Estudo da plataforma de commodities agrícolas Tarken mostra nova dinâmica de comercialização do cereal no mercado interno
A quebra da safra de milho em 2020/21 mudou o fluxo de comércio do grão no Brasil. Se anteriormente grande parte dos carregamentos saía do Centro-Oeste rumo aos portos do Sudeste, nesta temporada, o milho passou a ser direcionado ao mercado interno, principalmente a São Paulo e aos Estados do Sul, regiões com maior concentração de granjeiros e produtores de ração.
Segundo um estudo realizado pela Tarken, plataforma de comercialização de grãos no mercado físico, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que antes alimentavam as rotas de exportação do país, passaram a suprir a demanda do mercado nacional de proteína e etanol a partir de meados de 2019/20. O movimento se intensificou no ciclo atual.
Para se ter ideia, o volume de milho transportado de Mato Grosso para Santa Catarina no acumulado deste ano até novembro somou 15,4 milhões de sacas, 78,4% mais que no mesmo período do ano passado. De Mato Grosso do Sul para Santa Catarina, o aumento foi de 186,8%, para 78,8 milhões de sacas.
O levantamento leva em consideração notas fiscais de transporte de sacas, mas a Tarken lembra que um mesmo volume pode ser transportado várias vezes no mesmo Estado, o que explica os números tão elevados. Além disso, também é importante considerar que os números absolutos mudam a cada temporada, ao sabor da colheita geral do país.
“Essas são as movimentações mais óbvias, mas o Paraná, por exemplo, que era muito abastecido por Mato Grosso do Sul, também recebeu muito milho de São Paulo. No Triângulo Mineiro, o fornecimento veio de Goiás”, diz Luiz Tângari, cofundador da Tarken.
Outra rota “surgida” com a quebra da safra foi a que leva milho da Bahia para Brasília e Pernambuco, em detrimento do Triângulo Mineiro. Segundo o executivo, grande parte da demanda desses locais por milho era suprida anteriormente pelo Maranhão, que também teve uma colheita menor em 2020/21.
Segundo o levantamento da Tarken, a quantidade de milho transportada da Bahia para Pernambuco aumentou mais de 1.700% entre as safras 2019/20 e 2020/21, para 99,32 mil sacas. Já as remessas de milho baiano para Minas Gerais diminuíram 77,6%, para 491,28 mil sacas.
Para elaborar o estudo, a Tarken analisou mais de 6 milhões de negociações reais de compra e venda de milho nos últimos três anos. Com base nas cidades de origem e destino, foram agregados os volumes de sacas de 60 quilos, em um modelo de rotas rodoviárias. Também foram analisadas as principais cidades compradoras e produtoras do país nesse período.
Além do fluxo de grãos, o sistema da Tarken, que utiliza inteligência artificial, permite ver os preços médios por cidade, ofertas mais próximas, opções de fechamento do negócio, taxas de ICMS e de frete médio. Entre os principais clientes da agritech estão produtores, granjeiros e pecuaristas.
Recentemente, a Tarken recebeu um aporte de US$ 3,5 milhões em uma rodada “seed”, que foi liderada pela Monashees e Maya. Também participaram o fundo Gilgamesh e os investidores-anjo Carlos Garcia, Pierpaolo Barbieri e Gokul Rajaram.