Depois de encerrar um trimestre com resultados positivos, com direito a anúncio do primeiro pagamento de dividendos aos acionistas desde 2016, a BRF dá mais um passo em sua estratégia de internacionalização. A empresa de alimentos, controlada pela Marfrig, fechou a compra, por R$ 250 milhões, de uma fábrica de processados de carnes na cidade de Zhoukou, na província chinesa de Henan. Com a planta, adquirida da Henan Best Foods Co. Ltd, a BRF passa a ter operação industrial na China, onde já comercializa seus produtos, e busca expandir a atuação na Ásia.
Além do valor da compra, a BRF vai investir mais R$ 210 milhões em adequações na unidade e na expansão de duas linhas de hambúrguer. Atualmente, a fábrica tem capacidade de processamento de cerca de 30 mil toneladas por ano.
Ao Valor, o presidente do conselho de administração da BRF e da Marfrig, Marcos Molina, disse que o “investimento representa o avanço da BRF em uma nova fase de crescimento após dois anos e meio da redefinição do foco estratégico da empresa”. Desde então, afirmou, “a companhia apresentou uma trajetória de sucessivos avanços, começando pelas melhorias em eficiência operacional e pela revisão da estrutura de capital, com a entrada dos sócios estratégicos Salic (Saudi Agricultural and Livestock Investment Company) e PIF (Public Investment FundPIF, fundo soberano da Arábia Saudita)”.
Segundo a BRF, os investimentos na unidade devem gerar cerca de 850 novos empregos e permitirão dobrar a capacidade da fábrica, para cerca de 60 mil toneladas por ano. A previsão é que a planta comece a operar sob a gestão da empresa brasileira no primeiro trimestre de 2025.
A aquisição faz parte da estratégia da companhia de ampliar sua presença global por meio da diversificação geográfica e de elevar a oferta de produtos de maior valor agregado. Além disso, ainda terá acesso direto ao enorme mercado chinês.
“A BRF se torna a primeira empresa brasileira de proteínas a ter uma fábrica na China, com vantagem de contar com a parceria da Marfrig, que agrega a experiência de quase nove anos operando no mercado chinês durante o tempo em que estivemos à frente da Keystone Foods”, disse Molina, citando a empresa vendida pela Marfrig à americana Tyson Foods, em 2018.
A matéria-prima utilizada na fábrica em Henan poderá ter origem tanto na China, quanto nas unidades da BRF e da Marfrig, no Brasil, Argentina e Uruguai, que estão habilitadas para fornecer ao mercado chinês. Atualmente, a fábrica chinesa só produz processados de frango, mas o plano é expandir para bovinos e suínos.
Também faz parte do projeto transformar a unidade em um hub de exportação, para atender outros países da Ásia. Mas o gigantesco mercado chinês está em primeiro plano. “A localização da unidade viabiliza o acesso direto a uma região com 100 milhões de pessoas e a um mercado consumidor em plena expansão. De imediato, a operação visa o atendimento ao mercado chinês. Dentro do plano de desenvolvimento serão avaliados os mercados próximos e potenciais”, afirmou Molina.
Henan, a província onde está localizada a fábrica, na região central da China, é a terceira área mais populosa do país asiático, ressalta a BRF. Por sua localização, é um eixo estratégico de logística, conectando as regiões norte e sul do país.
Os itens produzidos na unidade serão comercializados no varejo com as marcas da BRF, sobretudo com a Sadia, que se tornou a marca global da empresa. A fábrica também vai atender o food service chinês, um mercado em crescimento.
A China é a aposta mais recente da BRF para avançar com produção local. Mas a empresa já adota a estratégia na região do Oriente Médio, para atender sobretudo o mercado halal. Tem fábricas nos Emirados Árabes, Arábia Saudita e Turquia. E anunciou, no fim do mês passado, a estreia na produção de frango na Arábia Saudita. Por meio da BRF Arabia Holding Company, joint venture entre a BRF e a Halal Products Development Company (HPDC), adquiriu 26% da Addoha Poultry Company, uma das principais empresas sauditas do setor avícola.
Nesta nova fase, de recuperação, a BRF dá sinais de que continuará perseguindo mais crescimento. Na teleconferência para comentar os resultados do terceiro trimestre do ano, na semana passada, os executivos da companhia disseram que o plano é intensificar os investimentos em 2025. Os números positivos do terceiro trimestre sustentam esse projeto, segundo eles.
A BRF registrou lucro líquido recorde para um terceiro trimestre, de R$ 1,137 bilhão, comparado ao prejuízo de R$ 262 milhões no mesmo período do ano passado. E encerrou o período com a alavancagem (medida pela relação entre a dívida líquida e o Ebitda) no menor patamar de sua história, em 0,71 vez.