Em meio a preocupações com a demanda por soja e milho, os dois grãos fecharam em baixa ontem (4/11) na bolsa de Chicago. O trigo, por sua vez, que segue em trajetória de correção de preços, também recuou.
O vencimento da soja para janeiro, o mais negociado, cedeu 1,73% (21,50 centavos de dólar), a US$ 12,2275 o bushel. Já a posição seguinte, para março, recuou 1,67% (21 centavos de dólar), para US$ 12,3425 por bushel.
No mercado, com os indicativos mais recentes de demanda, alguns investidores têm demonstrado dúvidas sobre qual será efetivamente o aperto no quadro global de oferta e demanda do grão para 2021/22. Além disso, há expectativa de que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) aumente ainda mais a previsão de oferta de soja em seu relatório mensal, que será publicado na próxima terça-feira.
“A preocupação é que a demanda de exportação não alcance as projeções do USDA”, disse Tomm Pfitzenmaier, da Summit Commodity Brokerage, à Dow Jones Newswires. “O mercado da soja tem algumas nuvens no horizonte, incluindo a possibilidade de que o relatório [do USDA] de 9 de novembro mostre outro aumento de produtividade, além do medo de que o USDA possa estar exagerando as exportações e comece a fazer essa correção no relatório da próxima semana”.
Os fundamentos de oferta de soja e milho têm pressionado os futuros de ambos os grãos. O plantio da nova safra no Brasil e na Argentina, por exemplo, tem ocorrido sem problemas, enquanto a colheita nos Estados Unidos vem mostrando bons índices de produtividade.
No Brasil, o plantio de soja chegou a 53,5% da área total estimada no país (39,9 milhões de hectares), informou ontem a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), com dados coletados até o dia 30 de outubro. No mesmo período do ano passado, o índice estava em 35,9%. A expectativa da Conab é que o Brasil colha 140,7 milhões de toneladas de soja na safra 2021/22.
Na Argentina, o plantio da soja chegou a 7,1% dos 16,5 milhões de hectares, segundo relatório divulgado nesta quinta-feira pela Bolsa de Cereais de Buenos Aires.
Com isso, nem mesmo a melhora nas exportações dos Estados Unidos foi capaz de impedir a baixa das cotações. Mais cedo, o USDA reportou que, na semana encerrada em 28 de outubro, os embarques americanos de soja alcançaram 1,86 milhão de toneladas, volume 58% maior que o da semana imediatamente anterior e 19% superior à média das quatro semanas anteriores.
Nas negociações do milho, o contrato para dezembro, o mais líquido, caiu 0,84% (4,75 centavos de dólar), para US$ 5,5925 o bushel. A segunda posição, para março, desvalorizou-se 0,79% (4,50 centavos de dólar), a US$ 5,6750 por bushel.
Depois de começar a sessão em alta, o milho “virou mão” no decorrer do pregão, também como reflexo das preocupações com a demanda pelo cereal. Além disso, a nova queda do petróleo exerceu pressão adicional sobre milho e soja, uma vez que os biocombustíveis feitos a partir dois grãos ficam menos lucrativos com a valorização do fóssil.
Durante a sessão, o USDA informou que as vendas americanas de milho para exportação cresceram 37% na semana encerrada em 28 de outubro se comparadas com os sete dias anteriores. O volume, de 1,224 milhão de toneladas, é 10% superior à média móvel de quatro semanas.
No Brasil, até o dia 30 de outubro, o plantio do milho verão 2021/22 chegou a 44,3% da área estimada, de 4,4 milhões de hectares, de acordo com a Conab. A expectativa da estatal é de que o país colha 28,3 milhões de toneladas de milho na primeira safra.
Na Argentina, a Bolsa de Buenos Aires informou que 28,4% dos 7,1 milhões de hectares destinados ao milho em 2021/22 já foram semeados. Esse ritmo representa um atraso de 2,5 pontos percentuais em relação ao mesmo período do ciclo passado.
Por fim, após atingir patamares históricos no início da semana, o trigo negociado na bolsa de Chicago voltou a fechar em queda, mantendo sua trajetória de correção. O papel para dezembro, o mais ativo no momento, caiu 0,93% (7,25 centavos de dólar), a US$ 7,7375 o bushel, e a segunda posição, para março, recuou 0,82% (6,50 centavos de dólar), para US$ 7,8625 o bushel.
Apesar da baixa nesta quinta-feira, a visão de analistas é de que os fundamentos ainda devem manter o cereal em patamares elevados. “Isso [queda na sessão] provavelmente deve-se à realização de lucros após a valorização acentuada, e não ao início de uma fase prolongada de queda dos preços. Afinal, o mercado está aquecido e a demanda tem se mantido robusta nos últimos tempos, apesar do aumento dos preços”, indicou o Commerzbank, em relatório.
Mais cedo, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) informou que, no mês passado, os preços internacionais do trigo subiram 5% em relação a setembro e 38,3% em comparação com outubro de 2020. Essa foi a quinta alta mensal consecutiva do trigo, que alcançou seu maior patamar desde novembro de 2012.
“Colheitas menores nos principais exportadores, especialmente Canadá, Rússia e EUA, continuam dando sustentação aos preços. A redução da oferta global de trigo de melhor qualidade, em particular, exacerbou a pressão, com as variedades premium liderando o aumento de preço”, disse a FAO, em relatório.
A alta do trigo e de outros cereais e óleos puxou o aumento do indicador de preços de alimentos da entidade. Em outubro, o índice chegou a 133,2 pontos, seu maior patamar em mais de uma década.
Nos Estados Unidos, o USDA informou que o país exportou 400 mil toneladas de trigo na semana encerrada em 28 de outubro. O volume é 49% maior que o da semana anterior e 4% superior à média móvel de quatro semanas.
Já na Argentina, a colheita de trigo atingiu 10,5% da área semeada, o que representa uma evolução semanal de 3,8 pontos percentuais e de 1,8 ponto na comparação com o mesmo período do ciclo passado, disse a Bolsa de Cereais de Buenos Aires. A estimativa de produção de trigo na Argentina permanece em 19,8 milhões de toneladas.
No caso do trigo brasileiro, 58,6% da área, de 2,7 milhões de hectares, já foi colhida, mas com desaceleração dos trabalhos em função das chuvas no Sul do país, de acordo com a Conab. “As lavouras mais tardias têm apresentado melhores rendimentos, pois foram menos afetadas pelas intempéries climáticas”, afirmou a estatal. A previsão é de que a produção do Brasil seja de 8,2 milhões de toneladas.