Segundo a presidente, Silvia Massruhá, e o diretor de Pesquisa e Inovação, Clenio Pillon (segundo à esquerda na foto), desde o anúncio do plano emergencial, vários avanços foram obtidos para orientar a atuação da Embrapa nas áreas mais afetadas pela crise climática. “Todas as estratégias que vão compor esse plano estão sendo construídas em parceria com órgãos dos governos federal, estadual e municipal e têm como objetivo aprimorar o diagnóstico dos impactos (áreas inundadas e deslizamentos) e definir regiões prioritárias para contribuir com a recuperação de atividades agropecuárias”, explicam.
“O plano emergencial está dentro do escopo da plataforma, mas estamos fazendo um recorte para o Rio Grande do Sul em função dessa situação”, explica Rosane Martinazzo, chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Clima Temperado, centro de pesquisa que coordena a Plataforma. As ações estão sendo amplamente discutidas com outras instituições de pesquisa e de ensino federais, estaduais e municipais e entidades representativas do setor produtivo.
Foi criado também um comitê extraordinário para enfrentamento da crise no Rio Grande do Sul, presidido pelo diretor de Pesquisa e Inovação, que conta com chefes dos centros de pesquisa da Região, membros do Colegiado de Gestores e outros representantes da Embrapa.
Ações propostas para recuperação da agropecuária gaúchaDesde o anúncio do plano emergencial, a equipe da Plataforma Colaborativa trabalha na construção de uma agenda para contribuir com a agropecuária das áreas mais devastadas pela crise climática no Rio Grande do Sul. Entre as parcerias, além da Emater/RS, estão sendo articuladas ações com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), superintendência do Serviço Geológico do Brasil (SGB) no RS, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e entidades do setor produtivo. Uma série de ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação e transferência de tecnologia, de médio e longo prazo, foram apresentadas na reunião do dia 17 de maio, pela chefe de P&D da Embrapa Clima Temperado. Segundo Rosane Martinazzo, as estratégias ainda estão em fase de construção e, por isso, estão abertas a sugestões. O momento é de articulação intra e interinstitucional para execução do trabalho. Paralelamente, está prevista a compilação de dados, de diferentes fontes como Embrapa, IBGE, Emater/RS, entre outros, e utilização de tecnologias geoespaciais para levantamento da extensão territorial dos sistemas agropecuários afetados pela crise climática, incluindo danos socioeconômicos e ambientais. O diagnóstico regional in loco para validação e refinamento das informações será feito nas áreas selecionadas com apoio da Emater/RS e demais instituições parceiras, de forma a definir áreas prioritárias de atuação de médio e longo prazo, levando em consideração os danos e necessidades específicas de cada agroecossistema. “A Emater está no campo avaliando as perdas nas diferentes cadeias produtivas. Esses dados serão utilizados para construir esse mapa de danos”, detalha Rosane. Com o levantamento concreto dos problemas, da estimativa do déficit de vegetação nativa nas bacias hidrográficas e das áreas de inconformidade de uso e cobertura da terra, bem como respectivas aptidões, serão propostos planos de intervenção. O destaque da proposição visa à recuperação dos solos degradados, ao manejo conservacionista do solo e da água e à restauração florestal. Para disponibilização do diagnóstico e das informações técnicas voltadas à recuperação das áreas produtivas, serão criados repositórios direcionados em páginas temáticas no Portal institucional, com tecnologias da Embrapa e de parceiros. O plano também prevê a divulgação por meio de outras ferramentas digitais já existentes, além de veículos de rádio e TV. Em última instância, a estratégia ainda prevê a proposição de políticas públicas para articulação de recursos financeiros voltados à aquisição de sementes, mudas, insumos e matrizes em locais não afetados para promover a recuperação de áreas atingidas. Além disso, busca subsidiar a elaboração e execução de projetos a serem submetidos às instituições de fomento, de maneira a estruturar um programa para recuperação de áreas degradadas e consolidação de diretrizes socioambientais sustentáveis para uso e manejo integrado do solo e da água em microbacias hidrográficas do Rio Grande do Sul, além de ações voltadas ao planejamento da paisagem rural e periurbana. Em curto prazo, além dos esforços dos centros de pesquisa para arrecadação de recursos e mantimentos em solidariedade aos afetados pelas enchentes, estão sendo sugeridas ações, que ainda estão na fase de articulação para viabilização. Entre elas, o mapeamento de fornecedores de sementes para aquisição por órgãos oficiais e disponibilização aos atingidos; a promoção da multiplicação de sementes e mudas de culturas de verão em regiões não atingidas para a distribuição nas áreas atingidas; e a implantação de quintais orgânicos/agroflorestaIs visando à produção de alimentos e à restauração de áreas de reserva legal e ações de fortalecimento da consciência ambiental junto a escolas rurais. |
