Os pecuaristas brasileiros terão que investir até R$ 250 bilhões para reformar pouco mais de 100 milhões de hectares de pastos com alguma degradação, conforme cálculos da Scot Consultoria em estudo encomendado pelo WWF, pela Tropical Forest Alliance (TFA) e pela fundação Solidariedad. Os aportes são considerados fundamentais para elevar os ganhos na atividade e reduzir os impactos ambientais, o que tende a garantir o acesso a mercados já importantes, como a China, entre outros.
Apesar da cifra bilionária, o investimento, mesmo com uso de alta tecnologia, ainda é menor que o necessário para desmatar para criar gado. Um investimento de reforma de pasto com aplicação de alta tecnologia custa, em média, R$ 2.982,18 por hectare, conforme o estudo. Já o custo de desmatar – que inclui maquinário, retirada de tocos de madeira do solo, limpeza e semeadura de pasto – é de no mínimo R$ 3 mil por hectare, calcula Rafael Lima, analista da Scot.
No estudo, a consultoria projetou três cenários de conversão de pastagens, com base em dados do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig), da Universidade Federal de Goiás (UFG), e no custo de reforma com diferentes níveis de tecnologia. Os cenários combinaram investimentos mínimos nos pastos, de R$ 721 por hectare, com outros mais intensos.
Cenários
No cenário mais agressivo de conversão de pastagens, com reformas usuais de pastos que estão leve a moderadamente degradados e reformas com alta tecnologia nas pastagens severamente degradadas, os desembolsos seriam de quase R$ 246 bilhões. Em um cenário intermediário, com investimentos graduais conforme o nível de degradação, o valor seria de R$ 209 bilhões. E, em um cenário mais conservador, com investimentos mínimos em pastos leve a moderadamente degradados e reformas usuais nos mais degradados, o valor ficaria em R$ 127 bilhões.
Se esses investimentos ocorressem ao longo de uma década, seriam necessários de cinco a dez vezes mais recursos que os disponíveis no Plano ABC neste Plano Safra (R$ 5 bilhões), observou o estudo. Porém, eles já ofereceriam ganhos mais robustos aos pecuaristas. Segundo a Scot, a rentabilidade de uma fazenda com emprego de alta tecnologia é de 3,8%, em média, enquanto a rentabilidade de uma com baixa tecnologia é de 0,6%.
Os aportes são necessários para evitar que a expansão da atividade continue pressionando florestas. Com os investimentos, 104,5 milhões de hectares de pastos com algum grau de degradação (segundo os dados do Lapig de 2020) seriam recuperados e alcançariam o perfil dos demais 77,9 milhões de hectares de pastos em boas condições.
A recuperação de pastagens poderia liberar entre 22,3 milhões e 67,7 milhões de hectares de terras, entre os cenários mais conservador e agressivo de investimentos. Ela permitiria, ainda, que o rebanho brasileiro crescesse de 14% a 59%, alcançando de 179 milhões a 250 milhões de cabeças. O estudo adota como premissa a conta do Lapig de que havia 156,9 milhões de unidades de animais em 2020.
O estudo indica que os pecuaristas precisarão investir também na rastreabilidade do rebanho para garantir a adequação da atividade às leis ambientais. Isso demandaria aportes de R$ 1,1 bilhão, segundo a Scot.
O estudo reforça que, mesmo com um cenário de demanda chinesa crescente na próxima década – a projeção é que as importações de carne bovina da China cresçam 32,8% entre 2020 e 2030 – e o país deve aumentar as exigências ambientais dos produtos que compra. A Scot lembra que a China tem mais de 700 fundos “verdes” com “trilhões de dólares” que poderiam ser acessados pelos produtores brasileiros.