As leveduras da espécie Saccharomyces cerevisiae são organismos unicelulares importantes para produção de alimentos, bebidas, combustíveis e na indústria farmacêutica.
Nas últimas décadas, estudos vem demonstrando a viabilidade de diferentes produtos à base de leveduras para a indústria de alimentação e saúde animal com impactos positivos sobre a cadeia produtiva de proteína animal, substituindo antibióticos promotores de crescimento e reduzindo os efeitos das micotoxinas sobre a saúde, produtividade e qualidade dos alimentos de origem animal.
Os principais produtos à base de leveduras disponíveis para o mercado de alimentação animal podem ser subdivididos/classificados em dois grupos, conforme a sua funcionalidade por atividade biológica ou por componentes.
A Levedura Viva – ou ativa – são produtos com microrganismos que sofrem um processo de liofilização, interrompendo de forma temporária sua atividade para serem embalados e disponibilizados ao mercado para inclusão nas rações e suplementos fornecidos aos animais.
Segundo o AAFCO (2013), um produto comercial para ser classificado como levedura ativa no mercado norte americano deve apresentar a contagem de 1,0 x 1010 ufc/g de produto comercial.
Uma vez ingeridos, estas atingem o rúmen onde participam diretamente e ativamente no metabolismo ruminal, retirando oxigênio livre (O²) e influenciando positivamente as bactérias habitantes neste sistema, principalmente àquelas que digerem fibra e que consomem ácido lático. Desta forma, a ação indireta do controle do ácido lático do ambiente ruminal, resulta em maior digestibilidade da fração fibrosa da dieta e controle do pH, refletindo positivamente no consumo de alimentos e energia, melhoria da eficiência produtiva e da produção de proteína animal.
No entanto, os produtos à base de leveduras ativas, por serem constituídos de células vivas, impõem algumas limitações aos processos de produção e conservação nas rações, devido a perda de viabilidade/atividade das células de levedura ao longo do tempo. Também, o uso do calor para peletização ou extrusão reduz intensamente a viabilidade destes microrganismos, exceto se os mesmos forem protegidos. Outros fatores ambientais como temperatura, insolação, umidade e salinidade contribuem para reduzir a viabilidade das células de levedura durante a estocagem e o consequente fornecimento da quantidade efetiva para os animais.
O segundo produto do grupo classificado por atividade biológica é a Cultura de Leveduras, que se caracteriza como um produto que contém alta concentração de metabólitos obtidos previamente durante um processo de fermentação controlada.
Quando utilizamos a Cultura de Leveduras na alimentação dos bovinos, estamos fornecendo esses metabólitos, denominamos de “fatores de crescimento”, com o objetivo de estimular o crescimento de espécies presentes na microbiota autóctone (nativa) do rúmen, principalmente as bactérias fibrolíticas (degradantes de fibra) e consumidoras de ácido lático – como a Megasphaera elsdenii.
A diversidade das classes químicas incluídas dentro dos fatores de crescimento presentes no meio de cultura como aminoácidos, ácidos orgânicos, vitaminas, dentre outros, são obtidos em um processo de fermentação padronizado e anterior ao fornecimento dos animais não dependendo, assim, da viabilidade das células vivas de Saccharomyces cerevisiae para agir no rúmen. Por esse motivo, o produto é mais seguro na garantia de que os efeitos benéficos sobre as populações alvo autóctones do ambiente ruminal sejam obtidos. Outra vantagem é que fatores ambientais e de produção das rações não alteram a sua composição e capacidade de promover o efeito desejado.
A Levedura inativa é uma importante fonte de proteína, com fornecimento limitado de fatores de crescimento para a microbiota ruminal ou intestinal, uma vez que estes estão contidos no citoplasma envolto pela parede celular.
Para aumentar a funcionalidade dos seus componentes, a aplicação de um processo de lise da parede celular por hidrólise ou autólise, provoca uma maior exposição do seu rico conteúdo citoplasmático, além do aumento da disponibilidade dos glucomananos presentes na parede celular das leveduras. Assim, as Leveduras Lisadas apresentam como vantagem o fracionamento da parede celular, conferindo ação importante no sistema imunológico, proteção do epitélio intestinal contra alguns patógenos, além de estimular o crescimento de microbiota benéfica no sistema digestivo dos animais, pela exposição dos metabólitos presentes no citoplasma da célula de Saccharomyces cerevisiae.
No entanto, quando comparada à Cultura de Levedura, a quantidade de metabólitos disponibilizados pelo processo de rompimento da parede celular é menor, reduzindo significativamente a amplitude do seu efeito sobre o ambiente ruminal.
*Ricardo Pereira Manzano é Médico Veterinário, DSc. Ciência Animal e Pastagens ESALQ-USP e Consultor Técnico Aleris Nutrition
**Vanessa Olszewski é Médica Veterinária, MSc. Nutrição de Monogástricos UFPR e Coordenadora Técnica Aleris Nutrition
O artigo completo está disponível na edição de setembro da Revista do PecSite, leia a partir da página 36.