Monitoramento por satélite mostra mais de 500 mil hectares e 255 municípios atingidosGustavo Spadotti, chefe-geral da Embrapa Territorial (SP), apresentou os resultados de mapeamentos por satélites, realizados em parceria com instituições da Região, como a Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão (SPGG/RS), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS) e órgãos federais, como a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e IBGE. Os estudos foram realizados com base na mancha de inundação, causada pela crise climática, e mostrou uma área total atingida de 506.774 hectares, envolvendo 255 municípios. Segundo projeções da UFRGS, o estado deve sair do nível de inundação até o dia 30 de maio, Spadotti explicou que, a pedido do Governo Federal e da SPGG/RS, os esforços do Gabinete de Crise instituído pela Embrapa Territorial foram concentrados nas áreas rurais. A partir de recortes territoriais, foram avaliados 341.184 imóveis rurais em 255 municípios atingidos pela mancha de inundação. “Dos mais de 300 mil imóveis, 21 mil foram impactados pelas enchentes, além de 1.559 estabelecimentos agropecuários. O impacto na vegetação nativa ultrapassa os 90 mil hectares, em especial nas Áreas de Preservação Permanente (APPs) de beira de rios”, observou. O Rio Grande do Sul tem um papel muito importante no agro brasileiro, com destaque para o arroz, setor no qual é o maior produtor nacional. O levantamento por satélite mostrou que 11% da área de cultivo de arroz no estado foram afetadas, o que corresponde a quase 128 mil hectares. Além disso, houve impactos na produção de soja, pastagens e outras culturas anuais (1,4%, 1,2% e 2%, respectivamente, das áreas destinadas a esses cultivos no estado). “Isso significa que essas áreas foram as mais impactadas, mas não as únicas. O excesso de chuvas em momentos críticos dos sistemas produtivos levará a perdas ainda maiores, a serem quantificadas por avaliações presenciais”, salientou o chefe da Embrapa Territorial. No que se refere à infraestrutura, foram atingidos 85 armazéns rurais, o que representa cerca de 750 mil toneladas de grãos (arroz, soja, milho e trigo). Não se sabe, no entanto, a dimensão das perdas nesses armazéns. Houve ainda bloqueio parcial de 49 rodovias e total de 42, dificultando não apenas o escoamento das safras, mas também a chegada de suprimentos. Spadotti pontuou que os estudos serão expandidos para mensurar também os prejuízos causados por deslizamentos, uma vez que esse primeiro levantamento teve como foco as enchentes. A situação de estruturas produtivas, como granjas de suínos e aves, será avaliada. De acordo com ele e o chefe da Embrapa Agricultura Digital (SP), Stanley Oliveira, nas próximas etapas, será utilizado também o SATVeg – Sistema de Análise Temporal da Vegetação -, uma ferramenta web capaz de acessar e visualizar perfis temporais de índices vegetativos de qualquer ponto da América do Sul. |
O Zarc e a importância para futuras projeções
Para o pesquisador José Eduardo Monteiro, da Embrapa Agricultura Digital, que também esteve presente à reunião, neste momento pós-catástrofe, não há como o Zarc contribuir. Mas a ferramenta pode ser extremamente importante para o redesenho de atividades futuras. “É fundamental fortalecer a cultura da gestão de riscos climáticos no Brasil e conscientizar sobre a necessidade de planejamento e preparação com antecedência, antes do evento, para reduzir o risco de ocorrência ou os seus impactos”, ressaltou.
Segundo Monteiro, outra função determinante do Zarc é contribuir para ampliar a contratação de seguro rural, que ainda é muito baixo no Brasil, utilizado em apenas cerca de 20% das propriedades rurais.
Impactos no agronegócio gaúchoO Rio Grande do Sul tem um papel importante no agronegócio brasileiro. Responde por 70% da safra de arroz, 15% da soja e 5% do milho. Nas carnes, suínos 17%, aves 13% e bovina 5%. Soja: RS é o segundo maior produtor de soja do Brasil. Da área total de 6,6 milhões de hectares, 70% já havia sido colhida. Os 2 milhões restantes foram afetados (30% restantes), representam potencial de perda, com as cotações atuais da saca de soja, próximos a R$13 bilhões. Milho: excesso de chuvas e alagamentos afetou cerca de 27% da área total plantada no estado no milho 1ª safra, riscos de perdas para 1,4 milhões de toneladas. Arroz: a produção gaúcha de arroz representa 70% da produção nacional; 78% da área total foi colhida, mas restam cerca de 200 mil hectares e 1,6 milhão de toneladas sob risco. Uva: Segundo levantamentos iniciais realizados pela Emater/RS, pelo menos 250 hectares de vinhedos foram totalmente perdidos na Serra Gaúcha. Será necessário o acesso às áreas atingidas para realizar uma avaliação mais precisa. Produção animal: Além das perdas de animais por afogamento e dispersão de rebanhos, existem desafios logísticos para acessar ração e outros insumos, como caixas para ovos. Com as estradas bloqueadas, especialmente para veículos de grande porte, os lotes de animais também deixaram de ser transportados para os frigoríficos. *Os dados apresentados foram disponibilizados pela Cogo Inteligência em agronegócio. |