinal, o desemprego está alto e o poder aquisitivo das famílias, em baixa.
Após mais de dois meses de embargo chinês à carne brasileira, os estoques dos frigoríficos já passam de 100 mil toneladas, de acordo com a Safras & Mercado. “Se esse produto for liberado no mercado interno, a tendência é que os preços da carne bovina caiam e puxem com eles os das proteínas suína e de frango”, diz Fernando Iglesias, analista de mercado da consultoria.
Segundo ele, do ponto de vista da indústria, o mais inteligente seria liberar os estoques no último bimestre, quando, por causa do pagamento do 13º salário, a demanda sobe. Caso os frigoríficos segurem os estoques por mais tempo e a China continue fora das compras, ofertar o produto no primeiro bimestre poderia derrubar as cotações.
O preço da arroba do boi chegou a cair de maneira significativa no intervalo entre 3 de setembro (véspera do início do embargo da China à carne brasileira) e 3 de novembro, passando de R$ 305,50 a R$ 258, segundo a Scot Consultoria. Mas, desde então, voltou a subir, chegando na quinta-feira passada (11/11) a R$ 287,50.
Iglesias lembra que as vendas são geralmente mais fracas no início do ano, época em que a população está descapitalizada, seja em virtude dos gastos do fim do ano anterior, seja por causa das despesas com impostos e compra de material escolar. “A China é o diferencial da balança, e nós temos que acompanhar. Enquanto não voltar, o cenário indica alguma queda nos preços”, frisa.
Por ora, no entanto, os preços das três proteínas seguem altos e proibitivos para uma boa parte da população brasileira, de acordo com o analista. Levantamento da Safras & Mercado com base no atacado paulista mostra que, em relação a novembro do ano passado, as cotações das carnes não subiram muito, mas já haviam superado os níveis de 2019, antes da pandemia. “De forma geral, este ano já tem sido bastante complicado para o consumidor brasileiro”, diz.
Os cortes do traseiro bovino, onde estão o filé mignon e a picanha, por exemplo, chegaram neste mês a R$ 20,90, em média, 27,3% acima dos patamares de novembro de 2019. As carnes do dianteiro, como acém e peito, avançaram 25% nos últimos 24 meses, a R$ 13,60 por quilo.
Os dados apurados pela Scot Consultoria no atacado paulista mostram que, nos primeiros dez dias deste mês, só as cotações dos cortes dianteiros diminuíram. Tanto os cortes traseiros quanto a média geral estavam mais altos na última quarta-feira do que no primeiro dia de novembro.
O comparativo de 24 meses feito pela Safras & Mercado mostra forte aumento também das proteínas de frango e suína no atacado. O preço do frango resfriado saltou 65,6% nesse período, chegando a R$ 8 por quilo neste mês, e a carcaça suína subiu 15,4%, para R$ 9,54 por quilo.