O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, confirmou na sexta-feira (27) que o deputado federal Neri Geller (PP-MT) vai comandar a Secretaria de Política Agrícola da Pasta a partir da semana que vem.
“Ele tem conhecimento daquela área, sabe muito bem onde buscar os recursos e implementar as políticas públicas”, disse Fávaro em entrevista a uma rádio de Mato Grosso na manhã de sexta-feira.
Neri Geller já foi ministro da Agricultura e, em duas outras ocasiões, secretário de Política Agrícola. Junto com Fávaro e o empresário Carlos Augustin, ele atuou na campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Mato Grosso e na interlocução com entidades do agronegócio.
Na transição, Geller fez parte do grupo técnico de agricultura, coordenado por Fávaro. O deputado tem mandato na Câmara até 31 de janeiro, mas está desde o início do mês atuando no ministério.
Em dezembro, Geller estava cotado para assumir a presidência da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), mas a autarquia foi retirada da estrutura do Ministério da Agricultura e passou para o Desenvolvimento Agrário. O ministro Paulo Teixeira indicou Edegar Pretto para assumir a estatal.
Imagem do agro
O ministro Carlos Fávaro disse que houve um relaxamento da política ambiental nos últimos anos e que o maior problema que ele encontrou no ministério foi a imagem desgastada da agropecuária brasileira. Fávaro ressaltou, no entanto, que o produtor já desenvolve técnicas sustentáveis, como o plantio direto e a segunda safra, e que o mundo precisa reconhecer o esforço do setor com essas práticas para evitar novos desmatamentos.
“Eles [europeus] têm um modelo de sustentabilidade previsto, falam muito em orgânicos e em desintensificação. Olha, tudo vale para preservar o meio ambiente, mas não venham também colocar o que eles pensam para que nós executemos aqui”, afirmou em entrevista nesta sexta-feira. “Nós temos um modelo, temos 66% do nosso território completamente preservado e assim vamos continuar, mas queremos que o mundo reconheça isso, com as nossas formas [de produzir] e abrindo mercados”.
Fávaro disse que a política ambiental não vai “passar a mão na cabeça” de quem cometer ilegalidades. “Quem transgredir os limites da lei será punido”, destacou. Além do programa para conversão de pastagens degradadas que ele pretende implementar, o ministro citou oportunidades com os pagamentos por serviços ambientais para monetizar áreas de vegetação nativa preservadas.
Agricultura familiar
Fávaro disse que o governo vai trabalhar em um grande programa de fortalecimento da agricultura familiar, com assistência técnica, crédito e ações para promover a recuperação de solos nas pequenas propriedades.
A Conab deverá ter protagonismo na iniciativa, ao atuar na operacionalização das compras diretas e ações de comercialização da produção. Outra ideia é que a estatal possa ajudar os pequenos produtores com informações sobre preços e fornecedores para a compra de insumos em regiões onde não há presença de cooperativas e associações.
“Uma opção seria a Conab lançar lista de preços de insumos. ‘Olha, produtor, você está pegando um custeio aqui no banco, mas cuidado, não gaste mal’. Tem uma lista de preço que a Conab te baliza e até de fornecedores desses insumos, uma espécie de ‘econt’ da agricultura familiar”, disse em entrevista. “Estamos pensando, vamos debater”, completou.
Segundo Fávaro, a iniciativa ajudaria pequenos produtores de regiões como Centro-Oeste, Norte e Nordeste, onde o cooperativismo agrícola não é tão forte quanto no Sul.
Para o programa de fortalecimento da agricultura familiar, o ponto inicial, disse o ministro, é a fertilização dos solos para aumentar a produção. “Vamos trabalhar um grande programa de fortalecimento e o primeiro ponto é a política de recuperação dos solos das propriedades (…) Um programa para comprar 10 toneladas de calcário por hectare, uma tonelada de fosfato, meia tonelada de cloreto de potássio e incorporar ao sistema produtivo. O que ele [pequeno produtor] decidir plantar vai produzir muito”, apontou.
Fávaro disse que o governo federal vai fortalecer o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) como estratégia para garantir renda aos pequenos produtores e ajudar a erradicar a fome, mas que também será preciso retomar mecanismos de pagamento de prêmio para escoar a produção para regiões mais carentes.
“Precisamos ter estratégias de apoio à comercialização. Não é intervenção, mas, por exemplo, se tem um excesso de safra aqui em Mato Grosso, podemos usar a Conab, os prêmios, para abastecer de milho o Nordeste e a cadeia das proteínas lá não vai ter que comprar milho a R$ 140, o que gera inflação, carestia e a impossibilidade de as pessoas comprarem”.
Mesmo com a criação do Ministério do Desenvolvimento Agrário e a ida da Conab para lá, Fávaro disse que a política agrícola para a agricultura familiar continuará sob responsabilidade de sua Pasta e que o tema será tratado com transversalidade.