Revisão foi motivada pela expectativa de alta mais intensa tanto dos preços administrados quanto dos bens e serviços livres
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou, nesta quarta-feira (24/11), a revisão da previsão para a inflação brasileira em 2021. A variação esperada do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi revista de 8,3% para 9,8%, enquanto a previsão para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) passou de 8,6% para 10,1%.
O aumento das projeções do IPCA veio de uma revisão mais intensa dos bens livres e dos preços administrados, com previsões que passaram de 7,9% e 12,9% para 10,3% e 15,6%, respectivamente. A inflação esperada para os alimentos e para os serviços livres também foram revisadas para cima, passando de 8,9% e 5,0% para 9,8% e 5,5%.
O aumento expressivo dos preços das commodities no mercado internacional tem contribuído para a inflação no Brasil e em outras economias no mundo, mas há alguns fatores domésticos que explicam esta aceleração mais forte da inflação no país. Entre estes, está a estiagem verificada no país este ano, que gerou uma baixa histórica nos níveis dos reservatórios, levando a adoção da bandeira de escassez hídrica e de reajustes da bandeira vermelha para cobrir o custo mais elevado da energia produzida pelas termelétricas.
Outros fatores internos que contribuíram para esta alta mais intensa foram a desvalorização cambial de 8,6% ao longo do ano e a contínua aceleração da inflação de bens industriais, mesmo em um contexto de deslocamento de parte da demanda de bens para os serviços.
Em relação às expectativas para o ano de 2022, mesmo diante de um cenário que prevê desaceleração da inflação em todos os segmentos, há uma perspectiva de que o descompasso entre a oferta e a demanda de matérias primas deva perdurar no primeiro trimestre. Além disso, é preciso considerar que o elevado nível da inflação corrente pode gerar algum tipo de inércia inflacionária nos reajustes do próximo ano. Com isso, as taxas projetadas para o IPCA e o INPC para 2022 foram revistas para cima, avançando de 4,1% e 3,9% para 4,9% e 4,6%, respectivamente.
Essa previsão de redução das taxas de inflação em 2022 está ancorada em estimativa de acomodação dos preços do petróleo, ainda que em patamar elevado, combinada ao aperto monetário em curso, com a elevação das taxas de juros, à baixa probabilidade de efeitos climáticos intensos e à projeção de um aumento de 7,8% da safra brasileira, que devem gerar uma pressão menor sobre combustíveis, energia elétrica e alimentos.
O texto ainda aponta que os riscos inflacionários para o ano que vem seguem associados a novos aumentos dos preços internacionais das commodities e à percepção de alguma fragilidade fiscal, além da instabilidade política, oriunda do processo eleitoral, com efeitos que podem desencadear um novo ciclo de desvalorização cambial no contexto interno.