Setor de carne bovina paranaense ganhou novas perspectivas com selo de área livre de febre aftosa, sem vacinação
Depois de estruturar as cadeias produtivas de frango e suíno, com um bem sucedido modelo de integração, o setor cooperativista mira agora na produção de carne bovina, onde pretende repetir o mesmo sistema. Neste caso, o objetivo não é buscar grandes volumes, mas focar em qualidade e na integração entre lavoura e pecuária.
A estratégia integra o Plano Paraná Cooperativo (PRC200), um projeto audacioso, recém lançado, que visa dobrar o faturamento das cooperativas do estado, passando dos atuais R$ 100 bilhões para R$ 200 bilhões até 2029. São várias ações em diversas frentes que envolvem aumento da produção e da industrialização, infraestrutura, logística, planos regionais de desenvolvimento, e integração entre cooperativas e ramos cooperados.
Na área de produção, a aposta na pecuária de corte se justifica. “Já somos fortes em frangos, suínos, pescados e lácteos, mas na carne bovina ainda precisamos avançar”, diz Robson Mafioletti, superintendente da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), que conduz o plano.
O recente reconhecimento do Paraná como área livre de febre aftosa sem vacinação é um incentivo a mais para apostar no segmento, já que o novo status sanitário tira qualquer barreira que ainda havia para a carne brasileira no mercado mundial.
Cocamar foi pioneira na integração lavoura/pecuária
O cooperativismo paranaense já tem exemplos pontuais de produção de carne bovina com excelência e a intenção é disseminar as boas práticas. A tradicional Cocamar, de Maringá, uma das cooperativas mais antigas do Paraná, foi pioneira na integração lavoura/pecuária. Começou em 1997, em parceria com a Embrapa e o Iapar, buscando melhorar as pastagens e o solo da região, na época bastante degradados.
O plantio intercalado de soja e braquiária (usada como pasto e cobertura do solo) melhorou a produtividade. “No mesmo espaço onde antes era mantido apenas um animal, hoje podem ser colocados de 5 a 7 porque há pasto disponível e de melhor qualidade”, conta Luiz Lourenço, presidente do Conselho de Administração da Cocamar e pioneiro na integração lavoura/pecuária.
A produção é maior, a engorda é mais rápida e o abate precoce garante uma carne de melhor qualidade. “O faturamento passou de R$ 1 mil para R$ 20 mil por hectare/ano”, comemora Lourenço. Como a Cocamar não tem frigorífico próprio, o abate é feito numa indústria de carnes da região de Curitiba, por meio de parceira.
A Cooperaliança, de Guarapuava, também faz a integração lavoura/pecuária. “Nossos cooperados são agricultores e fazem a integração. As duas atividades se complementam muito bem”, observa o presidente Edio Sander. Ele diz que tenta repetir na pecuária de corte o bem sucedido modelo que o Paraná tem no setor de suínos e aves.
“O que diferencia uma realidade da outra é a organização”, opina Sander. “Enquanto as cadeias do suíno e frango são integradas e com protocolos de produção, na pecuária de corte prevalece o individualismo”, pontua, acrescentando que o pecuarista não tem a cultura do associativismo. Reverter esse quadro é o desafio.
Fundada em 2007, a Cooperaliança tem 85 produtores integrados no projeto bovino de corte. A produção atual é de 7.500 toneladas de carne por ano e deve crescer para 9.500 a partir de 2022. O foco é um produto final diferenciado. 85% da produção são classificados como carne angus, considerada de qualidade superior.
“A qualidade começa pela genética, seguida do manejo alimentar e sanitário”, diz Sander. Até pouco tempo, a Cooperaliança usava um frigorífico terceirizado para o abate. Desde março desse ano, já tem estrutura própria, com capacidade para 25 mil toneladas/ano e inspeção federal. O anterior contava apenas com a inspeção estadual, o que limitava a venda dentro do Paraná.
“Hoje podemos vender para todo o Brasil e o Mercosul”, diz. O frigorífico já foi estruturado para realizar o abate halal, que segue as regras do islamismo e o próximo passo é buscar a habilitação para exportar para o mercado árabe.
Em Campo Mourão, a Cooperativa Maria Macia, fundada em 2008, produz 6.300 toneladas de carne por ano. A produção segue rígido controle de sanidade, nutrição e padrão genético. O resultado é um produto final classificado como premium. Uma parte da produção é comercializada em carcaça e outra parte já embalada a vácuo.
O nome da cooperativa é também a marca do produto, hoje presente em 180 pontos entre restaurantes, açougues, boutiques e supermercados em Curitiba, Maringá, Cascavel e Foz do Iguaçu e mais 60 munícipios do estado, além de 15 municípios do estado de São Paulo, como Presidente Prudente, Araçatuba e São José do Rio Preto. Por enquanto, a cooperativa atua apenas no mercado interno, mas pode expandir para o exterior.
Para o diretor da Maria Macia, Paulo Emílio Prohmann, a pecuária de corte é uma atividade promissora no Paraná, não pela quantidade, mas pela qualidade. “O estado é caracterizado por áreas menores em comparação à pecuária do Centro-Oeste e Norte do país, mas a base agrícola paranaense é forte e os pecuaristas são mais tecnificados”, diz.