Em parceria inédita com a Epagri, transcorreu dia 08 de novembro durante o 12º SBSBL, o 1º Simpósio Catarinense de Produção de Leite à Base de Pasto. A primeira palestra foi com Sila Carneiro da Silva (ESALQ/UPS) sobre otimização dessa modalidade de alimentação. Sila enfatizou que o pastejo é a ‘colheita’ da planta pelo animal e, para isso, é necessário entender o ciclo vegetativo das plantas, “o que facilita conhecer o volume consumido por animal que, efetivamente, entra no trato digestivo e descobrir as perdas do processo”.
Para o especialista, três etapas da produção são fundamentais: acúmulo, crescimento e senescência (saldo/palha morta), fator que acontece antes mesmo do pastejo. “Para ajustar, basta acertar o ponto de colheita”, sublinhou. Já a segunda perda física do pastejo tem a ver com a altura, pasto mais alto, ponto de colheita, entre outros fatores. Ou seja, a efetividade da produção a base de pastagens é realizar o manejo adequado das pastagens.
Interferem no crescimento da planta, conforme Sila, a Morfogênese, a dinâmica de perfilhos, as adaptações anatômicas e fisiológicas. “Isso tudo molda o ciclo, que determina a área foliar, a estrutura do pasto, que, por consequência, afeta os padrões de acúmulo de forragem e o comportamento ingestivo e de consumo; tudo isso decorre de uma estratégia de sobrevivência e perenização da planta”, acrescentou. Moral da história: “vale a produtividade do sistema, ou seja, a última linha do balanço, além das Emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE).
LUZ É O CENTRO
A luz, lembrou Sila, é a principal ‘peça’ dessa engrenagem, pois produz a fotossíntese. Sabendo-se disso, é possível “mexer” nos sistemas produtivos. A exemplo, introduzir modelo agropecuária x pecuária, irrigação, adubação e até árvores protetivas. “Tudo sai da estrutura do pasto e volta a ela”, insistiu, afinal, nem sempre, 100% do que é ofertado, é aproveitado pelo animal”.
O melhor e mais rentável, recomendou, é o pasto com melhor rotação de folhas, pois o consumo mais elevado pelo animal advém das folhas mais jovens. É dessa “fórmula” que se pode indicar alvos e metas, sem calendários, nem dias, nem anos. “A partir de um ponto o animal rejeita a comida; é o índice de área folhar crítico. Para cada espécie forrageira, há uma altura máxima de manejo que precisa ser respeita. Para o capim Tanzânia, por exemplo, o pasto acima de 0,70cm é inútil ao animal. E esse teto é determinado pela luz.
Outras constatações: quanto mais bocados pequenos, mais o animal precisa “trabalhar” para colher. Se o pasto está cheio de talos, a vaca passa rápido e cai muito a ingestão verde. Essa taxa de consumo geralmente começa a despencar a partir da redução de 50% da altura inicial da pastagem, independente do tipo de forrageira. Estudos com o Capim Elefante Cameron mostram que ampliaram no leite os sólidos, gorduras totais e outros itens entre 40 a 50%, além de diminuir em 34,5% da emissão de gases poluentes quando aplicado o manejo adequado da pastagem.
Para Sila, o segredo é sincronizar a velocidade de crescimento do pasto, com o que o gado consome. “Se o pasto cresce mais rápido, o gado não o come. E, se isso acontecer, é possível diminuir a taxa de suplementação (lanche); aumentar a taxa de lotação; conservar a forragem e diminuir Nitrogênio (N), bem como, pode acontecer ao contrário”.
POTENCIALIZANDO A PRODUÇÃO DE LEITE
A segunda palestra da quarta-feira (08) foi propalada por Henrique Mendonça Nunes Ribeiro Filho (UDESC/Lages), tendo como eixos a ampliação da segurança alimentar e a redução do impacto ambiental. Explanou que o uso da terra para produzir alimentos, no Sul, está distribuído em silagem de milho: 19.000 kg/MS/ha; pastos de verão: 11.250; grão de milho comercial: 9.700; pastos de inverno 9.600; e grãos de soja com 3.300 kg/MS/ha
Formatou Henrique que, à medida que aumenta a forragem consumida, cai um pouco a área de terra utilizada em relação à alimentação com maior concentração de ração. “Não é verdade que animal confinado ‘usa’ menos área e, no fundo, essa alimentação ocupa área maior para ser gerada, em relação ao sistema de pastejo”.
Outra conclusão é a de que não há alteração na produção de metano, quando classificada a alimentação pastejada daquela que mistura ração industrial.
Do ponto de vista qualitativo, o pasto que sobra no verão tem menor qualidade (Matéria Seca), em relação ao produzido no inverno. Portanto, os pastos de verão exigem mais complementação enérgica via ração, além de gerarem queda no leite de 5% a 10%. Já o Metano não se altera entre as estações. “A introdução de leguminosas aumenta o consumo de pasto em até 20% pelo animal”, adicionou. “É importante ir corrigindo a quantidade e tipo de suplemento ao longo do ano, buscando menor dependência de insumos externos, com o mínimo de ingredientes proteicos.
