De janeiro a novembro, embarques do agronegócio brasileiro renderam US$ 110,7 bilhões
As exportações do agronegócio brasileiro renderam US$ 110,7 bilhões de janeiro a novembro de 2021, um crescimento de 18,4% em relação ao ano passado. O avanço foi puxada pelo câmbio favorável e por preços elevados, uma vez que o volume das vendas registrou diminuição de 6,5%.
Considerada uma “jogada comercial” pelo presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins, nem a suspensão das exportações de carne bovina brasileira para a China, que já dura mais de três meses, impediu o novo recorde da balança do setor.
“Não foi problema sanitário. Ao contrário, eles sabem disso. O que houve foi uma jogada de mercado (…) A China esperava que o preço do boi fosse cair e prorrogou o embargo”, afirmou.
O impasse comercial é considerado “normal” pela diretora de Relações Internacionais da CNA, Lígia Dutra. A lição a ser tirada do episódio, segundo ela, é a necessidade de aproximação maior com os clientes. “A China ainda é uma grande desconhecida”, afirmou “Temos uma presença desproporcional no país, pelo tanto que a gente vende. Temos que ser mais presentes”, emendou.
Sem as compras chinesas, o Brasil ampliou as exportações de carne de gado para outros destinos, como Estados Unidos e Chile. A diversificação de produtos e destinos ainda é uma meta perseguida pela CNA para ampliar a fatia de 1% que o país detém do comércio mundial. O foco é o mercado asiático e a construção de acordos bilaterais. “Não é falta de demanda, é falta de oferta, de ter a pauta mais diversificada”, completou Lígia.
As exportações devem ter um ano positivo em 2022, acredita a CNA, mas será preciso acompanhar o desenrolar da pandemia e os possíveis reflexos no fluxo de transporte marítimo, os gargalos logísticos, a menor oferta global de insumos e o protecionismo crescente — ligado principalmente a temas ambientais, que estarão cada vez mais presentes na pauta do comércio internacional.
“Muitos países estão colocando normas unilaterais, mas não se engajam em discussões multilaterais sérias, como na OMC [Organização Mundial do Comércio], em questões que impactam a sustentabilidade”, criticou, Lígia Dutra. Uma dessas discussões envolve a redução dos subsídios agrícolas “distorcivos”.
Esse tipo de apoio, oferecido por países desenvolvidos e emergentes a seus produtores, “têm impacto profundo em questões de sustentabilidade porque eles patrocinam a ineficiência”, avaliou a diretora. “A falta de empenho desses países nas discussões multilaterais é um pouco decepcionante”, disse ela.
Segundo Lígia, é preciso diálogo para que “as medidas unilaterais sejam com preocupação ambiental e não só barreiras disfarçadas no comércio, que aumentam o protecionismo”. O presidente da CNA, João Martins, disse que o setor vai mostrar ao mundo a “verdade” sobre a produção sustentável feita no Brasil.
“Precisamos mostrar que a carne brasileira não está em região com desmatamento ilegal ou queimada. Temos que ser mais esclarecedores sobre a produção agropecuária”, disse. E criticou queimadas e desmatamentos ilegais. “É problema de polícia. Não defendemos produtor que trabalha na ilegalidade”.