O Brasil deve unir forças aos demais países do Mercosul – Argentina, Paraguai e Uruguai – para fortalecer a região na geopolítica internacional, fundamental para o fornecimento de alimentos para o planeta e, consequentemente, sendo um importante ator para a segurança alimentar global. Essa foi a principal conclusão da reunião do Comitê de Relações Internacionais da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), realizada nesta terça-feira (10 de maio), que contou com a participação de representantes do Grupo de Países Productores del Sur (GPS).
Para Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da ABAG, a coordenação para o trabalho em conjunto entre os quatro países está mais importante do que antes da pandemia, pois, nesse momento, a situação geopolítica é delicada e a fragilidade da Organização Mundial do Comércio (OMC) é uma preocupação, ainda mais com o retorno de subsídios, de protecionismos e do precaucionismo em diversos países. “Mas, nós temos a capacidade de aproveitar as oportunidades que estão surgindo nesse novo arranjo global, enfatizando quais são os nossos valores, uma vez que o Mercosul conta com dois elementos centrais para a geopolítica: energia e alimento”, disse.
Carvalho ainda comentou que, em junho, haverá uma reunião com a OMC, por isso será necessária uma coordenação efetiva para que os países do Mercosul possam se preparar para apresentar as propostas da região. “Não temos muito tempo, porém essa reunião é vital para nós e, também, para a OMC”, pontuou.
Na avaliação do embaixador do Uruguai no Brasil, Guillermo Valles Gálmes, na posição de defesa do Mercosul, mostra que ele deve estar unido e integrado, porque o sistema multilateral se enfraqueceu e não é possível prever ainda quais serão as regras e as instituições que regerão os próximos decênios. “A globalização econômica significou para nossa região o aproveitamento de nossas capacidades produtivas”, afirmou o embaixador, que destacou que a visão de desenvolvimento dos quatro países deve estar baseada na bioeconomia. A seu ver, também precisam ser trabalhados três pontos: comércio, políticas comerciais e sistema internacional de comércio.
Durante a reunião, Ingo Ploger, coordenador do Comitê de Relações Internacionais da ABAG, forneceu o cenário geopolítico atual, ao comentar que a pandemia colocou as cadeias produtivas globais em uma nova situação, em que foi preciso dar um foco maior na cadeia de suprimentos, cujos efeitos foram uma inflação mundial. “Essas circunstâncias levaram as cadeias a procurarem suprimentos mais próximos, a fim de diminuir a dependência da Ásia”, disse. Já a invasão da Rússia à Ucrânia trouxe também uma reavaliação dos países quanto à questão energética e, também, em termos do fornecimento de alimentos.
Ainda sobre a invasão, o economista Agustin Tejeda Rodriguez, do GPS, fez uma avaliação sobre os efeitos desse ataque no mundo e na região. Ele analisou que a Ucrânia dificilmente retorna ao mercado neste ano e que a Rússia seguirá afetada por sanções. Com isso, abre-se uma janela de oportunidade para novos fornecedores em países que eram atendidos pelas nações em guerra e pode ocorrer um redirecionamento dos fluxos do comércio internacional e ajustes nas demandas.
Em termos políticos, Martin Pinheiro, do GPS, fez considerações a partir de uma perspectiva do Mercosul e alertou que a região deve manter os laços geopolíticos com o Ocidente, mas desenvolvendo relações comerciais com a Ásia e com outros mercados que eram abastecidos pela Rússia e pela Ucrânia, como países do Oriente Médio e da África. Segundo ele, o Mercosul precisa estar atento às tendências globais para se manter competitivo no agronegócio. Entre as tendências, ele citou aspectos que se cristalizam como a consolidação e o empoderamento da União Europeia; assim como o fortalecimento da aliança liderada pelas Estados Unidos.
Também estiveram na reunião, Marcelo Regunaga, ex-secretário de Agricultura, Pecuária e Pesca da Argentina, e Eduardo Serantes, coordenador geral do GPS, que fizeram uma explanação sobre o trabalho realizado pelo grupo.