Criada a partir da fusão entre as marcas Perdigão e Sadia, em 2009, a BRF escreverá um novo capítulo em sua história a partir desta segunda-feira (28), quando deverá passar a contar com um novo Conselho de Administração, indicado por seu maior acionista, a Marfrig Global Foods.
Detentora de 33,25% das ações da BRF, a Marfrig, liderada pelo empresário paulista Marcos Molina dos Santos, que passou a adquirir via bolsa ações da companhia, deixará, assim, de ter um papel de mera acionista relevante para dar as cartas no comando da empresa.
As compras ocorreram tempos após uma tentativa frustrada de fusão entre as empresas, em 2019, mas sem ultrapassar o percentual de 33,33%. Em seu estatuto, a BRF obriga o acionista que passar 1/3 do capital total a comprar, por meio de oferta pública de ações (OPA), todos os papéis em circulação e com prêmio aos minoritários.
Sem um controlador definido, a BRF sofre há anos com a falta de alinhamento entre os seus principais sócios. Atualmente, a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, detém 6,13% do capital da BRF, enquanto a Petros, dos funcionários da Petrobras, conta com 5,26%.
Além dos fundos, a BRF ainda conta com a influência da família Fontana, fundadora da Sadia em 1944, cujos cerca de 80 acionistas não somam mais do que 3% do capital votante, conforme estimativas do mercado. Outro acionista relevante é a Kapitalo Investimentos, com 5,34%.
De acordo com a proposta que irá à assembleia geral ordinária e extraordinária nesta segunda-feira está a deliberação dos dez nomes indicados pela chapa dos acionistas Marfrig Global Foods e Fundo de Investimento em Ações Colorado – Investimento no Exterior, que foi aprovada pelo atual conselho em reunião no dia 22 de fevereiro.
Para presidente do conselho, o nome indicado é o de Molina, com Sergio Rial, ex-CEO do Santander Brasil e atual chairman do banco, como vice-presidente. Outros nomes de confiança de Molina também fazem parte, como sua esposa, Márcia Marçal dos Santos, e Eduardo Pocetti, do conselho fiscal da Marfrig.
Completam a chapa, Altamir Batista da Silva, ex-banqueiro do JP Morgan e do Safra; Oscar Bernardes, membro do conselho da Mosaic, de fertilizantes; Pedro de Camargo Neto, produtor rural que comandou a antiga Abipecs (associação de exportadores de carne suína); e Deborah Vieitas, CEO da Amcham e conselheira do Santander.
Entre os atuais conselheiros, dois devem seguir: Augusto Cruz, ex-CEO do Pão de Açúcar, e Flávia Bittencourt, presidente da Adidas.
Nova era na BRF
Se a chapa for aprovada, pela primeira vez desde que a Attilio Fontana fundou a Sadia em 1944, no município de Concórdia (SC), não haveria nenhum membro indicado por sua família no conselho da BRF.
Nesse mesmo cenário, não haveria um conselheiro indicado pelos fundos de pensão Previ e Petros, que por anos comandaram a Perdigão, fundada também em Santa Catarina, em Videira, pelas famílias Brandalise e Ponzoni, em 1934, e vendida, em 1994, a fundos.
Surpresa no caminho
Entretanto, às vésperas da assembleia, um novo fato surgiu. Ao contrário de Petros, que preferiu ser diluída numa oferta de ações da BRF, em janeiro deste ano, a Previ, que aportou recursos, não se deu por satisfeita com o prato feito oferecido pela Marfrig e solicitou o voto múltiplo para a eleição do conselho.
Com base na sua posição acionária – e caso consiga o apoio de outros acionistas minoritários – a Previ conseguiria, porém, emplacar um entre os dez nomes para o conselho, segundo estimativas, o que pouco poderia mudar, na prática, os novos rumos da companhia.
Ao contrário da chapa fechada, como desejado por Molina, o voto múltiplo permite que os acionistas votem individualmente em cada candidato ao conselho. Por trás do movimento, de certa forma, está “a tentativa do fundo de barrar a hegemonia de Molina”.