A ala agrícola do governo federal deverá chamar as entidades do setor produtivo das carnes para avaliar possíveis medidas para a redução dos preços das proteínas. Mas não há nenhuma iniciativa no horizonte até agora, dizem fontes a par do assunto, e a possibilidade de subsidiar a compra de alimentos já foi descartada oficialmente pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
A promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que a população voltaria a comer picanha barata, tem gerado um nó na cabeça dos técnicos da Esplanada dos Ministérios. A alta nos preços das carnes e de alimentos em geral tem afetado a popularidade do governo e preocupado os auxiliares do Planalto de olho nas eleições de 2026.
No caso das carnes, o cenário de alta nos preços é influenciado pelo número maior de abates nos últimos dois anos, em especial de fêmeas. No fim de 2024, com o início da inversão do ciclo pecuário, começou a diminuir a oferta de animais para serem abatidos. A previsão é de diminuição na produção de carne bovina e consequente alta nos índices nas gôndolas dos supermercados.
Os ministros da Agricultura, Carlos Fávaro, e do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, devem dialogar previamente com setores produtivos antes de anunciar medidas. O objetivo é não repetir crises entre governo e produtores como ocorreu no ano passado no caso da importação de arroz.
Na primeira reunião com setor produtivo gaúcho após as enchentes de abril e maio no Rio Grande do Sul, o governo federal chegou com uma proposta pronta de estimular a importação de arroz da Ásia, adquirir o produto por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e repassá-lo a preços subsidiados a pequenos varejistas das periferias das grandes cidades. Tudo isso, nas justificativas oficiais, para evitar sobressaltos nos preços aos consumidores finais por conta da especulação no mercado sobre possível falta do produto — o Estado afetado pela catástrofe climática, produz mais de 70% do arroz brasileiro.
A medida gerou revolta dos produtores gaúchos, que garantiram que não faltaria arroz. O governo insistiu na proposta e realizou um leilão para aquisição do cereal importado em junho de 2024. O certame foi rodeado de polêmicas e de suspeitas de favorecimento de bolsas de mercadorias e empresas cujos donos tinham vínculo com agentes públicos.
O então secretário de Política Agrícola, Neri Geller, e o diretor de Operações e Abastecimento da Conab, Thiago dos Santos, foram demitidos. O presidente Lula disse, na época, que houve “falcatrua” no leilão.
“Escaldado” com a situação, o governo não quer se precipitar, disse uma fonte próxima a ele. Por isso, deve conversar em breve com produtores de carnes. As principais associações do setor ainda não haviam sido oficialmente chamadas para a reunião até a noite desta quinta-feira (23/1).
“Não deu certo [o leilão] e o ministro [Fávaro] ainda ficou com a imagem malvista pelo setor. O melhor a ser feito é aguardar a colheita, que pode ajustar preços no mercado. Toda intervenção deixa resíduo inconveniente no mercado”, disse uma fonte de Brasília.
Para o arroz, sempre nos holofotes por fazer parte do prato típico dos brasileiros, não há nenhuma medida específica em elaboração, contou.
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Nota do AviSite: Vide, a propósito desse assunto, “Preço pago pelo consumidor pela carne de frango em 2024 foi inferior ao de dois anos atrás” |