FORRAGEM: A POUPANÇA QUE SALVA
“Forragem conservada é para garantir a produção de leite ao longo do ano”. Assim Dr. João Luiz Pratti Daniel, da Universidade Estadual de Maringá – (UEM) abriu sua exposição no 12º SBSBL – 1º Simpósio Catarinense de Pecuária de Leite à Base de Pasto, promovido pelo Nucleovet nos dias 07, 08 e 09 de novembro em Chapecó. “Acontece que, em alguns momentos, não há como produzir forragem por condições incontroláveis”, esclareceu.
Quando conjugado à ração, essa oferta não pode passar de 3 a 3,5 kg de concentrado, fator que interfere na saúde do rumem, em que pese o fato de subir a eficiência alimentar, bem como a gordura e sólidos do leite. “Muito cuidado com as vacas recém-paridas, que apresentam maior dificuldade de colher pasto”, alertou.
É importante ter uma área específica para produzir volumoso e conservar o excedente gerado pelo pastejo, ou então, comprar, porém, geralmente o alto custo agride os resultados. “Quem produz dentro da fazenda, economiza, melhora a digestibilidade do amido e controla melhor os processos de produção”, defendeu João Luiz.
PRINCIPAIS ERROS
Só pesando tudo, para medir a perda de Matéria Seca (MS), quando se pode, então, tomar providências. No Brasil, números médios apontam para 10 a 50% de perdas de MS. No pré-secado, pode cair em 60%. Os maiores erros estão no planejamento; no manejo agronômico; na colheita e ensilagem (maturidade, colheita e processamento, aditivos, transporte, abastecimento, compactação, vedação, monitoramento e manejo pós-abertura). “Silagem é uma cadeia de vários elos. Falhando um, não tem como consertar; é um processo”.
Se colher muito tarde, melhora um pouco o amido, porém, afeta a degradabilidade ruminal e piora a estabilidade aeróbica do alimento. Com partículas de silagem mais longas (19ml), cai a produção de leite, piora a ruminação, assim como deterioram todos os demais itens. A mais indicada é a média (8-19 ml). A pequena (8ml), não é indicada. “Pode ser que, dependendo da máquina, o ponto de quebra possa estar em 11,1mm, noutras 12, ou em algumas 14mm. “Tem que testar. E, no momento da compactação, fazer camadas finas”, disse. Nenhum aditivo substitui um bom manejo. Por fim, a vedação deve ser totalmente sem oxigênio. Bem vedada, a silagem descartada cai de 7,4% para 2,9%. E, no pré-secado por bolas, não economizar na qualidade do plástico, bem como, armazená-las de pé, em vez de deitadas.
A VOZ DE QUEM FAZ E PROVA!
Com a sala lotada foram apresentados os resultados do trabalho, por duas vozes: a do especialista Carlos Mader Fernandes (Epagri) e a de Gilmar Moraes, produtor de Herval do Oeste, que estava no Centro de Eventos com a família.
Carlos disse que a Epagri, há 20 anos, trabalha com foco na produção de leite à base de pasto e SC tem apenas 1,13% do país, 95,3 mil km2, 3,2 bilhões de litros de leite/ano, sendo 87% das propriedades menores que 50 ha. Porém, 75,4% está no Oeste e Meio-Oeste. Nesse quinhão, cerca de 80% das propriedades têm menos de 20 ha. De 2016 a 2021, estagnou a produção de leite no estado, enquanto a Irlanda, país menor que SC, cresceu 42% em leite de 2014 a 2019.
O desafio, conforme Carlos, é conciliar o aumento da produção e da produtividade, com resiliência econômica, social e ambiental. “Precisamos refletir aquilo que deve ser feito nas propriedades e suas consequências das escolhas, afinal, tecnologia sem análise econômica, não é tecnologia”
De 2012 a 2022, em SC, o leite subiu 73,4%, ração + 66,2%, MS/silagem + 93,8% e MS/pasto, + 50%. “A ração é tão cara em nosso estado por termos déficit de milho crescente”, comparou Carlos. Quanto a relação de troca, em 2020 um produtor fazia 4,5 kg/MS/silagem com um litro de leite; em 2023, apenas 3,8 kg/MS/silagem para um litro, fator que, por si só, comprova margem líquida negativa. “Com ração, a atividade só se viabiliza se, com um litro de leite, se pode comprar um quilo de ração, o que não vem ocorrendo há tempos”.
QUASE 1.000 % EM 11 ANOS
O produtor Gilmar Moraes, de Herval do Oeste – SC, começou a propriedade referência/EPAGRI em 2012. Em 2011, disse ter produzido 105 mil litros/ano, com 28 vacas e severos problemas de mastite. “Este ano, descarte zero por mastite e produção que deverá passar de 1 milhão de litros”.
O leite vem para quem sabe produzir pasto, confirmou Gilmar, que usa cama de aviário como adubação, além de placas solares para amenizar custos com energia. Atualmente, são 130 vacas em lactação, chegando a um milhão de litros, ou seja, quase mil por cento de crescimento em 11 anos.
São mais de 10 mil litros por hectare nas terras de Gilmar em 2023. Na visão do orientador Carlos, o que importa é a margem líquida por hectare. A melhor referência é um produtor com 28 litros/vaca, com média de 4 quilos de ração, o qual une estratégia alimentar com genética, sendo que a segunda define a primeira. “A forrageira deve ser determinada pelo apetite da vaca, finalizou”.