A pecuária de corte do Brasil tem grande relevância para o PIB nacional e consagra o país como o maior exportador de carne bovina há alguns anos. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes apenas até maio neste ano o volume embarcado já soma 735,038 mil toneladas. Embora tenha o maior rebanho bovino do mundo, com mais de 212 milhões de cabeças, o país perde para os Estados Unidos quando falamos de tonelada equivalente e carcaça. Isso está diretamente ligado ao sistema de produção adotado, sendo quase a totalidade do rebanho norte americano produzido em confinamento, enquanto no Brasil a larga maioria dos rebanhos ainda é criada no sistema extensivo de pastagem.
O confinamento foi inserido no Brasil como uma ferramenta de manejo para superar as adversidades sazonais que interferem nas pastagens, mas ganha cada vez mais lugar por se mostrar uma estratégia certeira para manter regularidade no ganho de peso do animal e tem um custo atrativo. A adesão do sistema de criação de bovinos em confinamento teve um aumento de 2% no ano de 2021, e chama a atenção do produtor pois permite a redução da idade dos animais ao abate, uma melhor qualidade na carne produzida, carcaças mais bem acabadas e mais bem padronizadas para a comercialização.
Diferentemente do sistema extensivo, a criação em confinamento exige do produtor um cuidado maior com o rebanho, principalmente no quesito sanidade. Na maioria das vezes, e principalmente nos chamados Boiteis, os lotes de terminação em confinamento são formados por animais de origens distintas e necessitam de intervenções para que, logo na entrada, haja um nivelamento básico da saúde destes indivíduos iniciado com o controle de parasitos internos e externos além de vacinações do lote. Ainda neste período inicial, é recomendado que exista uma verificação mais detalhada da saúde destes animais, onde os animais visivelmente doentes são retirados do lote e destinados à tratamento no piquete de enfermaria.
Os primeiros 45 dias de confinamento são os mais desafiadores para o gado, especialmente nas 3 primeiras semanas. Neste período, as rondas sanitárias precisam ser mais frequentes e criteriosas para observar seu estado geral.
“A Doença Respiratória Bovina (DRB) é a enfermidade que mais mata os animais em confinamento, e seus fatores predisponentes estão, em sua grande maioria, relacionados às situações de estresse as quais os animais são submetidos na transição entre propriedades, como transporte por longas distâncias com racionamento de água e alimentos, formação de novos lotes e mistura de animais de origens múltiplas que os expõe à patógenos diferentes dos quais o sistema imune está adaptado para combater. A mudança na dieta, a formação de novos lotes com disputas por hierarquia, a restrição do espaço individual também são fatores estressantes que predispõem a ocorrência da DRB nos animais recém-confinados”, conta Marcos Malacco, médico-veterinário e gerente de serviços veterinários para bovinos da Ceva Saúde Animal.
A doença, de característica multifatorial, acontece por um desequilíbrio das defesas naturais das vias aéreas respiratórias superiores dos bovinos, fator que favorece a proliferação local de agentes infecciosos, especialmente das bactérias que habitam naturalmente as vias aéreas destes animais, e a sua migração para os pulmões. A multiplicação bacteriana promove uma resposta inflamatória do organismo, o que agrava o quadro e tem maior potencial de levar o animal ao óbito rapidamente.
Na maioria das vezes os confinamentos dos bovinos de corte coincidem com o período mais seco do ano nas regiões tropicais e com o inverno nas regiões de clima temperado. Estas épocas contribuem para o excesso de poeira, além de maior amplitude térmica ambiental (diferença entre as temperaturas médias mínimas e máximas durante o dia), que podem resultar em maior número de casos da DRB. O acúmulo de matéria orgânica e umidade nos currais de confinamento também pode contribuir para a produção de gases irritantes para as vias aéreas.
Sinais indicativos de DRB englobam depressão, queda no apetite, cansaço e relutância em caminhar pelo curral, tosses e espirros, desidratação (“olhos fundos”), lacrimejamento e corrimento nasal. Além do aumento da taxa de mortalidade no confinamento, os animais afetados pela DRB têm o ganho de peso médio diário (GMD) severamente comprometido, demandando um maior tempo confinado para alcançar o peso de abate e prejudicando a qualidade e o rendimento da carcaça pós abate.
Os animais com suspeita da doença devem ser tratados rapidamente, com o intuito principal de frear o processo inflamatório o mais rápido possível e eliminar a infecção bacteriana.