As cooperativas se integraram verticalmente no agronegócio brasileira, ou seja, passaram a processar a produção chegando muitas vezes com marcas reconhecidas nas mesas dos consumidores.
As cooperativas exercem um papel equilibrador no mercado de insumos agrícolas, algumas realizando compras técnicas que desafiam as empresas e os sistemas de vendas que nem sempre se preocupam com a saúde financeira dos produtores. Comprar bem resulta de um trabalho bem conduzido de avaliação das soluções existentes no mercado. Muitas vezes os campos de experimentação montados pelas cooperativas balizam as decisões dos cooperados.
Quem explicou com exclusividade para a MundoAgro esta questão foi Decio Zylbersztajn, professor da FIA Business School. Segundo ele, as cooperativas desenvolvem programas de orientação das famílias dos membros, que muitas vezes encontram nelas um ponto de acolhimento para a tomada de decisões coletivas que extrapolam os problemas de produção e comercialização. “As cooperativas de crédito ganharam musculatura nas últimas décadas e passaram a competir com o sistema financeiro privado. Tal situação é saudável e representa um passo para a melhoria da eficiência do mercado de crédito”, disse.
As cooperativas na área da proteína animal, de modo particular em suínos e aves, representam parcela significativa da produção e exportação. “Assim chamadas, integrações, se adequam ao modelo cooperativista com base em estruturas federadas. Ou seja, cooperativas singulares associadas configurando uma central que coordena com economias de escala, as estratégias das singulares. Essas por sua vez podem se aglutinar em federações com força de representação setorial Desde a escolha das tecnologias mais adequadas, até a logística de distribuição e a definição de operações nos mercados internacionais, a presença das cooperativas representa um suporte fundamental para os produtores”, afirmou Decio Zylbersztajn.
Ele aponta que há um desempenho diferenciado entre regiões. “É um fato que as cooperativas do sul e sudeste do país tem operado na linha de frente da eficiência e inovação. O tema da governança cooperativista também se apresenta de maneira diferenciada, embora não se possa generalizar. Uma das razões para tal assimetria tem a ver com a cultura cooperativista presente nas famílias de imigrantes alemães, italianos, holandeses, japoneses, entre outros. Por gerações a cooperação representou uma maneira para os imigrantes superarem as dificuldades de se estabelecerem. A cooperação é uma maneira de superar as barreiras encontradas”, afirmou. “De alguma forma, o crescimento das cooperativas e a inserção das comunidades de imigrantes na sociedade brasileira sugere que no presente os desafios são diferentes. A intercooperação, a expansão das atividades das cooperativas de sucesso, sugere que as novas gerações dos agricultores terão desafios novos a serem enfrentados”, destacou.
As relações das cooperativas com o governo
As lideranças cooperativistas são, em geral, agentes com significativa força social e regional. As organizações estaduais, a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), as lideranças das federações de cooperativas dos diferentes ramos, são agentes políticos disputados pelos partidos e agremiações. “Se observarmos os casos bem-sucedidos de cooperativas e lideranças que passaram pelo teste do tempo, eu diria que encontraremos líderes que souberam utilizar o peso da sua representatividade mantendo certo equilíbrio no trato do tema ideológico”, afirmou Decio Zylbersztajn.
Segundo ele, o presidente da OCB tem cadeira cativa nos fóruns onde se definem os destinos da agricultura brasileira. “Inclusive coloco aqui alguns pontos de atenção: em um ambiente de marcada instabilidade econômica e política, as cooperativas e suas lideranças ganham um papel ainda mais relevante. O cooperativismo nasceu em meio à crise causada pela revolução industrial. A primeira cooperativa foi uma cooperativa de trabalho. Hoje, se olharmos para a agricultura, perceberemos a grande complexidade à qual os agricultores estão sujeitos. As mudanças no ambiente político internacional, as mudanças climáticas, as mudanças tecnológicas, entre outras, nos informam ser necessário que as redes de apoio aos agricultores se fortaleçam”, detalhou.
Necessidades prementes para as cooperativas
- Criação e manutenção de estruturas especializadas em inteligência de mercado e estratégia, visando dar subsídios às decisões das diretorias e conselhos.
- Avançar com a agenda de governança cooperativista, tema difícil e ainda pouco trabalhado pela maior parte das cooperativas.
“É importante estimular as universidades a manterem programas de pesquisa em organizações cooperativas. O Brasil sempre contou com pesquisadores excelentes nessa área como Roque Laushner, Diva Benevides Pinho e Sigismundo Bialoskorski. As universidades não devem perder a oportunidade de manter projetos sintonizados com as necessidades e desafios das cooperativas. O PENSA na FIA e na FEA-USP sempre esteve sintonizado com o tema. E também, revisar as estratégias de internacionalização das cooperativas brasileiras. Nossos produtos estão presentes nos mercados globais, mas as nossas cooperativas talvez percam oportunidades que as empresas de capital perseguem. Este tema mereceria aprofundamento”.