Uma combinação de fatores propiciou um semestre de margens mais altas aos exportadores de carne de frango. Além dos custos mais baixos em comparação com o mesmo período de 2023, a alta do dólar e a retração nas exportações dos Estados Unidos têm favorecido a rentabilidade das vendas externas.
Nos Estados Unidos, segundo maior exportador de frango atrás do Brasil, o elevado preço da carne bovina aumentou a demanda por frango, levando as empresas a direcionar mais aves ao mercado interno. O Brasil tem preenchido alguns espaços deixados pelos norte-americanos, especialmente nas exportações de peito e pernas, mercados tipicamente atendidos pelo rival.
“O Brasil tem sido convocado a exportar mais esses cortes”, disse Ricardo Santin, presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal). Países da América Latina, como o México e o Chile, estão entre os clientes que aumentaram as compras do Brasil nos últimos meses em resposta à retração dos EUA no mercado.
De janeiro a maio, as exportações de aves dos EUA caíram 9,7% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA). Para todo o ano, o USDA estima uma queda de 7% nas exportações, segundo relatório divulgado na semana passada. Na divulgação anterior, em abril, a expectativa era de um recuo de 2,7%.
Parte desse efeito cambial, no entanto, começa a ser diluído. Como o Brasil tem um peso muito relevante no comércio global de frango, respondendo por mais de 35% das exportações mundiais, a desvalorização do real acaba pressionando os preços em dólares, com os importadores pedindo descontos.
Os volumes de exportação aumentaram 0,8% no primeiro semestre, considerando a média mensal. Já a receita com os embarques, em dólares, caiu 10%, segundo dados da ABPA.
As margens
Segundo relatório recente do BTG Pactual, os spreads (diferença entre os custos e os preços de venda) de exportação de carne de frango subiram 4% no segundo trimestre em comparação com o trimestre anterior, quando elas já vinham apresentando uma boa recuperação.
“No geral, esperamos que as margens fortes ajudem a BRF e a Seara da JBS a manter seu impulso de ganhos, pelo menos por enquanto. No futuro, a chance de aceleração da oferta à medida que as margens da indústria aumentam é nossa principal preocupação”, escreveram os analistas do BTG Pactual, Thiago Duarte e Guilherme Gutilla.
A produção de pintinhos de um dia aumentou de janeiro a maio, segundo dados da Apinco. Em junho, ela caiu, mas a expectativa de analistas que acompanham o setor é de que ela volte a subir em julho. Fontes do setor dizem que o alojamento tem se mantido quase estável e não é motivo gerar temores de excesso oferta. Uma fonte ligada à indústria disse, no entanto, que algumas empresas têm aumentado o peso do abate, o que tem sido facilmente absorvido por uma demanda de exportação mais forte.
As empresas do setor esperam margens saudáveis no segundo semestre em meio a custos de alimentação favoráveis e demanda firme de compradores tradicionais de frango brasileiro, como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. E há sempre aquela expectativa de melhora no quarto trimestre, normalmente o período de demanda mais aquecida no setor.
Suínos
Enquanto os embarques de frango se mantiveram quase estáveis no primeiro semestre, as exportações de carne suína aumentaram 4% para um recorde de 613,7 mil toneladas, com as empresas conseguindo driblar a queda nas importações chinesas.
O gigante asiático, que havia representado mais de 50% das exportações de carne suína do Brasil, reduziu as importações em 40% até junho. Mas países como Filipinas e Japão aumentaram as compras em mais de 60% e 100%, respectivamente, figurando como o segundo e terceiro maiores importadores de carne suína do Brasil.
As ações dos exportadores brasileiros de frango e suínos reagiram positivamente ao cenário favorável do setor. Em 2024, as ações da JBS subiram quase 30% e os papéis da BRF mais de 60%. O Ibovespa, principal índice da bolsa de valores de São Paulo, caiu cerca de 3% no mesmo período.