FAIRR Initiative identificou melhora generalizada em companhias de todo o mundo, mas uso de água e gestão de resíduos ainda estão longe do ideal
Investidores responsáveis por US$ 45 trilhões em ativos avaliaram que as principais empresas de carnes brasileiras seguem oferecendo riscos ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês), mas apresentaram melhoras em 2021. A conclusão é de um levantamento sobre 60 companhias globais da cadeia conduzido pela coalizão de investidores FAIRR Initiative. As empresas avaliadas representam 24% do mercado global de pecuária.
O grupo criou um índice que mede riscos e oportunidades nas empresas. As companhias são classificadas como alto, médio ou baixo risco ou como “melhores práticas”, com uma nota de 0 a 100%. A Marfrig saiu de “médio” para se tornar uma empresa de “baixo risco” ESG. Sua nota subiu 8 pontos percentuais, mas como outras empresas melhoraram mais, ela caiu de quarto para quinto lugar no ranking.
JBS, BRF e Minerva foram classificadas como “médio risco”. A nota da JBS subiu 10 pontos, mas a empresa caiu para a 11ª posição porque outras melhoraram mais. Foi o caso da BRF, que subiu 11 pontos e trocou de posição com a JBS, alcançando a nona colocação. A Minerva saiu da zona de “alto risco” com uma alta de 30 pontos e chegou ao 25º lugar.
Houve uma melhora generalizada – o índice subiu para 87% das empresas globais -, mas metade delas ainda é de “alto risco” ESG. Em geral, as empresas avançaram mais nas condições de trabalho e medição e metas de emissões de gases estufa.
Desafio principal
No Brasil, o desafio central é relacionar a origem dos animais com desmatamento. Segundo o relatório, o monitoramento das empresas não identifica de 85% a 90% do problema nas cadeias. Globalmente, o maior desafio é de uso de água e gestão de resíduos. Estima-se que os animais produzam duas vezes mais resíduos que os humanos no planeta. Porém, no quesito água, 94% das empresas são de “alto risco”, e em resíduos, 98% estão nessa categoria.
Maria Lettini, diretora executiva da iniciativa, disse ao Valor que os resultados das brasileiras foi “encorajador” e reflete a pressão de investidores, reguladores e consumidores. Porém, ela ressaltou que os investidores esperavam progresso maior no rastreamento dos animais. “Quanto mais uma empresa deixa de lidar com riscos ESG, mais provável que os investidores reduzam ou tirem seus investimentos dela”.
A Marfrig afirmou que seu índice reflete “ações e resultados já alcançados pelo Plano Marfrig Verde+”, que já mapeou mais de 60% dos produtores diretos e indiretos na Amazônia e 47% no Cerrado. A empresa disse ainda que adota ações “para diminuição das emissões de metano no escopo 3” e tem a “melhor avaliação” no BBFAW, maior ranking global de bem-estar animal.
A Minerva disse que “segue empenhando esforços” contra “o desmatamento ilegal e as mudanças climáticas” e que é a única a usar “informações geográficas em todos os biomas no Brasil e no Paraguai”, onde monitora 14 milhões de hectares e que investe em “ferramentas e tecnologias” com “foco em uma produção cada vez mais sustentável e de baixo carbono” e iniciativas de bem-estar animal.
A JBS afirmou que sua nota “reflete a prioridade que as questões ESG” recebem na companhia. “A sustentabilidade, definitivamente, passou a ser a nossa estratégia de negócios”. Segundo a empresa, ela “já monitora seus fornecedores há mais de dez anos” e “está estendendo esse controle aos fornecedores de seus fornecedores” com tecnologias.
Em nota, a BRF lembrou que tem uma série de iniciativas sustentáveis em suas operações, entre elas o compromisso em ser “net zero” em emissões de gases de efeito estufa até 2040, e lembrou que não atua com bovinos, somente aves e suínos.