A JBS encerrou o primeiro trimestre deste ano com lucro líquido de R$ 1,65 bilhão, um resultado que contrasta com o prejuízo de R$ 1,45 bilhão que a companhia registrou no mesmo período de 2023, quando uma suspensão temporária de vendas de carne bovina do Brasil para a China e as margens apertadas nos Estados Unidos abalaram os resultados. Agora, a recuperação em quase todas as operações da empresa colocou em segundo plano a oferta ainda baixa de gado no mercado americano.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado teve um forte crescimento, de 197,3%, para R$ 6,4 bilhões. “Mesmo com ciclo [do gado] desafiador nos EUA, a gente está entregando esse Ebitda”, disse à reportagem o CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni. “O mercado vai entender cada vez mais o valor da nossa plataforma de diversificação [de proteínas e geografias]”, acrescentou.
De acordo com o executivo, a demanda firme por aves e suínos e a queda dos custos dos insumos usados na ração desses animais (milho e farelo de soja) ajudaram a compensar as adversidades no segmento de bovinos no mercado americano. “Se olharmos para a frente, veremos uma estabilidade nos preços dos grãos”, projetou ele. Caso a perspectiva se confirme, o alívio nos custos pode continuar jogando a favor da companhia.
A receita líquida da empresa aumentou em menor proporção, 2,8%, para R$ 89,15 bilhões, refletindo a queda dos preços das carnes. A JBS fez 76% de suas vendas globais nos mercados domésticos em que a companhia atua e 24% por meio de exportações.
Tomazoni lembrou que os abates de bovinos aumentaram muito no mercado brasileiro, onde a oferta de produto para a indústria é maior do que nos EUA. Ao mesmo tempo, o preço final tem caído. No mercado externo, também o valor da tonelada embarcada teve queda.
Entre as unidades de negócios do grupo, a Seara, de aves e suínos, registrou Ebitda ajustado de R$ 1,19 bilhão, o que representou um crescimento expressivo, de 711,1%, em comparação com o primeiro trimestre de 2023. “A Seara era uma questão de foco de gestão, produtividade, rendimento. Esse processo não terminou e tem potencial para mais do que isso”, destacou o CEO, citando ainda que a unidade se beneficiou da diminuição dos custos de produção.
A margem da JBS USA Pork cresceu 13,9 pontos percentuais no trimestre, para 16,4%. O Ebitda ajustado da unidade teve um forte aumento, de 569,8%, para R$ 1,55 bilhão. Em contrapartida, na JBS Beef North America, o Ebitda ajustado, que foi de R$ 115,8 milhões no primeiro trimestre do ano passado, passou a R$ 48,6 milhões negativos no mesmo intervalo deste ano. “[O mercado de carne bovina] nos Estados Unidos continua difícil. Mas também estamos vendo o consumidor indo buscar outras proteínas”, comentou.
Na JBS Brasil, o Ebitda ajustado cresceu 116,9%, para R$ 643,3 milhões. O desempenho deveu-se, entre outros fatores, à recuperação das vendas para a China e à queda do preço na compra do gado.
Tomazoni ressaltou que, sazonalmente, o primeiro trimestre do ano não é o mais forte da empresa; os trimestres principais, disse, são os dois últimos. Mesmo assim, o desempenho de 2024 já começou muito positivo, indicando que bons resultados podem vir no decorrer deste ano, afirmou.
“Se a gente continuar gerando o Ebitda que geramos nesse trimestre, vamos terminar o ano com uma alavancagem de 2,5 vezes”, estimou o executivo. No intervalo de janeiro a março, a alavancagem — medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda ajustado — estava em 3,7 vezes.
Enchentes no RS
Sobre os recentes problemas com enchentes no Rio Grande do Sul, o CEO descartou a possibilidade de problemas com oferta nas operações da JBS, que está presente em 20 municípios do Estado.