Nesta semana foi divulgado pela Câmara de Comércio Árabe-Brasileira que as exportações de carne de frango para os países árabes entraram em 2025 no mesmo ritmo de crescimento do ano anterior.
Segundo a entidade, no primeiro trimestre do ano, as vendas do produto subiram 9,95%, para US$ 936,29 milhões, com Arábia Saudita liderando as compras (total de US$ 256,94 milhões), seguida por Emirados Árabes Unidos (US$ 224,50 milhões) e Iraque (US$ 98,76 milhões).
Nesses mercados, aliás, a tonelada do frango foi negociada a preços maiores. Na Arábia Saudita, avançou 19,47%, para US$ 2.474,62; nos Emirados Árabes Unidos, 3,44%, para US$ 2.041,84; no Iraque, 2,55%, para US$ 2.189,32 a tonelada, influenciando as vendas totais para cima em relação aos três primeiros meses do ano passado.
Os volumes mantiveram-se relativamente estáveis, com quedas em alguns mercados compensadas por avanços em outros. No conjunto, os 22 países árabes do Oriente Médio e do norte africano compraram 3,30% mais frango do Brasil, ou 453,59 mil toneladas. Nos três mercados mais rentáveis, apenas a Arábia Saudita registrou variação positiva, de 1,28%, para 103,83 mil toneladas. Nos Emirados Árabes Unidos, o volume recuou 7,54%, para 109,95 mil toneladas, e, no Iraque, a queda foi de 2,81%, para 45,11 mil toneladas.
No todo da pauta de exportações, ¾ da qual compreendendo alimentos e bebidas, as vendas aos árabes registraram recuo de 12,29%, para US$ 4,98 bilhões, queda que pode ter relação com o Ramadã, o mês sagrado dos muçulmanos, iniciado mais cedo este ano, em 28 de fevereiro, o que possivelmente reduziu o ritmo dos embarques.
“É comum observar antes do Ramadã um movimento de importadores e consumidores de formar estoques. Isso porque, durante o mês sagrado, o costume da maioria das famílias é jejuar durante o dia, comer à noite e sair de casa só para o estritamente necessário”, explica Mohamad Mourad, secretário-geral da Câmara Árabe.
Com exclusividade para a Mundo Agro, o executivo pontua que essa dinâmica é visível, inclusive, nas estatísticas de exportações, com as vendas para os países árabes alcançando o pico cerca de cinco meses antes do Ramadã, recuando durante o mês sagrado e retornando à normalidade logo depois dele. “Por isso acreditamos que os embarques se recuperem nos próximos meses. Teremos, então, condições de avaliar a demanda nos mercados árabes com mais precisão”, explica.
Projeção para 2025
Segundo Mohamad Mourad, secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, no ano passado, os países árabes compraram do Brasil US$3,58 bilhões em derivados de frango, o que é quase 40% de todo o frango exportado pelo Brasil em 2024. Além disso, o comércio de frango com a região, nos últimos anos, tem crescido a uma média de 10% ao ano. Nossa expectativa é que esse desempenho se repita em 2025. Isso porque, embora os países árabes estejam promovendo esforços para substituir importações, de frango inclusive, eles têm registrado uma demanda muito consistente pelo produto.
As populações árabes estão ainda em crescimento e devem continuar crescendo nas próximas décadas, demandando o produto para o consumo local. O frango também é utilizado por lá em operações de reexportação, que alcançam quase todos os países muçulmanos do globo, sendo um insumo importante para muitas empresas atuantes nos hubs de exportação do Golfo.
“Os governos árabes têm, ainda, buscado formas de manter os investimentos anunciados há alguns anos, as Visões 2030, para realizar a transição econômica para a era pós-petróleo. Esses investimentos seguem mantendo as maiores economias árabes aquecidas e com taxas de crescimento constantes. Além disso, o Brasil é um fornecedor de proteína animal confiável. Fornecemos frango de padrão halal, ou seja, produzido em respeito às tradições muçulmanas, desde meados dos anos 1970. Temos muitas plantas habilitadas e certificadas. E, como nenhum outro país do mundo, condições de colocar frango de qualidade, no padrão e nas quantidades demandadas e a preços muito competitivos nos países árabes”, destaca.
Mercado para outras proteínas
No caso da proteína bovina, ano passado tivemos um ano de crescimento muito atípico. Mohamad Mourad aponta que os países árabes compraram US$1,75 bilhão do produto, alta de 57,74% sobre o ano anterior, destaca. “Isso é quase 14% de toda a exportação de carne bovina do Brasil. Foi o melhor resultado desde o início da série histórica de exportações, em 1989. Os grandes compradores tradicionais, Arábia Saudita, Egito e Emirados Árabes, todos elevaram suas compras. A Argélia, que havia comprado só US$ 11 milhões em 2023, multiplicou suas compras por 20. Não creio que este ano nós vamos repetir esse resultado. Mas é bastante provável que nós tenhamos novo crescimento”, afirma.
Segundo ele, este é um mercado bastante relevante para o Brasil. “Já havia dito que os árabes compram 40% do frango que o Brasil exporta e 14% da carne bovina. São mercados fiéis, que seguirão demandantes pelos próximos anos e, por essa razão, os grandes frigoríficos brasileiros prestam bastante atenção neles, dedicando, inclusive, parte expressiva de seus investimentos em infraestrutura produtiva. Já há alguns anos, o Brasil é o maior exportador de proteínas de certificação halal no mundo. E devemos manter esta liderança nos próximos anos”, destaca.
Diferenciais competitivos do Brasil
De acordo com Mohamad Mourad , nas proteínas já temos uma posição consolidada. “Mas ainda temos muito a crescer. Por exemplo, no caso da carne bovina, boa parte da nossa exportação é de cortes grandes congelados, principalmente de dianteiro bovino. Podemos certamente ampliar a participação de produtos de valor agregado, porcionados, por exemplo, que encontram muita demanda nos países do Golfo, em cadeias de restaurantes e na rede hoteleira, principalmente. Também há um imenso mercado de alimentos de preparo rápido, semiprontos e congelados, que mal começamos a explorar. Uma parte importante do mercado de consumo árabe é formada por consumidores jovens, na casa dos trinta anos, que trabalham fora de casa, não têm tempo de cozinhar e buscam uma alimentação saudável e prática”, afirma.
Ele destaca que os maiores frigoríficos do Brasil têm feito um esforço muito positivo de internacionalização na região, anunciando recentemente um número considerável de investimentos produtivos, principalmente na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos. “Esses esforços, em muitos casos, são acompanhados de associações com companhias locais, já com canais de distribuição bem estabelecidos e com conhecimento detalhado das necessidades do consumidor local. Há alguns dias, a BRF anunciou um investimento de US$ 160 milhões em conjunto com a saudita HDPC para a implantação de uma unidade de beneficiamento de frango na Arábia Saudita, numa demonstração importante de que os mercados árabes são estratégicos para a empresa e estão demandantes de proteínas. Então estamos num novo momento, de especialização da produção e da exportação, mais voltada à produção local, ou seja, nos países árabes, de alimentos de valor agregado, o que, na nossa avaliação é uma decisão muito acertada e vai ajudar a projetar ainda mais o produto brasileiro no mundo árabe e nos demais países islâmicos por extensão”, finaliza.