Setor caiu 8% e teve o seu pior tombo desde 2012. Julho a setembro são meses mais fracos, mas falta de chuva prejudicou lavouras de café, cana-de-açúcar, milho e laranja.
A agropecuária despencou 8% no terceiro trimestre deste ano, em relação aos três meses imediatamente anteriores, e teve o seu pior tombo desde o primeiro trimestre de 2012 (-19,6%).
Em relação a igual período de 2020, o setor caiu 9% e ajudou a puxar a queda de 0,1% Produto Interno Bruto (PIB) do período, informou na quinta-feira (2) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os principais motivos foram:
*A seca que derrubou as colheitas de café, laranja, cana-de-açúcar e milho;
*A queda na produção do algodão: produtores preferiram plantar grão em vez da pluma por causa dos bons preços da soja e do milho;
*Redução nos abates dos bois.
*Por outro lado, especialistas consultados pelo g1 afirmam que a melhora do clima deve ajudar o desempenho do agro nos últimos três meses do ano, com destaque para a produção do trigo.
O que provocou a queda
O terceiro trimestre é, normalmente, um período mais fraco para o agro, em relação ao segundo trimestre, diz o economista Renato Conchon, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Isso porque as safras de soja e de milho, dois dos principais grãos exportados pelo Brasil, são concentradas no primeiro e no segundo trimestre, respectivamente.
Apesar do atraso, a soja teve mais uma safra recorde este ano e quem sofreu mais foi o milho, cuja produção despencou 16,4% na safra 2020/21, em relação à anterior.
A colheita do grão, que, normalmente, ocorre no segundo trimestre, acabou sendo “jogada” para os meses seguintes, diz Conchon.
Já a produção de café, seria naturalmente mais baixa este ano por conta da bienalidade da cultura: em ano par, a safra alta, e, em ano ímpar, a safra é baixa. Junto com a seca, a cultura sofreu ainda o impacto das geadas durante o inverno.
Para Conchon, entretanto, as geadas terão um impacto maior na próxima colheita, pois o choque climático tem prejudicado o desenvolvimento das plantas.
Outro motivo foi o atraso na colheita de grãos. “A janela ficou mais curta e, portanto, ficou mais arriscado para o produtor plantar algodão”, diz César Castro, especialista de agronegócio do Itaú BBA.
Diante desses fatores, segundo o IBGE, houve queda na estimativa da produtividade anual das seguintes culturas:
Café (-22,4%);
Algodão (-17,5%);
Milho (-16,0%);
Laranja (-13,8%);
Cana-de-açúcar (-7,6%).
Pecuária
A pecuária de corte também influenciou o resultado ruim do agro no terceiro trimestre, avalia Castro, do Itaú.
Isso porque os abates de bovinos recuaram 11,1% no período, em relação ao terceiro trimestre de 2020, segundo dados do IBGE.
Para Conchon, o embargo da China às exportações de carne bovina do Brasil teve um impacto moderado no resultado do agro do terceiro trimestre e deve ter um efeito maior nos últimos três meses do ano, por causa de uma redução dos abates.
Segundo Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, a suspensão chinesa influenciou “um pouco” o desempenho das exportações de julho a setembro, que despencaram 8% em relação aos três meses imediatamente anteriores.
O que esperar daqui para a frente
Apesar da expectativa negativa para a pecuária bovina, a melhora do clima tem ajudado o desempenho do agro nos últimos três meses deste ano.
Além disso, muito trigo tem sido direcionado para a ração animal, por causa dos preços elevados do milho e soja. Esse fator, somado às frustrações da colheita do cereal em países como Estados Unidos, Canadá e Rússia, tem mantido os preços do trigo em alta, mesmo com o aumento da oferta interna, diz Castro, do Itaú.
Na projeção do banco, entretanto, o PIB do agro deve fechar o ano com retração de 0,8%, após uma alta de 3,8% em 2020.
O analista José Carlos Hausknecht, sócio-direto da MB Associados, prevê uma queda de 1% para o setor este ano.
Já Conchon, da CNA, trabalha com um número mais positivo e prevê um crescimento de 1,8% para o setor, puxado pela safra de soja.