Os preços da carne bovina no atacado da Grande São Paulo chegaram neste mês a seu menor patamar desde outubro de 2019, informou na sexta-feira (9) o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP). Mas a tendência é que as cotações reajam nos próximos meses, acompanhando um aumento na demanda doméstica.
Segundo Thiago Bernardino, pesquisador do Cepea, o recuo nos últimos meses é consequência da queda da demanda pela proteína, mais cara que “concorrentes” como as carnes de frango e suína. Até quinta-feira, o quilo da carne era negociado, em média, por R$ 19,58, montante 1,8% inferior ao de agosto e 10,44% menor que o de um ano atrás.
“O mercado doméstico está realmente combalido pela inflação, que está mais controlada agora, mas que veio dificultando o caminho desde o fim de 2021”, disse ele ao Valor. “E estamos falando em inflação generalizada, de energia, gás, combustíveis e outros produtos alimentares”.
Perspectiva de aumento
Bernardino vê um cenário de aumento dos preços da carne bovina nos próximos quatro meses por causa sobretudo do pagamento de auxílios à população de baixa renda e a categorias específicas, como os caminhoneiros. Além disso, é comum que as festividades de fim de ano e o pagamento do 13º salário aqueçam a demanda.
“Tradicionalmente, a procura por cortes de churrasco aumenta, isso é natural do brasileiro. E neste ano temos Copa do Mundo, que reúne as pessoas. O cenário é favorável”, avalia.
A partir da virada do ano, porém, a situação pode mudar. Um novo governo – seja um segundo mandato do presidente Jair Bolsonaro ou o início de outra gestão – tende a começar com um orçamento restrito, dada a necessidade de enxugamento de gastos. Assim, é possível que os benefícios sociais temporários não perdurem. Além disso, o início do ano também é um período de gastos com impostos elevados (IPVA e IPTU, por exemplo) e com material escolar.
Sem riscos para exportação
O pesquisador do Cepea não vê riscos para as exportações no curto prazo, já que a China provavelmente já negociou tudo o que vai precisar para abastecer seu mercado durante as celebrações locais de Ano Novo, que ocorrem no fim de janeiro. “E mesmo que os chineses reduzam as compras a partir de 2023, eles vão continuar comprando do Brasil. Somos muito competitivos”, afirma Bernardino.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) projeta que a China, principal compradora da carne bovina brasileira, vai importar 20% menos proteína de boi no ano que vem.
Em 2022, o mercado chinês foi o destino de 51,8% das exportações brasileiras, que somaram 1,52 milhão de toneladas até agosto. A China já importou 786,9 mil toneladas neste ano, volume 31% maior que o do mesmo período de 2021.