Apesar da produção recorde em 2024, a disponibilidade de animais está reduzida e os estímulos produtivos substancialmente deprimidos.
Líder nas importações globais e 3º maior produtor de carne bovina, a China iniciou 2025 registrando queda em suas compras externas da proteína, importando 475 mil toneladas no 1º bimestre, 11,3% a menos que no mesmo período de 2024. Esse retrocesso se deve tanto às importações elevadas em 2024 quanto às dificuldades econômicas internas e à maior produção de carne bovina da história, de 7,8 milhões de toneladas (+3,5%), registrada no ano passado. Apesar do recorde na produção, o rebanho bovino chinês diminuiu 4,4% em relação a 2023, o que marca a maior liquidação em 13 anos, refletindo uma crise no setor leiteiro, que impactou a produção de carne bovina. O excesso de oferta de leite no mercado chinês e o envelhecimento da população são alguns dos principais fatores que têm pressionado os preços do leite no país, levando à desova de vacas leiteiras e ao abandono em massa da atividade, evidenciado pela queda de 2,8% na produção de leite da China em 2024. Isso resultou em preços baixos para carne e gado, hoje próximos das mínimas de 6 anos, e uma relação de troca desfavorável para os produtores, com o poder de compra do gado frente ao milho 16,5% abaixo da média histórica, um cenário que desestimula substancialmente novas expansões da produção de carne bovina do país, uma grande sinalização para a avaliação de suas perspectivas.
A China segue dependente de importações para suprir a demanda interna, apesar da desaceleração das compras no início de 2025. A redução dos estoques de gado e o espaço cada vez mais limitado para novos incrementos na produção doméstica indicam que as importações podem voltar a aumentar na segunda metade do ano, especialmente caso a demanda interna se fortaleça como sinalizado pelo governo chinês, um quadro que contribuiria fortemente para interromper a trajetória de baixa dos preços locais do boi e da carne bovina, em curso desde o início de 2023. Além disso, no caso da carne suína, que reduziu a produção em 2024, as importações já tem voltado a aumentar no ano corrente, sugerindo que a China pode estar mudando sua estratégia de abastecimento, mantendo algum foco em compras externas para manter a produção local economicamente viável visando evitar excessos de oferta, como ocorreu em 2023. Se essa tendência se confirmar, o impacto sobre as importações de carne bovina tenderia a ser ainda mais significativo, dado que a China depende em maior medida de fornecimento externo de carne bovina (~ 33%) do que de carne suína (~ 3-5%). Embora 2025 tenha começado com uma redução nas importações chinesas, a combinação de estoques de gado reduzidos, preços internos pressionados e relação de troca desfavorável pode impulsionar novamente suas importações de carne bovina nos próximos meses, justificando a expectativa da DATAGRO de queda de 2,6% na produção chinesa de carne bovina para o ano corrente, que mesmo com estabilidade no consumo, tenderia a aumentar a necessidade de importações da proteína no restante do ano.