O conflito entre Rússia e Ucrânia teve reflexos diretos sobre as cotações dos grãos negociados na bolsa de Chicago. O trigo encerrou a quinta-feira em seu limite de alta para uma só sessão, o milho também subiu e a soja passou por um movimento de correção após as fortes valorizações recentes, derivadas das tensões. Independentemente das variações de ontem, contudo, o fato é que o mercado de grãos saiu dos eixos, e os próximos pregões serão fundamentais para os traders definirem suas posições.
Os contratos do trigo que vencem em maio avançaram 5,65%, a US$ 9,3475 o bushel. O preço aumentou 50 centavos de dólar em relação ao fechamento da véspera, teto de variação das cotações do cereal em um único pregão. Com a escalada das tensões ao longo do mês e a invasão ocorrida ontem, os contratos de segunda posição de entrega acumulam valorização de 21,99%, segundo cálculos do Valor Data.
Após os ataques russos, os futuros do trigo atingiram rapidamente seu limite de variação, o que exigiu a interrupção dos negócios por alguns minutos. Os investidores apostam que o conflito deve limitar a oferta de trigo e, em menor proporção, também a de milho.
A Rússia é o maior exportador de trigo do mundo e a Ucrânia, o terceiro. De acordo com dados recentes do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), divulgados antes da invasão russa, somadas, Rússia e Ucrânia deverão embarcar 59 milhões de toneladas do cereal nesta safra 2021/22, volume que corresponde a quase um terço do total previsto para a temporada.
Países como Turquia, Egito e Líbano dependem da Rússia e da Ucrânia para a oferta de uma parte substancial do trigo que consomem. Praticamente não há outro fornecedor viável.
Segundo a agência Dow Jones Newswires, dados do tráfego marítimo mostraram que, durante a noite, nenhum navio cruzou o Estreito de Kerch, que liga o Mar Negro ao Mar de Asov. Dezenas de navios atravessam o estreito diariamente para transportar commodities como aço, grãos e produtos manufaturados.
O tráfego de navios para Odessa, o maior porto da Ucrânia e ponto de entrada de porta-contêineres, também foi interrompido. Os dados da Lloyd’s List Intelligence mostram mais de 100 navios presos na entrada sul do Kerch.
Como consequência do conflito, o comprador estatal de grãos do Egito cancelou ontem uma licitação internacional de trigo. O país é o maior importador do cereal no mundo e costuma receber de dez a 20 ofertas em cada leilão. Dessa vez, recebeu apenas uma.
“É amplamente esperado que o petróleo russo e outros produtos de energia, fertilizantes e grãos estejam na lista de restrições que o Ocidente deve impor”, disse a AgResource. União Europeia, EUA e Japão já anunciaram retaliações, mas ainda não detalharam quais produtos farão parte das sanções.
Após atingirem seu limite de alta, os futuros do milho reduziram seu ritmo de valorização ao longo do dia. Os papéis para maio subiram 1,32% (9 centavos de dólar), a US$ 6,9025 o bushel; no mês, os contratos de segunda posição acumulam valorização de 10,53%. Nesse mercado, Ucrânia e Rússia representam cerca de 20% das exportações mundiais – 38 milhões de toneladas em 2021/22, segundo o USDA.
Nas negociações da soja, apesar da tensão nos mercados, o dia foi de correção de preços na bolsa de Chicago. O contrato de segunda posição, para maio, caiu 1,02% (17 centavos de dólar), a US$ 16,540 o bushel, mas acumula alta de 10,62% em fevereiro, segundo o Valor Data, em boa medida em consequência do imbróglio no Leste Europeu.