Com a chegada da primavera, iniciada no último mês de setembro, as temperaturas começam a aumentar mesmo com algumas chuvas ocasionais, tornando o ambiente mais úmido e propício para a proliferação de carrapatos. Esse cenário faz com que o parasita, ao se deparar com estas circunstâncias em determinadas épocas do ano, se desenvolva mais rapidamente.
Segundo Lucas von Zuben, biólogo e CEO da Decoy Smart Control, desenvolvedora de soluções biológicas para controle de pragas, a primeira geração de infestação do carrapato está condicionada ao aumento da temperatura média e umidade relativa do ar (início do período chuvoso). “Dessa maneira, o início das águas é um período de extrema relevância para o combate do carrapato, pois o cenário é perigoso e pode causar impactos negativos na produtividade do rebanho. Esse maior volume de chuva afeta diretamente a agropecuária e os produtores devem se preparar enquanto há tempo”, alerta.
A partir da chegada dos dias quentes e úmidos, os carrapatos se multiplicam, aumentando a infestação dos parasitas nos animais e a contaminação do ambiente em que vivem. A multiplicação ocorre mais rapidamente, sendo um alerta aos produtores. “Essas condições ambientais favorecem diretamente o desenvolvimento dos carrapatos. Com as fêmeas já fecundadas, é o melhor cenário para se desprenderem dos animais e liberarem os ovos no solo”, explica von Zuben. “Ao mesmo tempo, as circunstâncias facilitam a eclosão das larvas, provenientes dos ovos depositados nas pastagens”, completa.
Cada fêmea pode colocar até três mil ovos e, com condições favoráveis e tratamento ineficaz, o parasita pode aumentar gravemente os danos no rebanho. “Altas infestações, principalmente em épocas de chuva, impactam diretamente a sanidade e a produtividade do rebanho”, pontua o especialista.
Infestações diferem em cada região do país
Por apresentarem divergências na temperatura e pressão, a infestação deste parasita ocorre em tempo e intensidade diferentes em cada uma das regiões do país. “Quanto maior a temperatura e a umidade do local, mais rápido o carrapato se desenvolve e maior é seu número de gerações por ano. Por isso, é fundamental que o pecuarista conheça o desenvolvimento do carrapato em sua região”, ressalta von Zuben.
A região Sudeste, por exemplo, apresenta condições climáticas que favorecem a sobrevivência do carrapato durante todo o ano. No entanto, nos meses de inverno, em que predominam temperaturas mais baixas e menor umidade, o ciclo se alonga, acarretando um menor número de gerações anuais. Já no verão, que na região é quente e chuvoso, existem picos de infestação e alto desenvolvimento dos parasitas.
Na região Sul, as baixas temperaturas e seca no inverno acarretam um desenvolvimento bastante lento do carrapato. Por isso, há menos riscos de pico ao longo do ano quando comparado com outras regiões do país.
Nas regiões Nordeste e Norte, as elevadas temperaturas durante grande parte do ano favorecem uma infestação constante ao longo dos doze meses. “Nestes casos, é possível que o carrapato apresente cinco gerações no ano”, alerta o especialista.
Já o Centro-Oeste, apesar de ser conhecido por ter quatro gerações por ano, pode apresentar até cinco gerações de carrapatos no período de doze meses.
Como prevenir as infestações
Segundo von Zuben, durante essa época do ano, o produtor enfrenta maiores problemas, além de também ser um período-chave no ciclo de produção. “Um dos desafios é que essa época é o momento de saída da estação de nascimentos e entrada na estação reprodutiva, sendo muito importante o cuidado do rebanho de cria. E é justamente nessa época que o carrapato-do-boi está em seu período de maior desenvolvimento”, explica. Na primavera, principalmente, há o aumento das temperaturas e da umidade, sendo um ambiente bastante propício para a eclosão dos ovos e desenvolvimento de larvas que estão no ambiente — e que assim passam a parasitar os bovinos. “Por isso, é necessário usar desse momento para agir de modo a evitar uma superpopulação de carrapatos nas futuras gerações”, destaca.
De acordo com o biólogo, as alternativas de combate encontradas pelos produtores no mercado são agentes químicos que, independentemente da apresentação, possuem ação agressiva. Os produtos são extremamente tóxicos – tanto para quem manipula, quanto para o animal e o meio ambiente. “Além disso, o uso excessivo durante muitos anos aumentou a resistência da praga, implicando em dosagens maiores e em períodos cada vez mais curtos, deixando as soluções sem efetividade”, explica.
Para o especialista, para evitar mais infestações nessa época, o ideal é trazer à propriedade o controle estratégico, que deve ser feito entre o final do período de seca e início do período chuvoso. Além de tratar a infestação presente, esse método previne futuras infestações. “O controle biológico é um importante aliado da pecuária. É uma técnica utilizada para combater espécies nocivas, reduzindo os prejuízos causados por elas. A tecnologia consiste em controlar pragas e insetos transmissores de doenças por meio do uso de seus inimigos naturais”, pontua von Zuben.
Solução natural e biológica combate o carrapato-do-boi
A Decoy desenvolveu um tratamento contra o carrapato-do-boi baseado na tecnologia. São dois produtos: um para ser aplicado no rebanho e outro na pastagem. As soluções têm como princípio ativo esporos de fungos, inimigos naturais dos carrapatos. Quando distribuídos no gado e no ambiente, entram em contato com o parasita, germinam e se desenvolvem, levando-o à morte em poucos dias.
“O produto não deixa resíduos tanto no leite como na carne e pode ser utilizado em todo o rebanho, inclusive em vacas prenhes e bezerros”, completa von Zuben. “Além disso, a solução não é tóxica para humanos, e nem para os animais, e, como se trata de um inimigo natural dos ectoparasitas, não há problemas com resistência ao seu método de controle”, ressalta.
Enquanto aguarda a aprovação de documentos junto ao MAPA para iniciar a comercialização, a Decoy estabeleceu um programa de parcerias com pecuaristas. “Disponibilizamos as soluções aos produtores e eles fornecem informações sobre o tratamento, além de uma ajuda de custo para o desenvolvimento das pesquisas. Até agora, temos mais de mil associações em todo o Brasil”, conta von Zuben.
Para o biólogo, tratar os animais — assim como as infestações em pasto — de forma planejada é a melhor forma de reduzir o problema. “Quando ainda está no início, os impactos são menores. Com um controle assertivo, o rebanho fica livre dos carrapatos e se torna mais produtivo”, finaliza.