Investidores do mercado futuro de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) começam a semana com foco na evolução da oferta norte-americana. A demanda nos Estados Unidos, que começa a se acelerar, também continua no radar, embora ainda sem a medida dos dados semanais de vendas norte-americanos.
Na sexta-feira, os futuros de soja na CBOT fecharam em alta, com movimento de correção após terem recuado nas quatro sessões anteriores e acumulado perda de 4,55% no período. Traders também ajustaram posições antes do fim de semana prolongado nos Estados Unidos. Nesta segunda-feira, os mercados permanecem fechados por causa do feriado do dia do trabalho nos EUA. O vencimento novembro da oleaginosa subiu 25,75 cents (1,85%), para US$ 14,2050 por bushel. Na semana, porém, houve desvalorização de 2,79%.
Segundo a Pátria Agronegócios, investidores reduziram a exposição ao risco antes do fim de semana prolongado por feriado nos Estados Unidos. “O mercado foi impulsionado por duas principais variáveis: a retomada das compras chinesas de grãos em todo o planeta e a reversão das posições especulativas ao longo da semana”, disse a consultoria, em comentário a clientes.
O mercado também aguarda os números de oferta e demanda que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgará na semana que vem, segundo a Pátria. “O relatório de setembro é um relatório com elevado teor especulativo, pois é quando o USDA traz os primeiros sinais de produtividades tendendo às quedas ou elevações. Nunca o USDA trouxe quebras de produção no relatório de setembro que fossem revertidas até os números finais de janeiro”, disse a consultoria, ressaltando que boas produtividades tampouco sofriam fortes reduções nos relatórios subsequentes. O USDA deve antecipar o que o mercado verá na colheita, dentro de quatro a cinco semanas, conforme a Pátria.
A consultoria StoneX estimou a produção de soja dos EUA em 4,515 bilhões de bushels (122,89 milhões de toneladas), com rendimento de 51,8 bushels por acre (3,48 toneladas por hectare). Em agosto, a consultoria tinha projetado uma safra de 4,490 bilhões de bushels (122,21 milhões de toneladas), com rendimento médio de 51,3 bushels por acre (3,45 toneladas por hectare). Apesar do ajuste para cima, a previsão da StoneX ainda é menor do que a do governo norte-americano. No começo de agosto, o USDA estimou a produção em 4,531 bilhões de bushels (123,33 milhões de toneladas), com produtividade de 51,9 bushels por acre (3,49 toneladas por hectare). A expedição de safra Pro Farmer projetou colheita de 4,535 bilhões de bushels (123,43 milhões de toneladas), com rendimento de 51,7 bushels por acre (3,48 toneladas por hectare).
Os ganhos também foram sustentados pelo enfraquecimento do dólar ante o real, que tende a desestimular as exportações brasileiras. Após três sessões consecutivas de alta, em que acumulou valorização de 4,07%, o dólar à vista recuou mais de 1% no pregão da sexta-feira e voltou a fechar abaixo de R$ 5,20, influenciado pelo recuo da moeda norte-americana em relação a divisas emergentes e pela leitura de que o relatório de emprego (payroll) dos EUA em agosto abre a porta para uma moderação da alta de juros pelo Fed. No fim do dia, a divisa fechou cotada a R$ 5,1848, em baixa de 1,02%. A alta na semana foi de 2,10%. O óleo de soja, que subiu mais de 4%, contribuiu para a alta da soja. A S&P Global Commodity Insights disse que traders estão preocupados com a oferta argentina do derivado, em meio à lentidão das vendas de soja por produtores. Segundo a S&P, esse cenário deve persistir no curto prazo.
A consultoria Céleres elevou a sua previsão de produção de soja do Brasil na safra 2022/23 para 154 milhões de toneladas, ante 148,8 milhões projetados em maio. O volume é 22% maior que o da safra 2021/22, que sofreu com as consequências do La Niña, fenômeno climático que volta a ser motivo de atenção no ciclo 2022/23. A consultoria prevê área plantada de 42,9 milhões de hectares, acima dos 42,3 milhões de hectares da projeção anterior e dos 41,5 milhões de hectares estimados para 2021/22. O Estado que mais cresce em área é Mato Grosso, com aumento de aproximadamente 400 mil hectares.
“A expansão de área é sustentada pela rentabilidade ainda em níveis acima da média histórica, apesar de menores do que em 2020 e 2021. Apesar de custos mais elevados, a disponibilidade de fertilizantes, químicos e crédito (subsidiado ou não) próximo do necessário para o elo agrícola sustentam o 16º ano de crescimento na área plantada no Brasil em 2022/23”, disse a Céleres. Com maior excedente disponível no mercado, as exportações de soja devem aumentar em 24,7% ante 2021/22 e alcançar 96 milhões de toneladas, segundo a consultoria. “Além disso, o esmagamento deve se manter fortalecido pelo cenário de preços ainda elevados de ração e óleo vegetal dentro e fora do País”, disse.
Fundos de investimento reduziram suas apostas na alta dos preços de soja na CBOT na semana encerrada na última terça-feira (30). De acordo com dados da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC), a posição líquida comprada diminuiu 6,46% no período, de 111.345 para 104.149 lotes.
Os futuros de milho fecharam em alta na sexta-feira em Chicago. A commodity foi impulsionada por um movimento de correção, após os preços terem caído nas três sessões anteriores e acumulado perda de 3,66% no período. O vencimento dezembro do cereal ganhou 7,75 cents (1,18%), para US$ 6,6575 por bushel. Na semana, teve leve alta de 0,23%.
