Francisco Turra era ministro da Agricultura há 25 anos, quando Brasil conseguiu a chancela da Organização Internacional de Sanidade Animal (OIE).
Nesta mês, o país celebra o 25º aniversário da conquista do primeiro certificado sanitário junto à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Esse documento conferiu aos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina o status de áreas livres de febre aftosa com vacinação.
A certificação representou um marco significativo para a pecuária nacional, abrindo as portas do mundo para as carnes brasileiras. Como resultado, o Brasil se tornou o maior exportador de proteína animal do planeta.
Francisco Turra era ministro da Agricultura em 1998, quando o Brasil conseguiu a certificação sobre aftosa.
“Em primeiro lugar, gostaria de ressaltar que essa história foi construída em parceria com o Canal Rural, o único veículo de comunicação presente para testemunhar os acontecimentos. Acredito que esse feito representa um legado para a pecuária brasileira e para o agronegócio do país como um todo. Antes desse marco, o Brasil, conhecido pela sua produção de proteína animal, especialmente carne bovina, só podia exportar carne cozida e enlatada, com acesso restrito aos mercados internacionais. A produção pecuária tinha um valor expressivo no exterior, porém era insignificante aqui dentro. Ser pecuarista significava enfrentar dificuldades”, diz o ex-ministro, que fundou a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
‘Aftosa prejudicava nossa imagem’
“Tínhamos um grande sonho de ver o Brasil vendendo essa carne saborosa e deliciosa para diversos mercados do mundo. No entanto, a febre aftosa, vista como um problema de sanidade pública, prejudicava nossa imagem e limitava nossas possibilidades. Era impossível erradicar a febre aftosa no Brasil apenas com vacinação, devido ao tamanho e às características tão diversas do país. Então, propusemos a ideia de dividir o Brasil em circuitos: Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Essa proposta foi aprovada e testemunhada pelo Canal Rural, e 160 países votaram a favor, com exceção do Japão, que manifestou sua oposição”, conta Francisco Turra, que atualmente preside o conselho de administração da Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio).
Turra contou que o acordo sanitário foi assinado graças aos esforços dos técnicos do Ministério da Agricultura.
Segundo o ex-ministro, a conquista abriu portas para outras cadeias produtivas, como avicultura, suinocultura, pecuária e cadeia leiteira. “O Brasil já era o maior exportador mundial de carne de aves desde 2005, além de ser o quarto maior exportador de carne suína. No entanto, a presença no mercado internacional de carne bovina era mínima”, lembra.
“A partir desse marco, o país passou a expandir suas exportações de proteína animal, alcançando a marca de mais de US$ 3 bilhões por mês, superando a meta estabelecida pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, de US$ 2 bilhões até o final de seu mandato”.
Na avaliação de Turra, a conquista demonstrou que o Brasil cumpre regras e acordos sanitários, fortalecendo sua reputação como país com condições sanitárias adequadas.
“O legado dessa conquista foi fundamental para o crescimento do setor e para o desenvolvimento da indústria de exportação de proteína animal brasileira”, afirma.
Futuro do agronegócio brasileiro
Segundo Turra, o Brasil é reconhecido como o maior exportador de proteína animal do mundo devido à sua impecável sanidade animal. Ele destacou a importância dos cuidados internos na prevenção de doenças, como a gripe aviária, e ressaltou o profissionalismo e os protocolos adotados pelos produtores brasileiros, incluindo a quarentena e o treinamento adequado.
O ex-ministro enfatizou a relevância da sanidade, sustentabilidade e qualidade dos produtos brasileiros, pois enganar o consumidor pode ser prejudicial para o país. Turra destacou o aumento da demanda internacional por proteína animal e a importância do apoio governamental ao setor agropecuário.
Ao abordar o Plano Safra, Turra ressaltou a dificuldade de recursos e o desafio de produzir mais alimentos em um cenário de taxas de juros elevadas e recursos limitados do governo. No entanto, ele apontou que há outras opções de financiamento, como fundos de investimento, que acreditam na produção brasileira.
Quanto à reforma tributária, o ex-ministro expressou preocupação com possíveis taxações excessivas ao setor agropecuário, argumentando que a agricultura é uma riqueza para o país, gerando empregos e impostos indiretos. Ele citou o exemplo negativo da Argentina, onde a taxação do setor agrícola resultou em perdas e desestímulo na produção.
Turra também abordou a importância da segurança jurídica para o setor agropecuário, mencionando o impacto negativo causado pela redução da mistura de biodiesel ao diesel, que afetou a cadeia produtiva e gerou prejuízos para as empresas do setor.
Por fim, Turra destacou os principais desafios futuros para o agro brasileiro, incluindo a infraestrutura logística, a questão tributária e a necessidade de sustentabilidade e sanidade animal. Ele ressaltou a importância de investimentos em ferrovias, hidrovias e transporte multimodal, além da busca por uma tributação adequada ao setor.