A produção animal terá que conviver com margens mais enxutas na criação de bovinos, resultados negativos pelo segundo ano consecutivo para o setor de suínos e um cenário mais otimista para a produção de frango, segundo analistas do setor.
Responsável por 40,7% do valor bruto da produção (VBP) do setor pecuário na previsão para este ano do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a pecuária bovina deve ampliar a produção e as exportações, com avanços da mesma forma para o consumo doméstico. Mas o balanço entre preços em queda e custos mais elevados reduzirá o resultado operacional em todas as fases do ciclo, no diagnóstico de Maurício Nogueira Palma, diretor e sócio majoritário da Athenagro.
“O cenário só deverá ser melhor para frigoríficos”, resume César Castro Alves, consultor de agronegócio do Itaú BBA. A equação, no caso, mistura a redução nos preços da arroba do boi gordo e aumento nos abates, em um mercado que inaugura neste ano um ciclo de baixa que deve atingir seu pior momento por volta de 2024, conforme Palma. No segmento de alta tecnologia, sempre na comparação entre 2021 e este ano, o resultado operacional tende a encolher 20,7% para pecuaristas que trabalham com recria e engorda e nada menos do que 71% nos sistemas de cria, na média do país. O ciclo completo, envolvendo cria, recria e terminação, deve registrar margens 38% menores, estima Palma.
Os preços atualmente praticados continuam sendo suficientes para prover caixa para o pecuarista, mantendo a atratividade do setor. “Até 2030, na comparação com os últimos dez anos, os produtores deverão investir duas a três vezes mais no pacote tecnológico”, afirma Palma.
A despeito do ganho menor, Alves dá como certo o crescimento da produção neste ano, estimando avanço de 7%. Os números da Athenagro antecipam elevação de 8,6% na produção de carne bovina, saindo de 9,7 milhões para cerca de 10,6 milhões de toneladas entre 2021 e 2022, projetando 10,8 milhões de toneladas para 2023, numa variação de 2,6%.
As vendas externas, num cenário global de baixa oferta, segundo Palma, devem avançar de 2,48 milhões de toneladas no ano passado para 2,83 milhões neste ano, subindo em torno de 14,4%. Os números para 2023 embutem variação mais modesta, ao redor de 3%, num volume embarcado pouco acima de 2,9 milhões de toneladas, numa estimativa ainda conservadora. “Estamos muito próximos de 3 milhões de toneladas, volume projetado anteriormente para 2027 ou 2028. Devemos atingir esse número antes de 2024”, diz Palma. O consumo doméstico, na sua previsão, deve passar de 7,3 milhões de toneladas em 2021 para 7,79 milhões neste ano, subindo 6,6%, para alcançar 7,97 milhões de toneladas em 2023, numa variação de 2,4%.
Com ciclo mais curto e beneficiado mais recentemente pela pressão menor sobre os custos da ração, o setor de frango tende a experimentar margens ainda ligeiramente positivas, “capturando a boa demanda externa”, aponta Alves. A gripe aviária tem afetado os planteis em redor do mundo, castigando especialmente os Estados Unidos, que reduziram suas exportações, abrindo espaço para o frango brasileiro. A suinocultura, ao contrário, tem sofrido com margens negativas há praticamente dois anos. Houve um otimismo excessivo no auge da peste suína africana na China, observa Alves, e o Brasil alojou um volume de animais maior do que deveria, causando mais adiante um grave problema de oferta. Praticamente recuperada da crise sofrida entre 2019 e 2020, relembra o especialista do Itaú BBA, a China deve reduzir suas importações de suínos de 5,2 milhões de toneladas em 2020 para 1,8 milhão de toneladas neste ano, queda de quase 66%.