Sob aversão ao risco, trigo encerrou em baixa de mais de 4%; soja e milho também caíram
Nesta terça-feira, 30 de novembro, a aversão ao risco acentuou o movimento de liquidação de posições na bolsa de Chicago, habitual nos últimos dias de cada mês. O trigo, que na semana passada alcançou sua maior cotação em nove anos, liderou as quedas na sessão.
O balanço global de trigo na safra 2021/22 — que, em meados deste ano, acreditava-se que seria um dos mais confortáveis das últimas temporadas — transformou-se em um dos mais apertados da década. Intempéries nas lavouras, principalmente no Hemisfério Norte, mudaram o cenário. Ao mesmo tempo, diz o Itaú BBA, a demanda seguiu crescendo — em parte, como reflexo da estratégia dos principais importadores de aumento de seus estoques e, em parte, pelo uso do cereal em substituição ao milho na composição das rações animais.
A soja também encerrou o dia em queda em Chicago. O contrato para janeiro, o mais negociado atualmente, caiu 1,95% (24,25 centavos de dólar), a US$ 12,1725 o bushel, e a segunda posição, para março, desvalorizou-se 2,04% (25,50 centavo de dólar), a US$ 12,2650 por bushel. A queda de mais de 5% nos papéis do óleo de soja exerceu pressão adicional sobre as cotações do grão.
Diante da aversão ao risco e com poucas novidades nos fundamentos para limitar as perdas, a soja passou por forte liquidação. Nem mesmo o anúncio do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) da venda de 132 mil toneladas da oleaginosa para destinos não-revelados foi capaz de conter o declínio.
“Parece que, sem dúvida, a incerteza em torno da disseminação da ômicron foi o catalisador inicial. Quando isso se combinou com o volume de férias e com a liquidação de fim de mês, acabou ocorrendo uma mistura tóxica para o mercado de alta. Como se costuma dizer, na dúvida, saia”, disse o analista Dan Hueber, em relatório.
Um ponto de atenção do mercado da soja tem relação com o La Niña e seus efeitos para a produção global. Segundo avaliação da Organização Mundial de Meteorologia (OMM), o fenômeno climático será de fraco a moderado entre dezembro deste ano e fevereiro de 2022, mais do que o evento de 2020/21, mas ainda assim ele pode afetar setores sensíveis ao clima, como a agricultura.
No Brasil, maior produtor do mundo, as exportações de soja deverão chegar a 2,29 milhões de toneladas em novembro, segundo dados pela Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec), baseados nas programações dos portos. Caso se confirme, o volume será 197% maior que o de novembro de 2020, quando as exportações somaram 770,3 mil toneladas.
O milho acompanhou o fraco desempenho de trigo e soja e também caiu na sessão. O contrato para março, o mais líquido, recuou 2,53% (14,75 centavos de dólar), para US$ 5,6750 o bushel.
Em um pregão pautado pela aversão ao risco, o petróleo e outras commodities, ativos considerados de maior risco, despencaram nas bolsas. De acordo com o analista Doug Bergman, da RCM Alternatives, desde segunda-feira é possível notar que os fundos de investimento estão vendendo suas posições, reduzindo assim sua aposta na alta do cereal.
Outro fator que pressionou o milho é a dúvida do mercado sobre como serão os novos mandatos de biocombustíveis nos Estados Unidos. Havia expectativa de que Agência de Proteção Ambiental do país (EPA, na sigla em inglês) apresentasse alguma sinalização, o que ainda não ocorreu.
No Brasil, as exportações de milho deverão somar 2,89 milhões de toneladas em novembro, de acordo com a Anec. A estimativa representa uma queda de 41,4% em relação ao mesmo período de 2020, quando as vendas ao exterior somaram 4,94 milhões de toneladas.