Taís Cristina Menezes*
O Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking de exportadores de carne bovina e de aves e o quarto lugar nas exportações mundiais de carne suína, o que demonstra o papel estratégico do país no mercado internacional. Entretanto, a cadeia pecuária brasileira é constantemente submetida a exigências impostas por grandes mercados importadores, especialmente restrições relacionadas a barreiras sanitárias, que dificultam ou impedem o acesso dos produtos brasileiros a diversos mercados. Tais exigências intensificaram-se ainda mais após a chegada da pandemia, com o aumento da preocupação do mercado mundial com a qualidade e biossegurança dos alimentos.
Nesta conjuntura, no dia 4 de setembro de 2021, foram identificados dois casos atípicos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) – conhecida como o “mal da vaca louca” – no Brasil. Dois dias após a confirmação dos casos, a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) declarou que o status sanitário do Brasil em relação à doença não seria alterado, pois casos atípicos de EEB não representam risco significativo para a cadeia de produção de carne nem para a saúde pública em geral. Ainda assim, o anúncio dos casos culminou em suspensão dos envios da carne à China (principal destino internacional da proteína brasileira) e em fechamentos temporários de alguns mercados.
O Egito e a Arábia Saudita, terceiro e sexto maiores destinos da carne bovina do Brasil, respectivamente, fecharam seus mercados por 10 dias após a confirmação dos casos. Contudo, é a suspensão dos envios ao mercado chinês que tem sido motivo de grande apreensão de exportadores brasileiros – os embarques de carne bovina para a China estão suspensos desde o dia 4 de setembro, sem previsão de retomada, apesar da manutenção do status de risco insignificante para EEB no Brasil.
Concomitantemente, todo o continente norte-americano está em alerta após a identificação de casos de Peste Suína Africana (PSA) na República Dominicana em julho de 2021. Desde 2018, o mundo tem acompanhado a explosão de casos de PSA na China e a detecção da doença em outros países, inclusive na Europa. A PSA pode eliminar rebanhos inteiros de suínos, por ser causada por um vírus altamente contagioso. Em resposta à incursão da PSA na República Dominicana (primeiro surto nas Américas), a OIE aconselhou os países a intensificarem seus esforços de vigilância. Os Estados Unidos, por exemplo, estabeleceram uma zona de proteção em Porto Rico e nas Ilhas Virgens, pela proximidade com a República Dominicana. Embora ambas as áreas não estejam localizadas no território contíguo dos Estado Unidos, se casos de PSA forem detectados, as restrições às exportações de carne suína afetarão o país por completo.
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*Taís Cristina Menezes é Pesquisadora do Cepea.