Durante o evento “Agri Sustainability Talks 4: Rumo à Segurança Alimentar Sustentável, cooperação e resiliência da cadeia de suprimentos”, o pesquisador sênior do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Paulo Moutinho, apresentará projetos e iniciativas de apoio às cadeias sustentáveis de produção e à conservação das florestas tropicais. O evento ocorre na Embaixada do Brasil em Londres nesta terça-feira, dia 22, às 8h30 (Horário de Londres) e às 5h30 (Horário de Brasília).
O evento tem como objetivo formular políticas relacionadas às cadeias sustentáveis de produção de alimentos e criar estratégias de cooperação entre Reino Unido e Brasil. Serão compartilhadas técnicas e perspectivas a respeito da agricultura sustentável, assim como relatos de iniciativas bem sucedidas no campo da produção sustentável de alimentos.
No Brasil, o avanço da fronteira agrícola tem sido um dos responsáveis pela perda de biodiversidade na Amazônia e no Cerrado. Segundo análises do IPAM com base em dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), cerca de 76,2%, ou 6.498 km², do desmatamento do Cerrado ocorre em propriedades rurais privadas.
Além disso, o Matopiba — região de expansão agrícola que compreende os Estados da Bahia, do Maranhão, do Piauí e de Tocantins — bateu recorde de concentração do desmatamento no Cerrado. Segundo análise de pesquisadores do IPAM, entre agosto de 2020 e julho de 2021, 61,3% da vegetação desmatada no Cerrado estava na região.
A conferência é organizada pela Apex Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) e também conta com a participação da chefe do setor financeiro da Aliança pelas Florestas Tropicais do Fórum Económico Mundial, Danielle Carreira; da líder para a América Latina na Climate Bonds Initiative, Leisa Sousa; do líder para a América Latina da Regrow Ag e professor da UFF (Universidade Federal Fluminense), Renato Rodrigues; e da chefe da International Forest Unit, Maggie Charnley.
Valorização das florestas
De acordo com o Código Florestal Brasileiro todo imóvel rural privado tem direito a desmatar a cobertura vegetal que não está incluída na Área de Reserva Legal. Visando proteger essas áreas que poderiam ser legalmente desmatadas é que o IPAM criou o Conserv, mecanismo que remunera produtores rurais por conservarem a vegetação nativa excedente à Reserva Legal, com base no valor do carbono que deixou de ser emitido ao ser mantida a vegetação de pé.
Atualmente, o programa é responsável por evitar a emissão de 1,8 milhões de toneladas de CO₂ na atmosfera e, em maio de 2022, fechou sete novos contratos junto a produtores rurais das regiões leste e oeste de Mato Grosso. No total, a iniciativa engloba 16 propriedades que, juntas, somam 14.320 mil hectares de florestas nativas protegidas.
Para mapear as áreas sob maior risco e que poderiam ter papéis mais críticos na preservação da Amazônia, cientistas do Conserv utilizaram imagens de satélite para analisar diversas variáveis biofísicas e econômicas do bioma, como risco de desmatamento, concentração de espécies endêmicas e presença de infraestrutura.
As informações coletadas são utilizadas na precificação da terra e no valor pago aos produtores pela manutenção da vegetação, assim como no monitoramento para avaliar o cumprimento dos acordos estabelecidos por contrato, como conservação da Reserva Legal e proteção contra incêndios e desmatamento.
Pecuária verde
De acordo com dados do IPAM, áreas de pasto ocupam 75% do que foi desmatado entre 1997 e 2020 em terras públicas não destinadas da Amazônia, boa parte resultante de grilagem, contaminando o setor com ilegalidade.
Entre 1997 e 2020, um total de 21 milhões de hectares foram destruídos, ou 8% dos 276,5 milhões de hectares de florestas públicas existentes da Amazônia Legal. A emissão de gases estufa associada é de 10,2 bilhões de toneladas de CO2, o equivalente a cinco anos de emissões brasileiras.
Devido à falta de fiscalização e às dificuldades da rastreabilidade da cadeia pecuária, o boi criado nessas áreas pode ser vendido para outras fazendas e, mais cedo ou mais tarde, acaba em um frigorífico. Como as empresas não monitoram o cumprimento de regramentos sociais e ambientais de fornecedores indiretos, perde-se o rastreio da carne oriunda de desmatamento ilegal.
Para reduzir esse impacto ambiental, o Novabov, programa criado pelo IPAM, reuniu centenas de cooperativas, produtores e servidores em torno do desenvolvimento e do fortalecimento de estratégias de pecuária sustentável nos Estados da Amazônia Legal. A iniciativa oferece soluções para a regularização de terras, uso do CAR (Cadastro Ambiental Rural) e do PRA (Programa de Regularização Ambiental), bem como manejo sustentável de pastagens.
Serviço
Painel “Why good projects matter: case studies, initiatives, and opportunities”
Paulo Moutinho (IPAM), Danielle Carreira (FEM), Leisa Sousa (Climate Bonds Initiative), Renato Rodrigues (Regrow Ag) e Maggie Charnley (International Forest Unit) Quando: 22 de novembro, às 8h30 (Horário de Londres) e às 5h30 (Horário de Brasília) Onde: Embaixada do Brasil em Londres, 14-16 Cockspur St, St. James’s