Desafios incluem conhecer melhor a variedade de perfis de consumo da população islâmica mundial, de quase 2 bilhões de pessoas, e ampliar oferta de produto certificado para situações de consumo introduzidas pela pandemia
A busca por novos mercados para produtos brasileiros no mundo islâmico deve ser trabalho a quatro mãos do setor público e do setor privado.
O entendimento é do diretor do departamento de agronegócio do Itamaraty, Alexandre Peña Ghisleni, que falou na manhã de ontem, (6) a uma plateia de empresários no Global Halal Brazil Business Forum, em São Paulo.
De acordo com o dirigente o aprimoramento da imagem do Brasil no mundo islâmico é fundamental para o país avançar na exportação de produtos halal (que respeitam as tradições culturais do islã) para além da carne bovina e do frango, em segmentos como cosméticos e fármacos, nos quais o Brasil tem participação muito abaixo do potencial. “Ainda precisamos divulgar o produto brasileiro, participando e promovendo mais eventos e feiras e articulando melhor setor público e privado”, reconheceu.
Na perspectiva do Ministério da Agricultura, o avanço brasileiro no mundo islâmico depende ainda de um maior conhecimento dos vários segmentos do mercado muçulmano, cuja diversidade inclui nada menos que 1,9 bilhão de consumidores, dispersos em pelo menos 60 países, completamente diferentes entre si. Essa é a opinião do secretário-adjunto de comércio e relações internacionais da pasta, Flávio Bettarello, que destacou o papel dos adidos agrícolas nas embaixadas e consulados pelo mundo na solução desse gargalo.
“Eles estão conseguindo fincar bandeiras importantes sobre a imagem do produto brasileiro e negociando o acesso a países não só muçulmanos, mas na Europa e em outras regiões [com grandes populações islâmicas]. Também estão monitorando a legislação do local para que todos os critérios sanitários e fitossanitários sejam atendidos na importação de produtos brasileiros, sempre intervindo junto aos respectivos governos para que eventuais entraves sejam superados”, disse Bettarello.
Além de criar estratégias para compreender essa imensa diversidade, outro gargalo da promoção do halal brasileiro no mundo islâmico é o leque ainda limitado de produtos capazes de atender necessidades introduzidas pela pandemia. O vice-presidente de relações internacionais da Câmara Árabe, Mohamad Mourad, destaca que, nos últimos dois anos, há uma maior disposição do consumidor em buscar, por exemplo, alimentos pré-porcionados, semiprontos e de preparo rápido em vários mercados da Organização para Cooperação Islâmica.
“Seja porque há uma busca cada vez maior por produtos saudáveis, ou porque ocorreu uma explosão na procura de alimentos prontos para consumo devido a pandemia, com casais dispendendo menos tempo no preparo das refeições. Tanto é assim que em redes como Walmart, Wholefoods ou Carrefour já existem seções de produtos halal, o que agrega valor e abre novas frentes para quem souber investir”, acrescentou Mourad.
O dirigente também lembrou a importância da crescente oferta de produtos com certificação halal, que na prática funciona como uma garantia para o consumidor muçulmano que o consumo de um dado produto não transgride suas tradições culturais e religiosas.
No segmento de proteínas, por exemplo, a maior parte das exportações brasileiras para a Liga Árabe ainda consiste num tipo básico de frango, o griller, que é vendido inteiro, com peso ao redor de 1 kg, em caixas com até 12 unidades.
Mourad reforça que o portfólio de produtos precisa ser atualizado, considerando os novos hábitos de consumo do muçulmano e mirando uma promoção mais efetiva do halal brasileiro e a dinâmica da mudança do perfil de consumo no mundo islâmico.