A Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados promoveu na última quinta-feira (05) uma audiência pública para debater a expansão da chamada pecuária regenerativa, conjunto de práticas de manejo e processos agropecuários que buscam recuperar os sistemas de produção alimentar e, principalmente, os solos, reduzindo os impactos ambientais da atividade.
O autor do requerimento para a realização da audiência foi o deputado Pedro Uczai (PT-SC). Da Embrapa, participou o pesquisador da Embrapa Cerrados João Paulo Guimarães. A reunião ocorreu no formato híbrido, tanto presencial, quanto on-line. A gravação da audiência pública está disponível em https://www.camara.leg.br/evento-legislativo/70301.
Para contribuir com o debate, o pesquisador da Embrapa Cerrados apresentou alguns resultados de projetos que vêm sendo desenvolvidos ao longo dos últimos anos, relacionados aos sistemas orgânicos de produção animal e que adotam práticas e processos regenerativos. “No final das contas, o que a gente busca com essas práticas é o incremento da saúde do solo, com sequestro de carbono e aumento da biodiversidade”, afirmou. Segundo ele, a legislação brasileira de agricultura orgânica já abarca inclusive todos esses conceitos.
Ele apresentou dados de pesquisas e soluções tecnológicas já desenvolvidas voltadas especialmente ao manejo orgânico de pastagens. Exemplo é pesquisa a que comparou o manejo orgânico com o manejo convencional de pastagens de braquiária em consórcio com estilosantes no bioma Cerrado. “Colocamos na área experimental a mesma quantidade de nutrientes por hectare, utilizando insumos alternativos e convencionais. Tanto no manejo convencional quanto no orgânico a adubação verde mostrou-se viável. Houve, ainda, aumento da produtividade do pasto consorciado com maior percentagem de leguminosas no manejo orgânico”.
Segundo ele, uma das vantagens do manejo orgânico que se utiliza de insumos alternativos, como os remineralizadores por exemplo, é que eles liberam lentamente os nutrientes para as plantas, fazendo com que essas, a seu tempo, consigam avançar no processo de absorção. “Isso não acontece ao se utilizar insumos convencionais que, ao serem colocados no solo, são rapidamente disponibilizados, mas não totalmente absorvidos. Dessa forma, a planta cresce muito, mas não aproveita todos os nutrientes que acabam se perdendo”, explicou.
O pesquisador também apresentou, na ocasião, resultados de pesquisa com o desempenho produtivo e econômico de um sistema agrossilvipastoril orgânico implantado no Cerrado. Os estudos foram conduzidos em parceria com a Emater-DF numa unidade de pesquisa participativa em produção orgânica instalada numa área de 1,1 ha no PAD-DF. “O modelo foi criado justamente para mostrar para o pequeno produtor o que é possível produzir num espaço restrito como aquele. E o retorno financeiro é incomparável com o sistema convencional”, ressaltou. Para mais informações sobre esse sistema acesse: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/80988089/viabilidade-do-sistema-agrossilvipastoril-organico-e-apresentada-em-dia-de-campo-na-agrobrasilia-2023
O pesquisador João Paulo Guimarães enfatizou, no entanto, a necessidade de que sejam formuladas políticas públicas para que tecnologias como essas estejam de fato disponíveis para os produtores. Também participaram da audiência pública o professor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Machado Filho, que tratou da tecnologia de Pastoreio Racional Voisin (PRV), Vivian Libório, diretora de Inovação para a Produção Familiar e Transição Agroecológica do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Clecivaldo Ribeiro, diretor do Departamento de Estruturação Produtiva do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), e da agrônoma Ana Laura Carrili, da Associação Biodinâmica.