Fortalecer uma identidade enquanto estado produtor de carne sustentável e de qualidade foi um dos pontos levantados como essenciais para a cadeia da carne bovina gaúcha enfrentar a crise. Um debate, realizado nesta quarta-feira, 30 de agosto, no espaço do Universo Pecuária, na Expointer, reuniu especialistas e criadores para tratar do preço da proteína bovina, mercado interno e externo, e projetar ações junto aos consumidores.
A roda de conversa, organizada pelo Instituto Desenvolve Pecuária, iniciou tratando do preço da carne. A produtora Fernanda Costabeber, que mediou o evento, apontou que o preço da carne gaúcha sofreu uma queda de 40% nos últimos 45 dias, sendo a mais significativa da história da pecuária no Rio Grande do Sul.
O diretor do Instituto Nacional da Carne do Uruguai, Pablo Caputti, apontou que a crise também existe em seu país. Ele contextualizou o cenário de crise hídrica enfrentado e a volatilidade do preço da proteína animal devido às oscilações do mercado chinês. “Ficamos sem água em Montevidéu e tivemos que tomar água salgada. E a China ficou com medo de ficar sem carne. Os preços foram para cima, mas agora corrigiu”, explicou. Caputi ressaltou que a China tem uma economia diferente, mas vai continuar precisando de alimentos. “Ela não tem água e quando se exporta alimentos, se exporta basicamente água que tu conseguiu colher, fazer uma planta, um animal, uma caixa e isso é estrutural”, explicou o uruguaio que finalizou dizendo que vamos conseguir sair da crise, sem dúvidas.
Mesmo com a boa estimativa, o dirigente uruguaio recomendou aos gaúchos que fortaleçam sua identidade enquanto produtores de carne bovina como uma das ações para a retomada do setor. “Na crise, é bom pensar que gaúchos somos”, afirmou.
O fortalecimento da identidade também foi a recomendação do diretor do Instituto Mato-Grossense da Carne, Bruno Andrade. “Assim como vocês construíram uma marca com o chocolate de Gramado, devem fazer com a carne”, sugeriu.
Já para Davi Teixeira, sócio fundador e diretor da SIA, Serviço de Inteligência em Agronegócios, ao objetivar o futuro, é preciso olhar o passado. “Olhar as experiências já precedentes e ir para este caminho de agência de inteligência, trabalhar dados, escalas temporais maiores, é assim que a gente entende em que ponto estamos e dar passos com mais assertividade”, afirmou.
Para o professor Júlio Barcellos, do NESPro/UFRGS, que no começo do debate apontou que a cada cinco bifes consumidos no estado, três são de carne vinda de fora, a saída passa pela reflexão sobre uma questão. “A criação de uma instituição de inteligência estratégica tem a capacidade de mover um setor produtivo para sobreviver em crises, para crescer em oportunidades, esta é a pergunta”, disse Barcellos.
Proprietário da Fazenda Pulqueria, Fernando Costabeber quer a volta do protagonismo gaúcho quanto ao abate. “Há 100 anos, tínhamos um rebanho similar ao de hoje e a carne no Brasil era gaúcha”, lembrou o produtor que lamentou que o RS hoje detenha apenas 5% do abate nacional.
O presidente do Instituto Desenvolve Pecuária, Luis Felipe Barros, ressaltou o ineditismo do debate realizado na 46ª Expointer, reunindo pecuaristas, consultores e personalidades de outros locais que trouxeram um pouco da sua realidade. “A pecuária sempre viveu um momento pujante até o ano passado, enquanto as cadeias do leite, de suínos e de frango vinham sofrendo problemas que vemos hoje como a ruína, e cabe a nós falar, não só para nós, mas para a sociedade” , ressaltou o dirigente. Ele complementou que o debate é fundamental para sair da inércia na qual se encontram.