O analista Jon Scheve, da Superior Feed Ingredients, disse em nota que os preços do milho podem subir acentuadamente caso a estimativa de safra da Pro Farmer, divulgada na semana passada, se confirme. A publicação estimou produção norte-americana de 13,759 bilhões de bushels (349,48 milhões de toneladas) de milho em 2022/23, com produtividade média de 168,1 bushels por acre (10,55 toneladas por hectare). “Se o rendimento for tão baixo quanto a estimativa da Pro Farmer, os preços terão de subir bem mais, possivelmente para níveis recordes”, disse Scheve. Segundo ele, é possível que o milho chegue a US$ 9 por bushel nesse cenário, o que representaria aumento de 7% ante o recorde de US$ 8,39 estabelecido em 2012.
A consultoria StoneX reduziu a projeção para a safra de milho no país para 14,168 bilhões de bushels (359,87 milhões de toneladas), com rendimento de 173,2 bushels por acre (10,87 toneladas por hectare). No mês passado, a estimativa era de 14,417 bilhões de bushels (366,19 milhões de toneladas), com produtividade média de 176 bushels por acre (11,05 toneladas por hectare). A projeção mais recente do USDA é de uma safra de 14,359 bilhões de bushels (364,72 milhões de toneladas), com rendimento de 175,4 bushels por acre (11,01 toneladas por hectare).
O saldo comprado de fundos em milho subiu 16,9% na semana encerrada na terça-feira (30), de 175.527 para 205.208 lotes, segundo números da CFTC.
Os futuros de trigo negociados na CBOT fecharam em alta na sexta-feira. Investidores aproveitaram os preços mais baixos da commodity para recomprar contratos, após o mercado ter recuado 4,5% na sessão anterior. O enfraquecimento do dólar ante as principais moedas também deu algum suporte às cotações, já que torna commodities produzidas nos EUA mais atraentes para compradores estrangeiros. O vencimento dezembro do trigo na CBOT subiu 16,75 cents (2,11%), para US$ 8,11 por bushel. Na semana, acumulou ganho de 0,71%.
Na semana encerrada na terça-feira (30), fundos reduziram em 18,12% as apostas na queda dos preços de trigo. A posição líquida vendida passou de 29.231 para 23.935 lotes.
Café: contratos futuros caíram 4% na semana passada
O mercado futuro de café arábica encerrou a semana passada com desvalorização de 3,9% (930 pontos) no segundo vencimento, dezembro/22, na Bolsa de Nova York (ICE Futures US). O contrato fechou na sexta-feira passada (2), a 228,80 centavos de dólar por libra-peso, ante 238,10 cents na sexta anterior (26). Na semana passada, dezembro/22 teve máxima de 241,90 cents (sexta, 26) e mínima de 228,25 cents (sexta, 2).
O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destacou em boletim semanal que os fundamentos do café não mudam, permanecem sólidos. Conforme Carvalhaes, o Brasil está próximo do fim da colheita “e já não existem dúvidas de quebra maior na safra brasileira de café 2022/2023 do que a projetada por agrônomos, produtores e cooperativas”. “Os trabalhos de benefício do café colhido avançam e os cafeicultores se deparam com números ainda menores do que estimavam no início dos trabalhos”, disse Carvalhaes.
Conforme a corretora, o clima continua preocupando, e os principais competidores do Brasil – Colômbia, América Central e Vietnã – “também enfrentam problemas climáticos e queda na produção”. As temperaturas recordes e a seca anormal no verão do Hemisfério Norte, traz insegurança aos cafeicultores. “Estão apreensivos com as condições climáticas nas regiões cafeeiras do Brasil no próximo verão.”
No mercado físico brasileiro, com Nova York em queda, mas com o dólar subindo frente ao real, os compradores mantiveram o valor das ofertas com poucas oscilações no decorrer da semana passada. “O número de negócios fechados permaneceu pequeno. O total de vendas continua bem abaixo do usual para esta época de início de safra”, destacou Carvalhaes.
Açúcar: sinais de oferta deve manter mercado pressionado
As negociações no mercado futuro do açúcar demerara (ICE Futures US) ficarão suspensas nesta segunda-feira, feriado do Dia do Trabalho nos Estados Unidos, mas a pressão baixista deve voltar amanhã, na reabertura do pregão. A oferta de países do Hemisfério Norte deve crescer com a aproximação do início da colheita e o diferencial competitivo dos biocombustíveis no Brasil permanece em desvantagem.
Os futuros de açúcar refinado na Bolsa de Londres (ICE Futures Europe) concentram as atenções. O vencimento outubro, na sexta-feira, avançou US$ 14,70 (2,63%) e encerrou o pregão em US$ 573,80 a tonelada. Os contratos têm se sustentado em função do clima adverso na Europa, fator que ameaça a produção de beterraba açucareira.
No pregão de encerramento da semana em NY, o vencimento outubro/22, o mais líquido, avançou 16 pontos (0,89%) e encerrou a 18,15 centavos de dólar por libra-peso. Os futuros deram continuidade ao movimento de recuperação técnica iniciado na véspera, após terem recuado em todos os outros pregões da semana. Apesar da recuperação, a commodity continuou com desvalorização de 1,7% no acumulado semanal.