O confinamento de bovinos é uma das inúmeras cadeias produtivas afetadas pelo conflito entre Rússia e Ucrânia. Passado mais de um mês do início da invasão de Vladimir Putin no país vizinho, produtores sentem no bolso a escalada dos custos da nutrição animal, baseada especialmente em milho e farelo de soja, dois dos principais insumos da alimentação na pecuária.
Os elevados custos de produção para os confinadores, no entanto, são uma preocupação constante há alguns anos. A escala de preço vem se repetindo com crises sequenciais desde 2019 e que se agravaram com a chegada da pandemia de Covid-19. Primeiro, houve uma alta expressiva do boi magro devido ao descarte de fêmeas nos anos anteriores, seguida pela elevação do milho e da soja. Depois, as limitações impostas pela crise sanitária e pelo embargo da China que derrubaram o valor do boi gordo, além dos investimentos na estrutura de conectividade para que os produtores pudessem gerir seus negócios de qualquer lugar.
O valor dos grãos, especificamente, apesar de ainda não ter sofrido uma grande alta em razão da guerra, está relativamente estável em um patamar muito elevado desde o final de 2020. No entanto, o preço pode subir, tendo em vista que o valor dos fertilizantes disparou — só o potássio, que compõe o NPK, composto utilizado na produção agrícola, passou de US$300 a tonelada no início de 2021 para US$1.100 em março. A diária alimentar, que em 2019 girava em torno de R$5 a R$7, subiu para R$15 a R$18 em 2021 e vem se mantendo nesses níveis desde então.
Curva de crescimento da diária alimentar nos últimos três anos
Esse conjunto de fatores, que provocou um cenário de custos de produção elevados e estreitamento da margem de lucro, associado à alta demanda por carne bovina impulsionada pelo aumento das exportações desde 2019, atingiu em cheio os confinadores, que viram aumentar consideravelmente o risco de operar em prejuízo. Para evitar perdas, os produtores estão investindo pesado em ferramentas de gestão com foco no aumento da eficiência, principalmente na originação, na nutrição e na gestão econômica.
De acordo com dados do Tour de Confinamento, uma parceria da companhia de nutrição animal DSM com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) da Universidade de São Paulo (USP), o lucro dos confinadores (ROI) ficou em 6,65% em 2021. Apesar de ser o segundo índice mais baixo da série histórica, de acordo com economista agroindustrial e pesquisador do CEPEA Thiago Bernardino de Carvalho, o número foi surpreendente dada a alta dos custos e só foi possível pela valorização do boi gordo e pelo investimento em tecnologia por parte dos confinadores.
Segundo análise da base de dados da GA+Intergado, os produtores que utilizam as soluções da empresa tiveram uma margem de lucro de 7,59% nos primeiros cinco meses de 2021, índice superior ao levantado pelo Tour do Confinamento. Para Paulo Dias, CEO da GA+Intergado, o uso da tecnologia é essencial tanto na operação onde atua reduzindo custos e otimizando os recursos disponíveis através de processos bem monitorados quanto na gestão porque permite analisar o histórico e as tendências para cada fazenda dando muito mais segurança no planejamento do negócio e nas decisões de investimento.
Os números de 2021 da empresa confirmam que a industrialização do confinamento com a busca por eficiência e precisão na pecuária é um caminho sem volta. No confinamento, a adesão à automação de nutrição (fabricação e fornecimento de ração) cresceu mais de 200% entre 2019 e 2021, a aderência à rastreabilidade subiu 23% e a adesão à tecnologia de gestão cresceu 17%. Para os que pensam que tecnologia é apenas para os grandes produtores, Paulo Dias revela que esse crescimento expressivo se deu com a tecnificação de confinamentos de pequeno e médio portes. “Investir nessas tecnologias permite trabalhar com previsibilidade, mesmo em momentos complexos, como o de uma guerra. O uso de dados fortalece o processo de tomada de decisão, tão fundamentais para o negócio, resultando num caminho seguro para os produtores”, pondera o CEO.