Para as empresas brasileiras de proteínas, o acirramento das tensões entre a Ucrânia e a Rússia tende a ter um peso maior sobre a BRF do que na JBS, por exemplo, segundo avaliação interna do ItaúBBA. Para o banco, a crise no Leste Europeu tem maior potencial negativo para a dona da Sadia dados os efeitos sobre seus custos de produção e sobre as exportações de carne de frango.
Em linha com outras previsões, o ItaúBBA prevê que a crise deve elevar os preços de milho e trigo, já que Ucrânia e Rússia respondem, juntas, por 18% das exportações de milho e por 28% das de trigo.
Embora o Brasil seja exportador líquido de milho, a oferta doméstica vem diminuindo em relação ao consumo por causa do avanço das usinas de etanol feito com o grão. Qualquer problema na oferta de milho da Ucrânia, que respondeu por 35% das importações da China em 2021, pode aumentar ainda mais a demanda pelo cereal brasileiro, desencadeando novas altas dos preços.
Aumento dos custos
Para o ItaúBBA, um aperto na oferta global de milho pode gerar pressão sobre a estrutura de custos da BRF no curto prazo. Nas contas do banco, para cada 10% de alta nos preços do milho, o custo unitário de produção da companhia tende a subir 2%. O efeito ofuscaria um potencial benefício gerado pela crise na Ucrânia, que seria a alta na demanda por frango brasileiro.
A Ucrânia é exportadora líquida de carne de frango desde 2013 e a Rússia, desde 2021. Embora os volumes sejam pequenos, os embarques ucranianos representaram 10% das importações da Arábia Saudita no ano passado. Logo, problemas na região podem direcionar essa demanda ao Brasil.
A BRF está posicionada para atender a essa demanda e se beneficiaria de uma alta dos preços do produto, avalia o banco. Porém, o benefício estaria mais ligado ao Oriente Médio. Os efeitos sobre a BRF, claro, respingariam na Marfrig, que hoje tem 33% de participação na companhia. No mais, na visão do ItaúBBA, a crise na Ucrânia não teria maiores impactos na Marfrig, já que menos de 2% de suas receitas vêm da região e a maior parte de suas operações é nos EUA.
No caso da JBS, o banco acredita que a companhia também enfrentaria pressão generalizada e “significativa” sobre os custos das controladas Pilgrim’s Pride, US Pork e Seara, mas que poderia ser compensada por preços mais altos do frango.
O ItaúBBA lembra que a JBS pode se beneficiar de um ambiente mais favorável ao consumo nos EUA e que os negócios de carne bovina naquele país e no Brasil tendem a ser menos afetados por novas altas dos grãos.
Quem também pode sofrer impactos limitados é a Minerva, que tem só 6% de suas receitas relacionadas à região da comunidade dos Estados independentes. O banco diz que a demanda por carne bovina no mundo segue em alta e que a companhia conseguiria redirecionar vendas a outros mercados se houver problemas no Leste Europeu.