Os preços de energia elétrica e o avanço dos preços das carnes podem se tornar o novo fator de pressão para a inflação nos próximos meses, avaliam economistas.
A inflação das carnes, que têm o maior peso dentro do grupo alimentação e bebidas, saiu de 0,52% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto para 2,97% em setembro. Esse comportamento ajudou o grupo de despesas a passar de deflação de 0,44% para inflação de 0,50% na virada do mês.
“O grupo alimentação no domicílio será uma “dor de cabeça” para o IPCA do final do ano, principalmente por conta do grupo de carnes, que já sobe mais de 6,00% no atacado, e tem um peso relevante no índice geral (2,35%). Até por isso, subimos a nossa projeção para o IPCA no final do ano de 4,40% para 4,60%, com viés de alta”, afirma o economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio Leal.
Para Leonardo Costa, economista do ASA, energia e carnes devem continuar pressionando o IPCA nos próximos meses. “Houve uma alta forte do grupo carnes, em linha com o movimento visto nos preços de atacado e que ainda não acabou. Em outubro, a alta deve ser ainda mais forte”, diz.
“A energia elétrica também foi destaque por conta da bandeira tarifária vermelha em setembro e isso deve ficar ainda mais salgado já que, em outubro, a bandeira vira vermelha 2”, complementa.
Avaliação semelhante tem Alexandre Maluf, da XP Investimentos. Ele chama a atenção para a alta dos preços do boi gordo, que devem impactar na dinâmica das proteínas adiante. “Nossa previsão de 6,1% para o grupo ‘alimentação no domicílio’ tem viés altista, mesmo após nosso recente ajuste – a dinâmica de preços do boi gordo, a renda familiar sólida e as exportações recordes de carne registradas em setembro reforçam essa visão”, afirma em comentário distribuído.
Em relação à parte qualitativa, o IPCA de setembro “trouxe sinalizações para todos os gostos”, avalia o economista da G5. Na média móvel trimestral dessazonalizada e anualizada, nota, os serviços subjacentes – grupo acompanhado de perto pelo Banco Central – caíram de 5,41% para 4,59%. Já o dado cheio ficou estável em 4,23% e a média dos núcleos’ subiu de 4,33% para 4,69%. Para Maluf, da XP, os dados reforçam o cenário-base de que os serviços subjacentes oscilarão em torno de 5% ao ano nos próximos trimestres, refletindo a atividade econômica firme e as expectativas de inflação desancoradas.
Ele pondera que, no caso dos serviços, o alívio é pontual e reflete, em grande medida, a queda de 8,75% dos preços de cinema, teatro e concertos, que devem ser devolvidos adiante. Ao mesmo tempo, o recuo de 4,2% para 3,9% dos serviços intensivos em mão de obra podem ser explicados em grande medida pelo item ‘empregado doméstico’, devido a questões metodológicas, diz.
“Por ora, ainda lemos o cenário como o Banco Central, para quem há riscos de que o mercado de trabalho afete a inflação de serviços, mas que nos dados ainda não existem indícios disso. A composição ainda segue com qualitativo favorável e alguns alívios nos núcleos”, avalia o economista-chefe da Sicredi Asset, Luiz Furlani.
De forma geral, no entanto, ele nota que a aceleração da inflação em setembro veio de alimentos e energia – esta última, inclusive, levou a uma revisão para cima do IPCA para 2024, da Sicredi Asset, para 4,6%.
“Esperamos retorno à bandeira amarela em dezembro e alguma melhora das condições energéticas para 2025. Ainda assim, há riscos vindos da alimentação no domicílio, por conta da virada do ciclo da pecuária, que deve ganhar força após um ano de abate recorde de fêmeas”, diz. A Sicredi Asset vê inflação em 3,6% no ano que vem.
Para Carlos Thadeu, economista da BGC Liquidez, a leitura mais salgada das carnes deve ofuscar os números positivos da parte qualitativa, como núcleos e inflação de serviços. “O mercado já havia absorvido a informação de que núcleos e serviços viriam mais baixos com o IPCA-15 de setembro. Já o grupo alimentação veio mais forte que o esperado. Enquanto a queda dos preços de cinema deve ser devolvida nos meses seguintes, a alta das carnes é algo que vai perdurar ”, diz. A corretora vê alta de 4% a 6% das carnes em outubro, em linha com os movimentos já vistos no atacado.