O produtor também conta com lavoura para cultivo de milho e soja na propriedade, mas não registrou perdas na agricultura devido ao último temporal. Do susto de terça-feira, fica mais um aprendizado: “com dificuldade, mas vamos passar por cima de mais uma”, referindo-se aos problemas de variação climática enfrentados em sequência no Estado gaúcho, que registrou estiagem forte, enchentes e ciclone nos últimos anos.
Apuração das perdas
De acordo com dados preliminares da Emater, além de Cruzeiro do Sul, municípios como Estrela, Lajeado e Poço das Antas também tiveram estragos mais substanciais em propriedades rurais. As instalações de suinocultura foram as mais atingidas na região, de acordo com Cristiano Laste, gerente do escritório regional da Emater em Lajeado (RS). “Instalações desabaram com o vento, implodiram com os animais dentro”, relata.
Também houve vários casos de quedas de árvores e de interrupção de energia elétrica, deixando muitas propriedades sem comunicação. Outro setor afetado é a produção de leite, tendo em vista que a falta de energia elétrica inviabiliza o armazenamento do produto na fazenda. “Hoje estamos fechando 48 horas sem energia em algumas localidades, dessa maneira, o produtor tem que descartar o leite”, ressalta Cristiano.
Somente os produtores que possuem gerador próprio de energia estão com o andamento normal da produção. O escritório ainda trabalha no levantamento dos dados das perdas. Darlan Palharini, secretário executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados (Sindilat) do Rio Grande do Sul, afirma que o último temporal não chegou a atingir de maneira representativa a captação de quase 11 milhões de litros de leite por dia no Estado. “Há problemas de captação pontuais e as perdas devem ser de um percentual muito pequeno, não chegando a 1%”, acredita.
Ele destaca que o produtor de leite, hoje, tem infraestrutura, o que inclui gerador próprio de energia. Além disso, a captação pode ser feita em até 48 horas. Mas admite que o pequeno produtor pode ter perdas mais significativas.
“O produtor de leite já tem uma margem de lucro ajustada, então, nesse caso, fica difícil, porque ele acaba tendo que arcar com o prejuízo”, observa.
A Secretaria de Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul informa que a Emater está trabalhando no levantamento das perdas nas propriedades rurais, por meio do sistema de registro de perdas (Sisperdas), no qual os extensionistas rurais do órgão lançam informações referentes aos municípios de atuação. “Ainda temos situações de falta de energia elétrica e de internet o que prejudica os lançamentos”, explicou à reportagem a assessoria de imprensa da Emater-RS.
Outro município gaúcho com registros de perdas nas propriedades rurais é Venâncio Aires. Ornélio Sausen, presidente do Sindicato Rural da cidade, conta que o temporal deixou consequências “desastrosas”. De acordo com ele, houve danos em lavouras de milho e de fumo e prejuízos em galpões de avicultura instalados na região, incluindo a perda de animais.
Sausen calcula em torno de 25% de perdas nas lavouras de milho e de 20% de perdas nas plantações de fumo, mas adverte que os percentuais ainda serão apurados. “Em algumas lavouras, a situação está bem crítica”, pontua.
Na propriedade de Cássio Fernando Hermes, localizada na área rural de Venâncio Aires, o vendaval chegou a arrancar um eucalipto com cerca de 80 anos. “Agora vamos usar a madeira para cerca”, diz. E completa: “foi aterrorizante o vendaval. Só tivemos a dimensão exata quando o dia amanheceu”. Na lavoura, onde produz fumo e milho, assim como com a criação de gado de corte, o produtor não registrou problemas dessa vez.
Adaptação ao clima
Cristiano Laste, do escritório regional da Emater em Lajeado, enfatiza que o produtor gaúcho está passando por um período de adaptação ao clima. “O produtor terá que se moldar, conforme a necessidade e as adversidades do clima. Daqui para frente, terá que haver uma organização muito grande nas propriedades para evitar prejuízos”, alerta.
O especialista sugere atenção a fatores como reservas alimentar e financeira nas propriedades e investimentos em equipamentos como gerador próprio de energia. “Ele terá que buscar segurança para a produção”, afirma. E, ainda, rever o planejamento de áreas com reflorestamento, considerando um manejo adequado e propondo a substituição de espécies de árvores maiores próximas a redes de energia, por exemplo. “Em alguns casos, é indicada a substituição por árvores de porte menor, com uma estrutura mais adequada”.
Temporal no RSA Defesa Civil divulgou na manhã desta quarta-feira (17/01) que ao menos 49 cidades do Rio Grande do Sul registraram estragos causados pelo temporal que atingiu o Estado na noite de terça. Os danos são consequência da chuva e vento fortes, queda de granizo e descargas elétricas. Em Cachoeirinha, uma pessoa morreu e mais de 100 pessoas ficaram desalojadas. Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em Teutônia o vento chegou a 126,7 km/h.