Diretor de Conhecimento da Prodap destaca três fatores para a redução da emissão de metano dos bovinos
Guilherme Reis é diretor de Conhecimento da Prodap.
Mais de 100 nações, inclusive o Brasil, anunciaram na Conferência do Clima (COP-26), na Escócia, que se comprometerão a reduzir as emissões de metano em 30% até 2030 – o chamado Acordo do Metano. E é nítido o aumento da pressão global sobre a pecuária brasileira como grande emissora de metano, proveniente do processo digestivo dos bovinos, tendo o Brasil um dos maiores rebanhos do mundo. Além disso, no País, quase 72% das emissões de metano vêm da agropecuária, conforme dados do Sistema de Estimativa de Emissões de Remoções de Gases de Efeito Estufa.
Mas, fica a pergunta: quais seriam os caminhos para o Brasil cumprir a nova exigência? De acordo com Guilherme Reis, diretor de Conhecimento da Prodap, empresa mineira de soluções em gestão para a pecuária de corte, leite e fábricas de ração animal, uma saída viável está concentrada em três pilares – preservação do equilíbrio, nutrição eficiente e ganho de produtividade.
“Unidos, esses fatores permitirão uma evolução da pecuária brasileira, direcionada para a sustentabilidade e agregando um valor ainda maior ao produto nacional”, destaca o especialista.
Preservação do equilíbrio: solo, animal e planta
A pecuária de corte brasileira tem uma grande vantagem competitiva em relação aos outros países devido ao sistema de produção ser em grande parte baseado em pastagens. Quando é respeitado o equilíbrio entre solo, planta e número de animais no pasto, são criadas condições ideais para aumentar o número de plantas por hectare, ou seja, o número de pés de capim por hectare, e para que as plantas tenham raízes mais fortes e maiores.
Além disso, esse equilíbrio permite que se tenha na superfície do solo uma cobertura de material orgânico proveniente da senescência do capim, que vai caindo e cobrindo o chão, aumentando a matéria orgânica no solo e, consequentemente, eleva o estoque de carbono no local.
“Isso quer dizer que a pastagem, quando bem manejada, é uma fonte para conseguirmos trabalhar o sequestro de carbono que vai mitigar ou até neutralizar as emissões dos bovinos. Diversos estudos nacionais e internacionais mostram que esse é um caminho altamente factível a ser implementado. Manejar bem o pasto é um dos pontos-chave para o pecuarista brasileiro se adequar para que seja possível alcançar as metas de redução de emissão propostas”, avalia Reis.
Entretanto, é importante o alerta que o Brasil tem muitas pastagens em processo de degradação. Processo esse que ocorre quando há mais animais no pasto do que é suportado, gerando desequilíbrio e prejudicando as plantas e o solo. Menos capim significa menos raízes, deixando o solo mais pobre, com diminuição de carbono.
“Sistemas de gestão e de análise para definir o quanto de animais colocamos em determinada área são essenciais para mantermos esse equilíbrio e evitar a degradação”, comenta o executivo.
Nutrição eficiente
A nutrição tem impacto direto na estratégia para reduzir a emissão dos bovinos. Quanto melhor a qualidade nutricional do alimento, menor a emissão a ser gerada pelo gado, seja via cocho com confinamento ou via manejo de pasto eficiente, que além de manter o equilíbrio solo/animal/planta, propiciará um capim de maior valor nutritivo.
Mais um ponto a se trabalhar com a nutrição é pela manipulação ruminal. Existem micro-organismos dentro do rúmen (primeiro compartimento do estômago) que favorecem a produção de metano e há outros que contribuem para a emissão de energia no processo fermentativo e reduzem a liberação de metano como subproduto do processo digestivo. Com isso, é possível introduzir, dentro dos suplementos que os animais ingerem hoje, substâncias que vão promover uma redução na emissão de metano e um consequente aumento de energia para o animal.
É importante desmistificar também a nutrição com protocolos gerais e implementar a nutrição com protocolos específicos, por necessidade das fazendas. No processo de suplementação mineral, por exemplo, é necessário oferecer ao gado aquilo que o animal realmente precisa, e não ter um protocolo padrão que levará ao desperdício de vários nutrientes e impactará expressivamente no processo de emissão de metano em toda a cadeia de suprimentos.
Batendo na tecla da produtividade
Ao combinar os dois pilares acima, é notável o ganho de produtividade. Quanto menor o tempo de permanência do animal na fazenda e menor a idade para o abate, menos metano esse animal vai liberar. Se o gado tem menos liberação de metano, mas com a mesma produção de carne, teremos uma menor emissão por unidade produzida.
Em resumo, é interessante a promoção de um trabalho educacional para que o pecuarista respeite a relação solo/planta/animal, para não entrar em processo de degradação das pastagens; treine a equipe de campo e implemente sistemas para ajudar na gestão do pastejo, para uma coleta eficiente do capim; use bem os recursos, para ter ganho de produtividade; e ofereça uma nutrição balanceada e eficiente, para maximizar o ganho de peso.
“Essas são as alavancas para traçarmos o caminho da sustentabilidade na pecuária brasileira e estarmos alinhados globalmente para a redução das emissões de metano, trazendo mais confiança e valor para a carne produzida no Brasil”, finaliza o especialista da Prodap.