Como forma de seguir empoderando, dando voz e conectando as mulheres do agronegócio brasileiro, a Beckhauser, indústria paranaense do segmento de equipamento de contenção bovina, promoveu o 1º Encontro Elas na Pecuária na manhã do dia 21 de março, em Campo Grande (MS), nas dependências da H Store, distribuidor da empresa na região.
O evento foi uma parceria entre Beckhauser, Datamars e Gerbov e reuniu mais de 50 mulheres ligadas à pecuária para que elas trocassem experiências entre si e conhecessem os exemplos trazidos pelas palestrantes convidadas: a pecuarista, empresária e agroinfluencer, Andressa Biata, a médica-veterinária, mestre em ciência animal e difusora da técnica “Nada nas Mãos”, Adriane Zart, e a advogada e pecuarista, Cristina Cortada Amorim.
Para a Presidente da Beckhauser, Mariana Beckheuser, essa foi uma oportunidade única de estar em contato com as profissionais que movem o setor. “É muito importante, principalmente por estarmos no mês dedicado às mulheres, que elas saibam que podem e devem ocupar os espaços na cadeia pecuária. Proporcionar momentos para troca de conhecimentos, network e até mesmo acolhimento com certeza contribui para a entrada de cada vez mais mulheres nesse segmento”.
Durante o evento, cada uma das palestrantes convidadas dividiu com as demais participantes sua trajetória como mulher na pecuária. Cristina Cortada Amorim, por exemplo, citou a participação no Grupo de Troca de Experiência (GTE), inciativa com o objetivo de reunir produtores rurais e realizar visitas em suas fazendas, como um divisor de águas na sua vida no ano 2000.
“Eu cresci sem ser estimulada a participar do negócio da família, que era a atividade pecuária. Foi durante a participação no GTE 3, com a participação apenas de profissionais femininas, que finalmente entendi o meu papel na pecuária e criei relações que duram até hoje. Foi um momento em que eu me reergui como mulher tanto profissionalmente como pessoalmente. Após isso, passei a encarar a vivência na pecuária de outra forma, e ao longo dos anos, fui me inserindo mais nos negócios do meu pai”, explica.
Cristina sempre acreditou no agronegócio e, por isso, mesmo sendo a única mulher entre o grupo de irmãos, estabeleceu planos de ação para as propriedades de sua família quando seu pai não podia mais administrá-las, fazendo com que elas não encerrassem suas atividades.
Em 2005, ela e o marido criaram a Agropecuária Areias, uma sociedade familiar que englobava quatro fazendas. “Eu nunca tive medo de desafios, de arregaçar as mangas e desbravar. Precisamos começar o trabalho do zero, levamos tudo para essas propriedades, desde água até pasto e cerca. Hoje eu as considero como se fossem filhas minhas”, detalha.
Também administrando a Agropecuária CC, com as iniciais de seu nome, Cristina, junto a seu filho, entendeu a importância da tecnologia para o desenvolvimento das atividades nas fazendas e investiram na aplicação de recursos tecnológicos para melhor gestão de recursos e realização de manejos. “Hoje, com a tecnologia, eu e minhas colegas administradoras das fazendas temos o controle em nossas mãos. Com dados concretos, conseguimos tomar as decisões necessárias”.
Andressa Biata: publicitária com raízes no agro
Sendo uma integrante da terceira geração de sua família no agro, a influenciadora Andressa Biata se formou em publicidade, mas nunca se desligou de suas origens no campo. “Estou no agronegócio desde que nasci, mas nunca fui estimulada a seguir uma carreira nessa área para continuar o legado familiar”.
Ela explica que sua formação a ajudou a conseguir se comunicar com o agro. “Tive muitos aprendizados sendo uma publicitária. Acredito que minha comunicação mais expansiva hoje seja algo que eu trouxe da minha carreira de comunicadora para o agronegócio”.
Herdeira de uma fazenda no Mato Grosso do Sul, Andressa teve em sua mãe o exemplo de um trabalho de aprendizado e gestão desenvolvido do zero. “Minha mãe foi uma guerreira nesse processo. Ela não entendia o que era o agro quando assumiu a propriedade após uma sucessão muito doída. Até por isso foi desacreditada durante os anos iniciais administrando o negócio. Nos 10 anos que geriu a fazenda vivendo nela, superou todos os desafios. Eu e minha irmã tentamos ajudar, mas como não conseguíamos estar o tempo todo ali, era mais difícil”.
Em 2017, Andressa Biata se mudou para o estado do Centro-Oeste e passou pelo próprio processo de sucessão, dessa vez organizado e planejado para uma transição sem obstáculos. “O amor ao agro é algo que a gente precisa ter. Isso foi essencial para facilitar a mudança de gestão da minha mãe para mim”.
“Eu tenho um orgulho enorme em falar que sou mulher do agro. Isso era uma coisa que poucas pessoas davam atenção antigamente. Hoje, é uma bandeira que precisa ser levantada, para que o próprio agronegócio seja valorizado a cada dia mais. Desde que comecei a atuar de fato nesse setor, tenho incentivado o trabalho delas, que elas se ajudem. É esse o espírito, dar a mão amiga quando necessário”, salienta.
Andressa reforçou que existem estereótipos marcados da mulher no agronegócio, mas encorajou as participantes do evento que cada uma deve seguir sua individualidade. “Temos que ser o que somos. Desde os 13 anos de idade uso salto. Por que agora que eu vim para o agro eu vou deixar de usar? Dessa forma eu mostro minha força, não minha fraqueza, sendo quem sou num ambiente predominantemente masculino. E quem não quer usar salto, está tudo bem também. O importante é haver respeito entre todas nós”.
Adriane Zart: o incentivo que deu certo
O caso de Adriane Zart foi diferente em relação às outras palestrantes do 1º Encontro Elas na Pecuária. Natural do Rio Grande do Sul, ela cresceu na fazenda e sempre foi incentivada pela família, principalmente pelo pai, a crescer nesse meio. Quando eles se mudaram para o Mato Grosso do Sul, Adriane pode buscar sua carreira a partir da formação em medicina veterinária.
“Ainda durante a faculdade, meu pai me entregou praticamente toda a parte de administração da propriedade dele ligada à pecuária. Isso me ajudou muito a crescer como gestora, inclusive como médica-veterinária, possibilitando que eu tivesse uma visão mais ampla dos dois lados da atividade”, pontua.
Fazendo parte de uma empresa de consultoria, Adriane teve contato com a técnica “Nada nas Mãos”, trazendo melhorias para o manejo dos animais aos clientes da empresa. “Já demos treinamento a muitas fazendas que são gerenciadas por mulheres. Elas se incomodam um pouco mais com um manejo de pior qualidade e, por isso, abraçam essa ideia com mais intensidade”.
Hoje na Irlanda atuando pela Datamars, ela reflete sobre a presença da mulher no campo como algo positivo e crescente. “A pecuária ainda é um ambiente masculino, mas se olharmos algumas fotos de treinamentos que eu ministrei, sempre tem um grupo de mulheres também participando. Esse é um movimento que não vai parar”.
“Eu cresci no meio do gado, no meio dos peões, nunca me senti ou fui tratada de forma diferente por ser mulher nessa atividade. Sei que muitas se deparam com obstáculos, mas meu conselho para a nova geração de mulheres é que elas não devem entrar no agro temendo preconceitos e julgamentos dos homens. Sejam vocês mesmas e deem o melhor para o setor”, conclui Adriane Zart.
O 1º Encontro Elas na Pecuária está disponível na íntegra clicando aqui.