Entre os dias 19 e 23 de fevereiro, 117 empresas brasileiras participaram da Gulfood, a maior feira de alimentos e bebidas do Oriente Médio. A presença no evento é estratégica para os exportadores brasileiros, pois reforça o relacionamento com os compradores da região, que é altamente dependente de importação do agronegócio. Para os compradores, sustentabilidade e produção halal são diferenciais.
De acordo com Ana Paula Repezza, diretora de Negócios da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), que organizou a delegação do Brasil, a produção brasileira é sustentável em diferentes aspectos. “O nosso produto é reconhecido aqui por ter altos padrões de sustentabilidade, desde grandes empresas, as produtoras de proteínas que têm todo um processo de rastreabilidade que garante que aquele animal não foi criado em áreas desmatadas, até os pequenos produtores”, explica.
Outro importante fator de sustentabilidade da participação brasileira na Gulfood 2024 foi o grande número de cooperativas. “A gente tem cooperativas ligadas ao segmento de grãos, de arroz, de carnes, e elas têm um importante papel no que toca à sustentabilidade social, já que em sua maioria elas são formadas por pequenos produtores, da agricultura familiar, e são responsáveis pela fixação dessas famílias no campo”, explicou Repezza.
Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), reiterou a relevância da participação dos produtores de menor porte. “Antigamente tínhamos exportação de grandes empresas e agora a gente trouxe ao projeto as cooperativas, empresas menores exportadoras, democratizando o acesso às informações e à própria feira. Além das empresas que estão aqui, outras que ainda não têm um tamanho para ter um estande estão representadas e conseguem usar o espaço para projetar uma inserção maior na exportação”, celebra.
Feijões e pulses: sustentabilidade e segurança alimentar
Outro destaque sustentável nas exportações brasileiras para a região são as leguminosas, conhecidas como pulses. O feijão, por exemplo, é um alimento extremamente altamente proteico e representa a menor demanda de recursos naturais por quilo de proteína entregue. A pegada de carbono da produção é tão baixa que pode até chegar a ser negativa, já que a cultura necessita de pouca água e pode melhorar a absorção de carbono e fixação de nitrogênio no solo, o que contribui para a diminuição do efeito estufa.
Uma inovação da edição da Gulfood 2024 foi a participação, em parceria com Instituto Brasileiro do Feijão, Pulses e Colheitas Especiais (IBRAFE), de empresas do setor em rodadas de negócios durante a feira. O objetivo da ação é explorar as potencialidades do mercado, especialmente para gergelim e pulses, que são altamente demandados no Oriente Médio.
Para o evento, foram convidados compradores de diversos países, como Índia, China, Paquistão, Turquia e da Europa, com objetivo de geração de contatos e negócios. “No último ano, a ApexBrasil apoiou 15 empresas de pulses, que exportaram US$ 350 milhões. A expectativa é que, com ações desse tipo, esses resultados sejam ultrapassados esse ano”, destaca Ana Repezza.
Proteínas animais certificadas
No mercado de proteínas animais, além da sustentabilidade ambiental e social, outro aspecto importante é a certificação halal, que atesta produção de acordo com as diretrizes islâmicas. Hoje, o Brasil já é reconhecido nesse mercado e tem conquistado cada vez mais espaço.
Atualmente, o país já é o maior fornecedor global de frango com certificação halal. O marcado islâmico ganhou tanto destaque para os exportadores brasileiros que em 2022 o Oriente Médio se tornou o principal destino das nossas carnes de frango. A região já representa um terço do total exportado do Brasil para o mundo.
Para estimular esse mercado, a ApexBrasil desenvolve, em parceria com a Câmara de Comércio Brasil-Árabe (CCAB), o projeto “Halal do Brazil”, que viabiliza a exportação aos mercados muçulmanos. Para Rafael Solimeu, chefe do escritório da CCAB em Dubai, “esse projeto mostra para os árabes e para o mundo islâmico em geral, um mercado gigantesco, que o Brasil é um país sério, que sabe produzir produtos com alto valor agregado, halal, e eles podem confiar na gente”.
O crescimento das exportações brasileiras para a região está refletido no tamanho do pavilhão brasileiro de proteínas animais na Gulfood. O presidente da ABPA, Ricardo Santin, celebrou a evolução. “Quando começamos aqui na Gulfood com a ApexBrasil tínhamos um estande de 36 m², pequenininho, discreto, buscando um espaço. Este ano estamos com um estande de mais de 500 m², mostrando o protagonismo do Brasil como o maior exportador de carnes de aves do mundo, e o maior exportador de carne halal. Fazemos vendas de mais de US$ 4 bilhões por ano para esses mercados”, destacou.
No pavilhão de carnes bovinas, as perspectivas de negócios também são positivas. Segundo Carlos Rogério, diretor de relações governamentais da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), o Oriente Médio representa cerca de 15% das exportações do setor. A expectativa é que a feira gere em torno de US$ 1 bilhão em negócios fechados.
Para promover ainda mais a carne halal brasileira na Gulfood 2024, a ApexBrasil, em parceria com a CCAB, levou o chefe Ian Baiocchi, para participar do principal festival gastronômico da feira, que reúne chefes do mundo todo. A agenda do chef incluiu uma masterclass, rodadas de entrevistas com jornais locais, além de participar de um jantar, preparado a quatro mãos junto com um chefe francês, em um restaurante renomado de Dubai.