Há cerca de quatro anos, a neuropsicopedagoga Elisangela Ferreira de Sousa Dias foi convidada por uma amiga para participar de um curso de artesanato com fibras naturais da bananeira. “O curso do Senar mudou a minha vida”, disse ela, emocionada, prestes a inaugurar o próprio box no Mercado Municipal de Balsas, onde pretende comercializar bolsas, chapéus, acessórios pessoais e de decoração, e embalagens para presentes. Tudo produzido por ela e uma dezena de parceiras a partir da fibra da bananeira e do buriti, frutos do conhecimento que adquiriram no Programa de Formação Profissional Rural, oferecido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) em todo o Maranhão.
“Comecei a fazer o artesanato em casa, como estratégia de arteterapia, e hoje sou artesã profissional, com muito orgulho e amor. Comercializo minhas peças em uma loja online no Instagram e WhatsApp, e atendo demandas de atacado com a parceria de outras artesãs também formadas pelo SENAR, e que fazem parte da Associação das Artesãs de Balsas [APAB]. Já fechamos venda até para o Japão”, orgulha-se a arteterapeuta e artesã.
Antes de inaugurar sua loja física independente, Elisângela já havia se tornado também fornecedora da ACAPE, loja que distribui produtos típicos de Balsas e região, de forma fracionada e embalada para presente. “Compramos de pequenos produtores, artesãos, associações e cooperativas. Esses são os nossos principais fornecedores, porque queremos realmente valorizar o que é produzido aqui e ajudar a divulgar a nossa região”, explica Apoliane Pereira da Silva, empreendedora que se orgulha de vender produtos do agro vindos direto do campo da região sul e ganham o coração de turistas e moradores da região.
Mas, se no artesanato a presença feminina sempre foi dominante, em outras áreas relacionadas ao agro a liderança, que sempre esteve predominantemente em mãos masculinas, tem experimentado um maior equilíbrio entre os sexos.
Novos espaços – Exemplo disso é que neste primeiro trimestre o Senar já treinou ou está treinando cerca de 50 mulheres no curso de operação e manutenção de tratores agrícolas.
O curso tem carga horária de 40h e faz parte das soluções de formação profissional rural que o Senar oferece gratuitamente em todo o Maranhão.
A capacitação é focada no conhecimento prático, esperando-se que os participantes sejam totalmente capazes de operar e realizar a manutenção das máquinas agrícolas, que são usadas na cadeia produtiva que fazem parte.
De acordo com levantamento feito pelo Senar-MA, os sindicatos rurais do estado demandaram 16 turmas do curso de operação e manutenção de tratores agrícolas nos meses de janeiro e fevereiro de 2024. Dessas, três turmas foram formadas exclusivamente com mulheres: uma delas formou 10 mulheres em Aldeias Altas, e duas turmas capacitaram 20 mulheres em Campestre – esta última uma iniciativa em parceria com a empresa Maity Bioenergia, que transforma cana de açúcar em etanol anidro, etanol hidratado, açúcar e bagaço de cana.
Em processo de ampliação da mecanização do plantio e cultivo da cana, a empresa decidiu treinar 20 funcionários homens e 20 funcionárias mulheres para que tenham a oportunidade de mecanizar parte de suas atividades de cultivo e corte da cana, que vinham sendo executadas de forma manual. Além de tornar a produção mais eficiente, a capacitação vai contribuir para que a atividade se torne mais leve para essas mulheres, que vem se destacando em uma área profissional normalmente dominada por homens.
Mulheres como Irene Vieira, que antes apenas observava os rapazes que trabalhavam nos tratores. “Via eles passando e pensava: ‘Deve ser muito legal andar aí dentro’. Hoje estou pilotando as mesmas máquinas, depois de achar que nunca teria essa oportunidade”, comemora a funcionária. Sua colega, Raimunda Ribeiro, que há dois anos trabalha no processo de corte manual de cana também não imaginava que teria essa oportunidade. “Isso pra mim é um sonho. Nunca imaginei pegar num volante de um trator, e, pra mim, é uma conquista muito grande eu estar aqui, hoje, dirigindo, e quem sabe amanhã me torne uma operadora de máquina”, compartilhou a trabalhadora rural, enquanto controlava a máquina agrícola, durante a capacitação realizada no final do mês passado.
“Histórias assim, além de nos emocionarem, concretizam uma realidade que estamos vendo acontecer, que é o fortalecimento da liderança feminina no agro, seja na gestão das propriedades, na carreira profissional e também na liderança sindical”, pontua o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Maranhão, Raimundo Coelho.
A ampliação da presença feminina no agro é percebida também nas estatísticas do setor. De acordo com o Observatório das Mulheres Rurais do Brasil, levantamento feito pela Embrapa, no Maranhão, as mulheres dirigem 44.854 propriedades rurais, enquanto os homens são responsáveis pela gestão de 174.696 propriedades rurais.
Com relação à ocupação, mais de 4,3 milhões de mulheres trabalham nos campos maranhenses. Os homens trabalhadores rurais são 10,7 milhões.