Apontada como um dos vilões do clima, a emissão de metano por bovinos pode ser administrada para a redução do aquecimento global. Apresentação de iniciativas e debates nesse sentido marcaram o Fórum Metano na Pecuária – o caminho para a neutralidade climática, realizado em 4 e 5 de maio em São Paulo. Pesquisadores de diversos países, representantes do setor público e especialistas de diferentes áreas conduziram 25 palestras no evento realizado pela JBS, líder global em alimentos à base de proteína, em parceria com a Silvateam, maior produtora mundial de extratos vegetais utilizados na alimentação animal.
O primeiro dia foi dedicado ao impacto dos principais gases de efeito estufa na atmosfera, como o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4) produzidos pelas atividades agropecuárias. Peer Ederer, diretor da Rede Global de Alimentos e Agronegócios (GFAN), diz que ainda há muita confusão em relação ao funcionamento do metano na atmosfera, inclusive entre os especialistas em clima. Ele defende que países onde há pouca produção de CO2, o impacto do metano é menor e, portanto, seu potencial de prejudicar o meio ambiente diminui. “Precisamos ver o que realmente vai chegar à atmosfera”, destaca.
De acordo com Frank Mitloehner, pesquisador da Universidade da Califórnia Davis, a redução das emissões de metano pode ajudar a frear o aumento da temperatura global por sua capacidade de retenção de calor ser superior à do CO2. Apesar de sua curta vida na atmosfera – pouco mais de dez anos –, o CH4 é quase 28 vezes mais potente que o dióxido de carbono como gás de efeito estufa num horizonte de cem anos. Dessa forma, sua captura ajuda a esfriar o planeta, se contraponto ao CO2, que fica no ar por séculos.
Uma das formas de garantir eficiência na produção agropecuária, de acordo com a fundadora e diretora da SacredCowInfo, Diana Rodgers, é a alimentação. A nutricionista é coautora de um livro e diretora de um filme homônimo que defendem que uma dieta isenta de proteína animal pode ser mais destrutiva para o meio ambiente do que a criação sustentável de gado. “Apenas uma porcentagem de terra é cultivável e isso faz com que as pessoas olhem torto para nós. A carne é um dos melhores alimentos que temos, pois podemos fazer tudo isso usando energia solar e uma série de iniciativas sustentáveis”. Conhecida por “Sacred Cow”, ela destacou, durante o evento, os benefícios da proteína animal à saúde.
A necessidade de descarbonização e o papel das emissões na agropecuária também foram temas das outras palestras ao longo do primeiro dia, como as de Alexandre Berndt, chefe-geral da Embrapa Pecuária Sudeste, e de Eduardo Assad, também pesquisador da Embrapa, que defendeu a padronização métrica para a emissão de gases de efeito estufa. Aimable Uwizeye, diretor da Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês),tratou do debate sobre novas diretrizes para a emissão de metano. Fabiana Villa Alves, diretora do Ministério da Agricultura, descreveu políticas públicas decorrentes de acordos climáticos internacionais, como o Plano ABC+; e Renata Branco, diretora da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA),abordou as técnicas de mensuração de gases de efeito estufa.