Países pelo mundo estão se dando conta da ameaça de uma crise alimentar global e estão tomando medidas para garantir seus próprios suprimentos.
A guerra entre Rússia e Ucrânia, duas potências na produção de grãos, causou pânico de desabastecimento, alta de preços e potencial escassez de fertilizantes. Isso desencadeou restrições de exportação da Ásia às Américas. A União Europeia (UE) sinalizou que mudará “completamente a abordagem” de sua política agrícola para garantir segurança alimentar.
A invasão da Ucrânia, conhecida como celeiro da Europa, abalou os mercados de commodities e os países responderam acumulando grãos e óleo de cozinha, ou incentivando colheitas maiores. O G7 (grupo das sete maiores economias ricas) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) pedem aos líderes que mantenham os fluxos comerciais abertos, alertando que o protecionismo pode elevar preços e levar a prateleiras vazias em países dependentes de importações.
“Qualquer estabilidade que você obtém no país que está proibindo as exportações é uma instabilidade exportada para o resto do mundo”, disse Joseph Glauber, pesquisador sênior do Instituto Internacional de Pesquisa em Política Alimentar em Washington. “Isso tem um efeito cascata.”
Autoridades da UE se reuniram ontem para discutir formas de tornar o fornecimento de alimentos mais seguro. As propostas em discussão incluem permitir que terras que estão em pousio sejam utilizadas para o plantio de safras ricas em proteína e assim oferecer apoio ao setor de carne suína.
Alguns países estão tomando medidas por conta própria. A Bulgária, uma grande exportadora, destinou recursos governamentais para aumentar sua reserva nacional de grãos, com o objetivo de adquirir 1,5 milhão de toneladas.
Na França, uma associação de produtores de ração animal quer que o governo armazene as 800 mil toneladas de grãos de que precisa mensalmente, temendo que o apetite global por cereais possa esgotar a oferta doméstica.
Fora do bloco, Moldávia e Sérvia, dois fornecedores menores, restringiram vendas de produtos agrícolas como trigo e açúcar.
“É o efeito do ‘se você faz, eu também faço’”, disse Arif Husain, economista-chefe do Programa Mundial de Alimentos. “É o tipo de coisa que você não precisa quando já existe um choque no mercado.”
O programa da ONU tem como meta atender pelo menos 140 milhões de pessoas neste ano, mas só tem metade dos US$ 20 bilhões de que precisa, disse Husain.
A Indonésia, maior produtora de óleo de palma, aumentou o imposto sobre exportação de US$ 375 por tonelada para US$ 675, com base nos preços atuais. Impostos mais altos tornam o abastecimento do mercado interno mais lucrativo, disse o ministro de Comércio, Muhammad Lutfi.
A Argentina, maior exportadora de farelo e óleo de soja, está impedindo operadores de registrarem carregamentos para exportação, uma medida que geralmente indica que um aumento de tarifas está por vir. Também está subsidiando sua indústria de processamento de trigo e ameaçando proibir as exportações de carne bovina. O país também está entre os maiores exportadores desses dois produtos.
Até o Egito proibiu a exportação de produtos básicos como farinha, lentilha e trigo por três meses. A nação árabe mais populosa é a maior importadora de trigo, usado para fazer massa e suprir um programa de subsídio ao pão que alimenta dezenas de milhões de pessoas.
O protecionismo também está se espalhando pelo segmento de produtos frescos. Marrocos está reduzindo suas exportações de tomate para a Europa para garantir as próximas ceias do Ramadã por causa da guerra na Ucrânia e uma seca histórica que está prejudicando a produção local.
“O momento não poderia ser pior”, disse Jean-Michel Grand, diretor executivo da Action Against Hunger UK, sobre as restrições.