Inovações, modernidades e as diferentes categorias provenientes do soro de leite foram alguns dos assuntos abordados pelo engenheiro em biotecnologia e mestre em Ciência de Alimentos, Peterson Vasconcellos Zequi, durante o primeiro dia do 13º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite. Com o tema “Soro de leite – inovações e oportunidades”, a palestra fez parte do Painel Indústria do 13º SBSBL, promovido pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet), que teve início nesta terça-feira (5) e prossegue até quinta-feira (7), no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo De Nes, em Chapecó/SC.
Zequi é responsável pelo Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da Sooro Renner Nutrição S/A e apresentou os conceitos para a produção do soro de leite, um subproduto lácteo frequentemente subestimado, destacou seu potencial e a importância de explorar o soro como uma matriz nutritiva, versátil e altamente valorizada.
O palestrante explicou que, embora o soro tenha sido amplamente conhecido no passado como um resíduo da produção de queijos, é possível obtê-lo sem necessariamente fabricar queijo. Esta microfiltração, também conhecida como “soro ideal”, permite melhor controle de qualidade e preserva propriedades nutricionais importantes, uma vez que não passa por processos térmicos que podem afetar seu valor nutritivo. “Essa abordagem é estratégica tanto para o mercado quanto para a produção, permitindo produtos mais saudáveis e de maior valor agregado. A filtração por membrana vai separar as proteínas do leite pulando a etapa da fabricação do queijo,” explicou.
A palestra também abordou as características nutricionais da proteína do soro, altamente valorizada no mercado devido à sua capacidade de aplicação em diversas categorias alimentares. Além do uso tradicional em suplementos esportivos, a proteína do soro de leite pode ser utilizada em produtos como sorvetes, que se beneficiam da cremosidade e emulsificação proporcionadas pelo soro, ou em bebidas lácteas, onde ele pode reduzir a sinérese (separação do soro). “Podemos agregar valor a alimentos e melhorar suas características físicas e sensoriais”, comentou Zequi, citando o exemplo do sorvete proteico, um produto com potencial crescente entre os consumidores de alimentos saudáveis.
Zequi detalhou ainda os processos de obtenção do soro de leite, diferenciando em três categorias com propriedades distintas: o soro ácido, com pH baixo e menor teor proteico; o soro doce, com pH neutro e teor proteico mais elevado; e o microfiltrado, que combina a alta qualidade do soro ácido com um pH mais neutro. “Esse terceiro processo, garante uma qualidade nutricional superior, pois evita as etapas que o soro derivado do queijo convencional passaria”, apontou o palestrante.
DEVE-SE PREZAR PELA QUALIDADE, DO INÍCIO AO FIM
O especialista também abordou a importância da qualidade do leite como fator determinante para o atributo final do soro. A higiene no manejo e na ordenha, bem como o cuidado com a refrigeração, foram pontos ressaltados para manter a qualidade do produto e garantir o potencial de absorção da proteína. Em média, o corpo humano absorve até 75% da proteína do soro, destacando-o como um ingrediente de alta eficiência nutricional.
A palestra de Zequi reforçou o valor de um subproduto que antes era descartado ou utilizado de forma limitada, mas que agora representa uma oportunidade valiosa para a saúde e para o mercado global. Estima-se que o setor de produtos derivados do soro, especialmente o mercado de whey protein, alcance cifras ainda mais significativas nos próximos anos, impulsionado pela demanda de produtos saudáveis e de alta performance nutricional. “Este é um produto de 2ª geração que apresenta mais de 90% de proteína em sua composição. Esse produto concentrado não é apenas voltado para suplemento de quem faz atividade física, mas é possível usar nas mais diversas aplicações”, informou, ressaltando que os compostos bioativos extraídos do soro possuem benefícios comprovados, como efeitos antioxidantes, antibacterianos e antivirais. “Além disso, esses compostos podem atuar como protetores hepáticos, auxiliar na secreção de insulina e até mesmo ser utilizados como suplemento alimentar para pacientes oncológicos. Já o co-produto de 5ª geração do soro, antes restrito à alimentação animal, hoje é considerado também para usos agropecuários, como fertilizantes, e em algumas aplicações na alimentação humana”, expôs.
Com temas como esses, o SBSBL reafirma sua importância como evento estratégico para o setor lácteo brasileiro, incentivando inovação e posicionando o Brasil como um dos protagonistas no mercado de produtos lácteos de valor agregado. “Queremos despertar e aguçar a curiosidade das pessoas nesse tema. O soro de leite tem vários tipos de produtos e devemos pensar no futuro com a utilização desses compostos, que trazem benefícios não apenas para o mercado, mas para a saúde”, concluiu Zequi.