A guerra da Rússia contra a Ucrânia chama a atenção para novos obstáculos que estão por vir dos mercados internacionais de carnes brasileiras.
“A guerra se conecta com a situação da transição da pandemia”, afirma Leandro Feijó, diretor do Departamento de Temas Técnicos, Sanitários e Fitossanitários do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Para ele, os desafios gerados pela guerra passam a ser um desses fatores.
“Nesse cenário atual, tudo que não pode haver nessas relações comerciais é a falta de previsibilidade e tranquilidade”, afirma, mas enfatiza que o momento não é para pânico, porque o tempo de duração da guerra é que será determinante para avaliar a gravidade dos impactos nos mercados internacionais de carnes brasileiras.
“A falta dos fertilizantes, que é a grande preocupação do Brasil hoje, com relação à Rússia, afeta diretamente esses mercados de carnes, porque os fertilizantes são insumos utilizados na produção de ingredientes da ração desses animais, especialmente de aves e suínos”, esclarece.
O diretor de Mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Luís Rua, também reconhece eventuais turbulências nas negociações de carnes brasileiras com mercados internacionais, por causa do ambiente hostil gerado pela guerra, mas enxerga o outro lado da moeda. Segundo Rua, ainda que a Rússia e a Ucrânia sejam compradores de carnes do Brasil, e que nesse momento nosso país esteja em desvantagem pelas sanções econômicas à Rússia, não dá para ignorar que tanto a Rússia quanto a Ucrânia são competidores diretos do Brasil.
“A Ucrânia, por exemplo, é uma grande exportadora de carnes de aves para a Arábia Saudita, União Europeia e países do Golfo, mas temos relações sólidas com esses países, portanto há expectativa de que possamos suprir ainda mais esses mercados, conforme o tempo de duração da guerra”, avalia.
Luís Rua informa que 2,5% do total de carnes de aves exportados pelo Brasil em 2021, o equivalente a pouco mais de 100 mil toneladas, foram importadas somente pela Rússia, mas acredita que o fechamento dos portos na Ucrânia e as dificuldades logísticas da Rússia vão contribuir para aumentar a demanda pelo produto brasileiro na Arábia Saudita, União Europeia e países do Golfo.
A saúde animal tem sido um pilar importante para a sustentabilidade de diversos setores, desde agropecuária até o mercado pet. Não à toa, o segmento de saúde animal registrou um crescimento de cerca de 18% em 2021, em comparação ao ano anterior, de acordo com dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan). A pandemia aumentou a demanda externa por proteína, que aqueceu o setor enquanto a crise econômica e a alta nos preços afetavam o Brasil e direcionavam o consumo interno para tipos mais variados de carnes.
Estimativas anteriores previam uma média de alta de apenas 8,4%. O Sindan aponta alguns aspectos que contribuíram para esse aumento expressivo. Entre os principais estão a alta das exportações, principalmente em carne bovina e suínos, crescimento na demanda por proteína, melhora na produtividade do setor agropecuário, aumento no número de adoção de pets e relações mais próximas entre os animais de companhia e os tutores, o que intensificou o cuidado.
“Quase todos os importadores da carne do Brasil aumentaram suas demandas. Somando isso a uma busca maior por eficiência na produção agropecuária e um movimento do mercado de valorização do bem-estar dos animais, isso rendeu um crescimento expressivo no setor de saúde animal. Além disso, temos visto uma grande movimentação no setor pet. Com o aumento no número de animais de companhia nos lares brasileiros, os tutores começaram a investir mais na saúde e bem-estar dos animais, movimentando o mercado”, afirma Emilio Salani, vice-presidente-executivo do Sindan.
Para este ano, a expectativa do setor é de um crescimento um pouco menor, embora acima da média histórica do segmento de saúde animal. Entre os motivos apontados pelo Sindan estão crescimento mais moderado das exportações, a alta nos custos com insumos, que podem impactar os preços dos produtos e o arrefecimento do mercado pet. As projeções para 2022 são de crescimento em torno de 12%.